Novembro 2009
Última campanha
Ralph de La Cava, o grande brazilianist que escreveu sobre Juazeiro do padre Cícero,disse,ao ler "Sobral das cenas fortes" que a eleição do padre José Palhano de Sabóia para prefeito de Sobral cobriu de êxito a última campanha eleitoral da Igreja Católica do Ceará. Dotado de grande magnetismo pessoal, Palhano conquistou, primeiro,o coração do bispo que controlava,no fim da vida do voluntarioso antístite e depois de homens e mulheres da região.Criado,pelo bispo,como neto,cheio de mimos e vontades,na prefeitura brigou com todo o mundo e, por fim, hostilizou publicamente colegas sacerdotes e o bispo da cidade,sendo,por isso,excomungado, pena que somente foi levantada quando o Papa passou pelo Ceará.
A carreira poolitica de Palhano foi brilhante mas rápida. Logo apos exercer a prefeitura ,foi eleito deputado federal quando sofreu cassação do mandato e dos direitos políticos, sob acusação de malversação de dinheiros públicos,denuncia levada aos ouvidos do presidente Castelo Branco por militares da família do prefeito Cesário Barreto, ex-coordenador da campanha eleitoral do sacerdote.
Publico abaixo alguns tópicos envolvendo a fascinante personalidade de Palhano, capaz de conquistar o adversário mais renintente que se rendia a seus encantos e a seu sorrido.***
Em Sobral de minha infância e início da adolescência, o bispo,dom José Tupinambá da Frota exercia fortíssima influência sobre a cidade e a própria região. Era homem de severos costumes que tentava transmitir à Dom José Tupinambá da Frota, aluno prodígio em Roma, foi severo defensor dos bons costumes e da fé cristã. Dele se dizia que, seminarista ainda, nunca cortou as unhas em público, nem mesmo na presença da mãe e que,bispo, não gostava de sentar em cadeira antes ocupada por pessoa do sexo feminino. Não hesitava em falar das " messalinas que freqüentam nossas igrejas" para condenar damas da sociedade que pretendiam comparecer aos ofícios religiosos de vestidos decotados e sem mangas. Promoveu guerra contra a prostituição, o carnaval, o côco e tudo o que favorecesse o sexo fora do casamento.
Surpreende que, à sua sombra, residindo,com ele, no sobrado diocesano, seu "enfant gaté," Padre Palhano houvesse conquistado séria fama de Dom Juan com façanhas amorosas, cantadas em prosa e verso em jornais da capital cearense. No seu sofrido fim de vida, meu pai levava,em seu carro,o sacerdote para uma diálise. E este comentou,comovido: "Costa,eu que tive tantas mulheres,termino a vida sozinho".Minha mãe que vinha no banco de trás repreeendeu- o no ato,achando que aquelas não eram palavras de um sacerdote ao que ele pediu desculpas:"Desculpe,Maria,não me lembrei que vinhas conosco"
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Quando decidi traçar perfil deste sacerdote que foi também dom juan e líder político, minha mãe disse:"Se teu pai fosse vivo,não escreverias este livro". Procurei traçar o retrato de Palhano sem os exageros das paixões que ele suscitava. E no tocante à sua vida sexual, contive-me, registrando apenas dois episódios que tiveram repercussão histórica.Um foi quando o padre João Mendes Lirta, depois historiador, ao flagrar o favorito do bispo em alegres folguedos com Maria Cabeluda, mulher de motorista da diocese, hesitou muito,antes de transmitir ao antistite relato dos fatos presenciados. Claro que o Bispo não acreditou, como não acreditava em nada que desmerecesse o filho amado a quem transmitiu a versão do outro.
Palhano ,sabendo da influência que exercia sobre o bispo,indagou ao final da reticente narrativa episcopal:
" E Vossa Excelência Reverendíssima acreditou? Não sabe que todo Lira é doido? O Lira tem visões e quer que a gente acredite nelas"
O bispo ficou satisfeito com a explicação e foi perguntando:
"O que é que a gente faz com ele?"
Palhano,dono da situação, deu a solução:
" É interna-lo no asilo de Parangaba. Ali é o lugar de doido.""
Lira foi afastado do sobrado do bispo onde residia ,sob reprimenda do dono da casa contra quem, décadas depois, escreveria perfil cruel.
Outro namoro de Palhano e seus encontros com a amada em apartamento do Excelsior Hotel rendeu no mínimo duas manchetes do Diário do Povo, de Jader de Carvalho " que,por isso mesmo, me senti na obrigação de registrar
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Palhano era uma personalidade cativante a cujo charme não resistiam mesmo os inimigos a quem ele acusava de todos os vícios possíveis,em sua estação de radio.Quando decidiu ser candidato a deputado federal, o foi pela corrente adversária de Chico Monte, ate então sempre apoiado pelo bispo.
De Valdemar Albuquerque que era secretário prestimoso de dom José contavam as lendas que, terminada sua temporada de anos na Amazônia, juntou a família e tudo o que conseguira juntar para o futuro e tomou o barco rumo a Belém. A embarcação naufragou e ele perdeu bens e a família nas águas do rio.
Valdemar Albuquerque queria agradar dom José mas nem sempre escapava de suas cóleras. Uma noite, o bispo ficou inquieto com a demora do pe. Palhano de voltar da Serra da Meruoca. Andava dum lado pro outro, perguntando ao seminarista que, eventualmente, lhe fazia companhia: " Matuto, sabe pronde foi o pe.Zé?"
O bispo não escondia suas preocupações com a tardança do pupilo. E começou a falar, angustiado, quase desesperado , dos perigos da estrada, dos riscos de desastre, até de morte que ele corria, engendrados por seu amor de pai. Sem disto se dar conta, Valdemar foi em direção contrária à expectativa do bispo, dizendo:
" O senhor sabe que o Pe. Palhano não corre este risco porque dirige muito bem o jipe".
Exasperado, Dom José o expulsou do sobrado onde residia e ainda fechou pessoalmente a porta de casa, à sua saída . Ele ficou em casa prostrado, sem querer se alimentar, abalado com a humilhação .
Disto, o Bispo não inteirou o pupilo padre Palhano que depois de dois dias de ausência do secretário, foi procurá-lo. No leito, por mais que Palhano insistisse em saber das razões que o levaram a deixar de comparecer ao trabalho, Valdemar,a principio não quis falar nada, afirmando:
"Só Deus e o pe. Tiburcio sabem o que aconteceu comigo".
O pe.Tibúrcio estava presente à cena. Valdermar terminou voltando à rotina junto ao Bispo "
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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.