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Fevereiro 2009

Vale cultura


Quando é que anos atrás podia se imaginar o governo preocupado em melhorar o acesso do povo à cultura.? Existiam outras necessidades para serem supridas. O Brasil até os anos 50 vivia na idade da pedra, principalmente nas cidades do interior.

Ainda lembro de minha infância em Ibiapina. Como a gente era pobre. Vivia-se sem o menor conforto. Não existia luz elétrica nem água encanada. A água era guardada em potes colocados nos cantos da sala e da cozinha. Banho só no rio. A privada ficava no fundo do quintal. Um buraco no chão, dentro de uma casinha de palha. A fossa era coberta com madeiras que substituíam o vaso. À noite usava-se o penico para as necessidades. O frio da Serra não animava ninguém ir lá fora na escuridão. A fumaça do fogão à lenha pintava de negro as paredes das cozinhas. O fogão a gás chegou ao Ceará pelas mãos de Edson Queiroz. Já morava em Fortaleza e cheguei a ver o povo temer.

Achava que explodia. A propaganda ajudava a mudar os hábitos:

“pergunte a quem tem um.”

Dos anos 50 pra cá o país se transformou. O satélite revolucionou as comunicações, o mundo virou uma aldeia. O progresso chegou aos lares da região mais distante. Nos últimos governos diminuiu o número de brasileiros na miséria absoluta. A classe média cresceu. Há quem acredite que o governo errou ao instituir o bolsa-família. Deu o peixe quando devia ter dado o anzol. Podia ter obrigado o cidadão a fazer um serviço comunitário. Ou ser obrigado a freqüentar um curso que o qualificasse a um futuro emprego. Tem muita gente nesse interior sem emprego, à espera do bolsa família. Outro dia, o jornalista Cláudio Humberto lembrava na coluna dele o baião do Luiz Gonzaga e Zé Dantas.

“Vozes da Seca”: “Esmola para um homem que é são/ ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

O fato é que estamos noutro Brasil. Foi preciso um operário assumir a presidência para mudar a cara do país, a vida de milhares de brasileiros. O saneamento básico chega às cidades que ganham escolas, urbanização, postos de assistência médico-hospitalar. O cidadão médio tem acesso aos bens de consumo, faltando-lhe apenas o poder aquisitivo para saciar seu desejo de acesso à cultura. A maioria das classes C e D não sabe onde encontrar cultura. Não tem acesso aos cinemas, a maioria funcionando hoje em luxuosos centros comerciais que inibem os mais humildes. O artista hoje se exibe para uma minoria de ricos. A maioria prefere viajar ao exterior.

Fiquei emocionado quando, há poucos dias, vi o cineasta e produtor cearense Luís Carlos Barreto, numa entrevista a Paulo César Pereio, no Canal Brasil, falando sobre a criação do Vale Cultura. O presidente que não é formado, não tem curso superior, possibilitando ao trabalhador acesso ao cinema, teatro, show musical e outros eventos. O Vale Cultura vai funcionar como os atuais vale-refeição, vale transporte. O projeto vai colocar no mercado cerca de 40 milhões de brasileiros que hoje não tem poder aquisitivo para saciar sua fome de cultura.

O dinheiro que vai circular beneficiará direta e indiretamente a todos os que vivem da arte. Com o Vale-Cultura na mão, o trabalhador vai comprar livros, CDs ou ingressos para cinema, teatro e shows. Vai lotar as casas de espetáculos, gerando renda para novas produções.

Nunca mais vão perguntar na rua ao ator Paulo Cesar Pereio, que saiu das novelas e hoje só faz cinema, se está aposentado. Artista vai ser parado na rua para dar autografo para ser cumprimentado pelo seu trabalho A cultura vai entrar na cabeça dessa gente com diversão e informação, mudando seu destino.

(*) Wilsom Ibiapina (Ibiapina), jornalista

 

 

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Wilson Ibiapina
Jornalista

                                            


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