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Setembro 2012

No Ceará é assim

Fiquei pasmo quando vi o comerciante agindo sem o menor interesse em faturar. A Edilma, minha mulher, foi quem perguntou ao dono do bar restaurante, um dos poucos que existiam na praia do Icaraí, em Caucaia, no inicio dos anos 80: -O que temos hoje para o almoço?

Ela que não é cearense, não quis acreditar no que ouviu como resposta:

- ‘‘Queira não. O cozinheiro faltou e quem está na cozinha é minha mulher. Ela não sabe fazer nada.”

Na mesma praia, em outro bar restaurante, presenciamos um turista paulista pedir 20 sanduíches pra viagem. O dono também desnorteou o fregues recém chegado de uma cidade que privilegia o lucro: “-Home, isso dá muito trabalho. Leve só salame. Compre o pão ali na padaria e faça sua merenda em casa”. O paulista foi embora sem entender nada.

O jornalista Macário Batista diz que ouviu do repórter Hermann Hesse história semelhante. Hesse e o cinegrafista Edilson Pires foram de Fortaleza a Jijoca, fazer uma reportagem. E é o próprio Macário quem conta: “Chegaram com o dia amanhecendo. Pararam numa bodega e viram tapioca, cuscuz,caldo, pão dormido e uma garrafa de café. E havia uma cesta de ovos. Hermann Hesse perguntou a uma senhora, que tinha cara de dona, se ela podia fritar uns ovos pra ele e o cinegrafista. Olha a resposta da mulher; “Faço nem pra mim!”

Oscar Wilde dizia que “pouca sinceridade é uma coisa perigosa, muita sinceridade é absolutamente fatal”.

Será sinceridade demais a desse povo?

Juro que não sei se esse modo de agir é preguiça, malicia, ironia ou apenas a pura verdade dita com a simplicidade do povo do sertão. O fato é que no Ceará é assim .

Pouca gente lembra que a rua 25 de março, em Fortaleza, é uma homenagem a libertação dos escravos no Ceará. Ocorreu em 1884, quatro anos antes da princesa Isabel assinar a Lei Áurea que libertou os escravos no Brasil. A data 13 de maio virou rua, também, em Fortaleza.

Acarape foi o primeiro núcleo urbano a abolir a escravidão em primeiro de janeiro de 1883. Virou Redenção. Fortaleza fez o mesmo no dia 24 de maio do mesmo ano. Há quem pense que chamam o Ceará de terra da luz por causa da intensa luminosidade do Sol. O título foi dado pelo jornalista abolicionista José do Patrocínio, em artigo que escreveu de Paris, onde se encontrava na ocasião.

Pode-se dizer que os principais líderes do movimento abolicionista no Ceará foram João Cordeiro e o jangadeiro Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde. O ex-vice-governador fundou o jornal Libertador e a Sociedade Cearense Libertadora, que apoiaram o movimento dos jangadeiros. Liderados por Chico da Matilde não deixaram sair nem desembarcar escravos no porto de Fortaleza. Chico da Matilde virou o Dragão do Mar. O Ceará quase não tinha escravos e assim foi mais fácil libertá-los.

O Brasil foi último país do continente a abolir a escravidão. A Lei Áurea não indenizou os negros que foram abandonados à própria sorte.

Barão de Sobral foi o primeiro
Procurador Geral da República

Wilson Ibiapina (*)

O Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, em evidência por causa do julgamento dos réus do mensalão, segundo ele, o “mais atrevido e escandaloso caso de corrupção e desvio de dinheiro público” da política nacional, será um dos que vão receber a Sereia de Ouro, troféu outorgado pelo Sistema Verdes Mares de Comunicação a cearenses que se destacaram durante o ano. Roberto Gurgel subsitutiu no cargo o cearense Antonio Fernando. Mas teve mais um cabeça chata no comando da Procuradoria Geral.

Foi justamente Roberto Gurgel que, a titulo de curiosidade, me disse que o primeiro Procurador Geral também era cearense. Fui atrás para saber quem era e descobri que José Júlio de Albuquerque Barros, primeiro e único barão de Sobral, nasceu na Princesa do Norte em 11 de maio de 1841. Era filho do juiz e ex-deputado provincial e João Fernandes Barros e de Luísa Amélia de Albuquerque Barros.

Foi secretário do governo dos presidentes da província do Ceará Lafayete Rodrigues Pereira e Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo.

Foi deputado à Assembléia Geral do Ceará na 13ª legislatura, de 1867 a 1870.

Foi presidente da província do Ceará, nomeado por Carta Imperial. Fuicou no governo cearense de março de 1878 até 2 de julho de 1880. Foi também presidente do Rio Grande do Sul.

Após a proclamação da república foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Ferderal. Por decreto de 3 de março de 1892 foi nomeado primeiro Procurador-Geral da República, exercendo o cargo até morrer em decorrencia de uma hérnia estrangulada.

Foi agraciado com o grau de cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa e os títulos do Conselho e de Barão de Sobral, em decreto de 19 de janeiro de 1889.

(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista, leia também no blog Conversa Piaba: http://conversapiaba.blogspot.com.br/

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Wilson Ibiapina
Jornalista

                                            


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