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Maio 2012

Acopiara - Nertan Holanda Gurgel. Auto retrato de um homem simples

Meu pai está fazendo 95 anos bem vividos. Quando fez 90, em 2007, escreveu: “o que é isto? São 32 mil 872 dias e 12 horas, o mesmo número de auroras (Hoje, em 2011, quando faz 95 anos, terão sido 34 mil 675 dias). Lembro o velho sítio Recanto (de seus pais Francisco Gurgel Valente e Aurélia Holanda Gurgel), o cantar do galo, orquestrado pelos pássaros silvestres, era um embalo. O cheiro de fumaça do bagaço de cana queimando na fornalha, ao iniciar a lida, o aboio do tangedor de bois ao redor do engenho.Tudo me cheirava bem. Até uma roupa de couro pendurada no cambito perto da minha rede era o perfume da jitirana das quebradas da serra. Que saudades”.

(Não imaginava viver mais do que seu pai, meu avô, Francisco, nascido em 23.08.1893 e morto em 20.07.1988, com 94 anos 11 meses e 3 dias. Quando chegou aos 94, sempre que me ligava, dizia que poderia viver mais, mas teríamos que aguardar. Seu avô, meu bisavô, Henrique Gurgel do Amaral Valente, o Vovô do Rio, nascido em Aracati, Patriarca da família Gurgel do Amaral Valente de Acopiara, onde morreu, viveu 89 anos, (1865-1954), deixando cerca de 1.600 descendentes. Hoje, é mais velho dos descendentes do Patriarca).

“Nasci em Lages, depois Afonso Pena e hoje Acopiara, em 8 de junho de 1917, numa sexta-feira às 23 horas. Meu pai, senhor de engenho, foi um dos últimos coronéis do sertão que partiram desta vida. No dia 25 de agosto de 1940, contraí matrimônio com uma moça de Tauá, filha do senhor Nelson Nunes Serra e Tereza Aragão Serra. Maria Serra, como era conhecida, foi uma grande esposa, uma boa mãe, mulher de fibra, trabalhadora e de vontade própria. Eu, comerciante pobre com fama de rico.

“Em 1939, teve início a 2ª, Guerra que terminou em 1945. Meu capital era muito pouco e o da firma constituía-se de dinheiro do papai e dinheiro a juros de Almerinda Gurgel Guilherme (tia Neném) e da sra. Felícia Holanda Guilherme. Tinha nesse tempo em minha loja (A Casa dom Bosco na Rua Marechal Deodoro, a casa dos ricos e dos pobres...) um bom estoque de tecidos, chapéus e brinquedos (vende por preço barato, fazendas, rendas e bicos). As lojas em Acopiara eram muitas.

“Foi nessa época que o barco da vida entrou em mares agitados. Ondas gigantes, vagas profundas, vento uivantes sacudiam a nau. Por pouco não fui ao fundo. Os preços dos tecidos baixaram 40% e por isso muitos foram à falência, principalmente comerciantes de tecidos em grosso e retalho. Somente passados quase dois anos, consegui aprumar a nau, entrando novamente em águas serenas.

“Aconteceu que Higino Alves Teixeira, cearense nascido em Acopiara, que negociava em Ipixuna, no Maranhã, veio de muda para Acopiara e montou uma loja vizinha à minha. Tornamo-nos amigos e até compadres. Conversa vai, conversa vem, acordamos em comprar arroz no Maranhão para vender no Ceará. Logo de início, tivemos bons lucros. Montamos uma usina de beneficiamento em Pedreiras, Maranhão. Chegamos a ter quase quatro mil sacas de arroz estocadas, parte paga e parte por pagar. Mas por conta do excesso de produção no Rio Grande do Sul, com incremento nas vendas para o Rio de Janeiro, os preços despencaram e o prejuízo foi arrasador: 300 mil cruzeiros (muito dinheiro na época).

‘O barco da vida, a nau que navegava em águas tranqüilas, mergulhou de vez em mares bravios. Por um momento não sabia se estava na proa ou na propa. Era como uma cabaça deslizando em um rio caudaloso e encachoeirado. Resolvi desistir da sociedade no Maranhão, saí de Acopiara e vim definitivamente para Fortaleza.

“A nau estava novamente em águas serenas, mas enfrentando tempestades! De início abri uma mercearia na Parquelândia. Não deu certo. Comprei um bar na Castro e Silva. Logo mudei de ramo e abri um restaurante. Depois passei para um açougue e, em seguida, para uma casa de peça para carros. Por último um depósito de material de construção, no bairro de Antonio Bezerra, que comprei do primo Henrique Gurgel de Souza.

“Em 1966, minha filha Tereza ficou noiva, contraindo matrimonio no dia 31 de dezembro do mesmo ano. Para custear as despesas do casamento, vendi o depósito. Foi nessa ocasião que passei de patrão a empregado adotando a profissão de vendedor.

‘Vendia supercal, pó de pedra e granito, minérios e calcáreos, do Sr. Amauri de Castro, tijolos furado, PM e combogós, da Cosmac de Sobral, bombas King, do Sr, Ivan de Castro, armadores de embutir do Sr. Crisanto, armadores de gancho do Sr, Zacarias, dobradiças e ferrolhos do capitão Nunes, sacos de plástico da Plastinion de São Paulo. Comecei a ganhar dinheiro. Deixei o mar das incertezas por um porto seguro. Sai do aluguel, comprei minha casa e cheguei a comprar carro zero, telefone, TV.

“Hoje viúvo, desde que Maria partiu, em 1995, vivo no meu apartamento, no Montese, recebo minha modesta aposentadoria, meus dez filhos estão melhores do que eu. Uns em Fortaleza, outros em São Paulo (SP), Niterói (RJ), Linhares e Vila Velha (ES) e Macapá (AP). Tenho 30 netos 16 bisnetos. Muitos dos netos bem encaminhados, ocupando, criando, buscando seus espaços, com competência e fazendo a diferença, o que me orgulha e agradeço a Deus por tudo. Nada tenho a reclamar, pois nada me falta. O que tenho para partir desta vida é suficiente.”.

JB Serra e Gurgel (Acopiara) jornalista e escritor, filho, com Nertan Holanda Gurgel (Acopiara), 95 anos, uma vida de lutas, desafios, decência e dignidade.r

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JB Serra e Gurgel
Jornalista e Escritor
http://www.cruiser.com.br/girias
gurgel@cruiser.com.br


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