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Março 2013

A Casa do Ceará e os políticos cearenses


Houve tempo em que a Casa do Ceará era ponto de encontro dos políticos cearenses com mandato parlamentar no Congresso Nacional. De hábito, marcavam presença em todos os eventos promovidos pela Diretoria, inclusive os almoços mensais, cuja finalidade era reunir num gesto de confraternização os nossos representantes e os membros da comunidade cabeça chata, que também batiam ponto na instituição.

O fato de os deputados e os senadores manterem, à época, residência em Brasília muito contribuía para que se dessem esses encontros, como também o fato de a “visita às bases” ocorrer, quando muito, uma vez por mês, visto que as passagens aéreas eram custeadas pelos próprios parlamentares. Diante disso, os políticos permaneciam mais tempo na Capital, inclusive participando mais efetivamente, juntos com seus familiares, da vida da jovem cidade, no começo insípida e monótona, uma vez que Brasília, em matéria de diversão e entretenimento, pouco tinha a oferecer, além de dois cinemas – Cine Cultura e Cine Brasília, acrescidos, posteriormente, do Cine Bruni – e da apresentação esporádica de peças teatrais no palco auditório da Escola Parque. Outra opção era a fluência aos clubes à beira do Lago, nos fins de semana.

Todavia, com o advento da franquia aos parlamentares de passagem aérea semanal, de ida e volta, aos respectivos estados, à custa do erário, o relacionamento dos políticos com a Capital sofreu radical alteração. Brasília, a partir daí, passou a ser para eles mera cidade dormitório, da qual a grande maioria atualmente conhece apenas o trajeto entre o aeroporto, o edifício sede do Congresso e o hotel onde se hospeda nos três dias em que aqui permanece.

Essa situação repercutiu na vida da Casa do Ceará que deixou de contar com a prestigiosa e assídua presença dos nossos parlamentares nas suas promoções, inclusive nos almoços de fim de mês, aos sábados, com a participação de numerosos membros da comunidade cearense da Capital do País, na ocasião em que eram servidos pratos típicos da culinária cearense.

É bom lembrar que, sob inspiração do deputado Crhysantho Moreira da Rocha, a Casa do Ceará nasceu praticamente no seio da bancada cearense no Congresso Nacional. Se observarmos que dos 28 que assinaram o livro de presença na reunião de fundação da Casa, 19 exerciam mandato parlamentar. Desses, três participaram mais efetivamente, juntos com Chrysantho, da execução do projeto, cuidando da elaboração do estatuto e traçando os objetivos da instituição. Eram eles Álvaro Lins Cavalcanti, Ozires Pontes e Ernesto Gurgel Valente, deputados que participaram da primeira Diretoria.

Desde os primeiros momentos em que estiveram à frente da Casa, Chrysantho e seus companheiros adotaram uma bem sucedida política de aproximação da instituição não só com os representantes cearenses no Congresso, como também com os governantes do Estado. Adauto Bezerra, César Cals, Virgílio Távora e Lúcio Alcântara foram os governadores que mais prestigiaram com sua presença a Casa do Ceará. As esposas dos dois últimos, Eloisa Távorae Beatriz Alcântara estiveram à frente, respectivamente, da Ala Feminina e do Departamento de Cultura, ao tempo em que os maridos exerciam mandato parlamentar em Brasília. Essa salutar política de convivência com a Casa por parte dos nossos representantes foi mantida por Álvaro Lins, sucessor de Chrysantho, de quem, inclusive, partiu a iniciativa de conferir aos nossos legisladores federais o título de Sócio Honorário, independentemente do grau de relacionamento de cada qual com a Casa. Esse simpático gesto continha um simbolismo muito especial. Era a maneira muito particular de a Casa do Ceará, e através dela a comunidade cearense da Capital da República, recepcionar os conterrâneos que aqui desembarcavam pela primeira vez para o exercício do mandato parlamentar. Sucessora de Álvaro, Mary Porto manteve esse nobre gesto de conterraneidade durante todo o tempo – 18 anos – em que esteve no comando da instituição. No último ano de sua gestão – 1999 – a não justificada ausência dos agraciados ao festivo almoço durante o qual ser-lhes-ia entregue o título, Mary, decepcionada e ao mesmo tempo triste, deu por encerrado o capítulo de outorga do título de Sócio Honorário a parlamentares. Os títulos, já emitidos, foram enviados por via postal aos destinatários.

Em nossa primeira gestão, ao término do mandato de Mary, a Casa instituiu o título de Sócio Benemérito, cujo propósito era homenagear aqueles cearenses que efetiva e reconhecidamente prestaram relevantes serviços à instituição. O ex-senador e atual deputado federal Mauro Benevides, a quem muito deve a Casa do Ceará, foi o único político agraciado com o título. Os demais, não políticos, distinguidos com a honraria foram, em ordem cronológica, os jornalistas Mário Garófalo, Ari Cunha e Paulo Cabral de Araujo, cardeal José Freire Falcão, o engenheiro agrônomo Osanan Coelho e, por último, o jornalista e escritor Luciano Barreira. A outorga do título era feita a cada ano por ocasião do aniversário da Casa, 15 de outubro. Registre-se também que, em duas ocasiões, por iniciativa dos deputados distritais cearenses Chico Leite, Chico Floresta e Erika Kokay, a Câmara Legislativa do Distrito Federal se deslocou até a sede da instituição, para, em sessão extraordinária, homenagear a Casa na data do seu aniversário de fundação.

Outro fato merece citado, ligando políticos à Casa: em 1986, ano da primeira eleição em Brasília para a Câmara dos Deputados e Senado, o empresário cearense Antônio Venâncio da Silva, candidato ao Senado, solicitou a Mary permitisse afixar faixa de sua campanha no espaço interno da Casa. Ela autorizaria desde que os demais candidatos cearenses desejassem utilizar o espaço para propaganda eleitoral. À época, assessorando a Presidência do TRE, forneci a Mary a relação e o endereço dos candidatos que eu sabia cearenses: Antonio Venâncio, Edísio Gomes de Matos e Roberto Pompeu de Sousa Brasil, para o Senado. Para a Câmara, Valmir Campelo, Esaú de Carvalho, Francisco Aguiar Carneiro, José Cosmo Antunes, Geraldo Aguiar de Vasconcelos, Maria Laura Pinheiro, nomes extraídos de um universo de 68 candidatos ao Senado e 169 à Câmara dos Deputados.

(*) Jornalista e ex-presidente da Casa do Ceará.

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