Dezembro 2009
Os desencontros entre José de Alencar e Dom Pedro II
Muitos, da geração atual, não sabem que José de Alencar (Messejana) (1829-1877) morreu jovem, aos 48 anos, teve um grande desentendimento com o Imperador dom Pedro II.
Seu pai, José Martiniano de Alencar (Barbalha) (1794-1860), filho de Barbara de Alencar, era padre católico, mas casado com d, Ana Josefina de Alencar. Naquele tempo, muitos padres casavam, mesmo sem poder. Superadas as dificuldades políticas da Confederação do Equador (1817), em 1821, saiu da prisão para as Cortes de Lisboa, feito deputado. Após a independência voltou ao Ceará, envolveu-se em nova rebelião, foi preso, mas acabou nomeado governador do Ceará por 18 meses pelo Regente Feijó, seu amigo. Em 1832, foi eleito senador. Em 1837 estava no Rio, com o filho José de Alencar, defendendo a maioridade através do Clube da\ Maioridade, movimento para antecipar a posse de dom Pedro II, que instalou na sua casa.
José de Alencar começou seus estudos de Direito em São Paulo, nas arcadas do Largo de São Francisco, prosseguiu em Olinda e voltou a São Paulo para trabalhar como advogado.
Capistrano de Abreu (Maranguape) (1853-1927) proclamou, em 1880, três anos após a morte de José de Alencar, em 1877, que seu conterrâneo "é o primeiro vulto da literatura nacional", sendo também considerado "o patriarca da literatura brasileira".
Em 1856 publicou o primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em 1857, O Guarani em (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Estes romances foram publicados em folhetins em jornais e só depois em livros.
As desavenças pessoais de José de Alencar com dom Pedro II começaram em 1856, quando foi publicado no Rio de Janeiro o livro Confederação dos Tamoios, de Domingos Gonçalves de Magalhães, amigo do Imperador, que o editou. Com o pseudônimo de Ig, José de Alencar publicou artigo com duras críticas ao livro, escrevendo que o "indigenismo da Confederação poderia figurar em um romance árabe, chinês ou europeu".
Dom Pedro II não gostou e rebateu as críticas no Jornal do Comércio com o pseudônimo de Amigo do Poeta.
Em carta ao Conselheiro Saraiva, de 23.03.1860, dom Pedro II revelou que "fiz o plano de defesa do poema (...) eu não abandono posição de defensor e elogiador (...) não queria que Ig (se empavonasse mais descobrindo um único adversário (...) Quanto a ele (Ig), ou entra no grupo ou fica de fora...". O grupo era integrado por escritores indigenistas e nacionalistas.
Eleito, em 1861, deputado conservador pelo Ceará, José de Alencar casou em 1864 com Ana Cockrane,
Em 1868, como ministro da Justiça do Gabinete Conservador do Visconde de Itaboraí assinou a lei que proibia a venda de escravos sob pregão e sua exposição pública.
Dom Pedro II dele dizia: "é teimoso, este filho de padre".
Em 1869, eleito o mais votado com 1.185 votos na lista tríplice de candidatos ao Senado acabou preterido por dom Pedro II. Magoado, deixou o Ministério da Justiça e voltou à Câmara, ficando em oposição ao Imperador. Em 1870, no seu livro, "Historia de dom Pedro II, Heitor Lira revelou que dom Pedro II teria também dito sobre José de Alencar: "e um homem de valor porém muito mal educado". Há também a versão de que o Imperador teria afirmado que José de Alencar era muito jovem para ser senador. Certamente esquecera que o pai dele, o senador José Martiniano de Alencar, não só liderara o movimento da maioridade como forá o orador da sagração de dom Pedro II como Imperador do Brasil.
Em 1872, nasceu seu filho Mário de Alencar, o qual, segundo uma história nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho de Machado de Assis...
José de Alencar deu o troco na Guerra dos Mascates (1874) em que dom Pedro II aparece como Sebastião de Castro Caldas, fustigando os pontos vulneráveis de sua personalidade, o caráter dúbio e perplexo, a voz estridente, as pernas finas, a habitual volubilidade, a frugalidade de suas refeições, os rabiscos nas fastidiosas reuniões do Gabinete e seu bordão "já sei, já sei". Alem disso, escreveu artigo duvidando das "qualidades intelectuais de dom Pedro II”, e na Câmara fez campanha contra as viagens do Imperador ao exterior, especialmente a de 1871, classificando-a de "inoportuna", pois temia que o Visconde do Rio Branco assumisse o governo e não a princesa Isabel.
A pendenga entre José de Alencar e dom Pedro II deve ter começado por causa de Maria Francisca Nogueira da Gama que se casou em 1862 com o Visconde de Penacoa. José de Alencar e dom Pedro II disputavam Maria Francisca que integrava o grupo de moças que na juventude do Imperador lhe serviam de par em saraus na Corte junto com Maria Nogueira, Maria Francisca Gonçalves Martins e Tereza Souza Franco. Ambos perderam a moça para o Visconde. Há registro da disputa.
Dom Pedro II foi um notável e discreto conquistador, a lista é puxada pela Condessa de Barral, justamente o oposto de seu pai, dom Pedro I.
(*)JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.