Boa tarde, quinta-Feira, 21 de Novembro de 2024
Casa do Ceará

Imprima




Ouça aqui o Hino do Estado do Ceará



Instituições Parceiras


































:: Jornal Ceará em Brasília


::Odontoclínica
Untitled Document

Abril 2010

Bonn, Bonn


Na peculiar conversa em volta da mesa, de frases entrecortadas, complementadas por trejeitos, grande era a euforia, na tentativa de se entenderem os doze, enquanto aguardavam ali, em Bonn, num restaurante, que o garçom rosado e forte, lhes trouxesse o pedido, cuidadosamente escolhido no menu alemão. Lá estavam os jornalistas, a convite do governo alemão, os indianos, o boliviano, o alemão, os chineses, o homem de Omam, o jordaniano, os brasileiros, o jornalista de Bangladesh, em verdadeira algaravia, ora se ouvindo inglês e castelhano, ora em um sussurrado francês, ou versos árabes ao meu ouvido, atento ao ritmo e à cadência das palavras. Inesquecíveis momentos.

Foi quando, no desejo de fruir de tudo ao mesmo tempo, paisagem, forma, comunicação, olhei ao redor, e vi na parede branca, uma placa patinada, com uma frase e uma data. A emoção tomou-me, por inteira. Aquele lugar, eu li, Beethoven costumava freqüentar, com uma amiga, para jantar, e algumas vezes dançar.

Reportei-me àqueles tempos, aos anseios, à sofrida expectativa do gênio que a humanidade inteira venera e que a história conta ter sido infeliz nos amores, desfeiteado pelas mulheres, e sempre recusado nas suas pretensões amorosas. Comparei ontem e hoje, a pouca valia do julgamento humano, o inconstante aplauso, a vulnerável afeição.

Desoladora tristeza foram os seus últimos dias, pobre de amigos, pobre de recursos, marcados de angústia, aborrecimentos e afrontas. Abalada a saúde, e tantas as dificuldades materiais. Surdo, infeliz, amargurado, num vinte e seis de março, Beethoven morreu.

Lamentavelmente se constata que através dos tempos a humanidade tem sido ingrata àqueles que lhe ampliaram os horizontes, enlargueceram-lhe o caminho, engrandeceramlhe a história.

Mestre-escola, igualmente pobre, Schubert seguiu como o pai a profissão de lecionar, resistindo ao apelo da sua vocação que era a criação musical. Rendeu-se afinal, e se entregou inteiramente à música, compondo sem parar. Pressionado, voltou às enfadonhas tarefas de mestre-escola sem condições financeiras para possuir sua própria casa, vivendo ora com um amigo, ora com outro. Sua inspiração, contudo, nunca arrefeceu, e legou à humanidade um patrimônio de sensibilidade, nas canções e peças que compôs. Sua história, marcada de recusas, teve poucas alegrias, nos amigos que se dispersaram, nos desejos artísticos que não se realizaram.

Os editores disputavam as suas obras, mas por elas o pagamento era exíguo, por demais insignificante. Esgotado pelo trabalho, vítima das privações e incompreensões, no auge da sua força criadora, Schubert morreu aos 32 anos de idade!

Evidenciando o gênio, Mozart, muito jovem ainda percorreu em peregrinação as cortes da Europa. Conheceu a glória, o aplauso, mas a decepção sempre foi uma constante, na retribuição material sempre reduzida, apesar da apoteose com que eram recebidas as suas obras.

Paradoxalmente sofreu a dor da privação, e esgotado, chegou a alucinações, compondo a pedido, o “Réquiem” com o pressentimento de criar seu próprio canto de morte. Poucos lhe assistiram o final. Pobre foi o seu enterro, pobre o cortejo que o acompanhou ao cemitério. Terrível a tempestade de neve desabou sobre Viena, àquele dia, e o pequeno grupo que o havia levado, abandonou-o, só, sem lágrimas amigas. No dia seguinte, sem ninguém que lhe demonstrasse afeto, foi jogado o gênio da música numa vala comum, sem música, sem oração, sem piedade. Aos 35 anos de idade! Sem nenhum sinal, sem marcas no jazigo que dissesse da passagem de Mozart por este chão.

O mundo inteiro aplaude, delira, se emociona e chora, rendido à centelha divina que existia em Beethoven, Mozart, em Schumann, em Schubert.

As provações que sofreram, agora esquecidas, o desespero, a solidão, as incompreensões se debitam à incoerência, à dor da ingratidão, à fragilidade do arbítrio humano, à transitória glória, ao brilho fugaz do aplauso.

Se um gênio da humanidade teve por tumba uma vala comum, qual a consistência do julgamento humano?.

(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora.

 

Untitled Document

Regina Stella S. Quintas
Jornalista e Escritora
studartquintas@hotmail.com

                                            
:: Outras edições ::

> 2015

– Outubro
Camaleões à solta

–Setembro
Um instante de Solidariedade

> 2015

– Novembro
Coronel Chichio

– Outubro
Uma ponte...

– Setembro
Um verbo para o encantamento

Agosto
Há vida lá fora...

> 2014

Setembro
Seca: a tragédia se repete
Agosto
Seca: a tragédia se repete
Julho
Gente brava
Junho
Dia da Alegria
Maio
Precioso bem
Abril
Aquele velho “OSCAR”
Maro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Fevereiro
Recado para quem sai
Janeiro
Rota para a vida

> 2013

Dezembro
Na festa do tempo, um brinde à vida
Novembro
Em velha trova do tempo. Trinta dias tem setembro. Abril, junho, novembro...
Outubro
O Gênio e o Homem
Agosto
O Gênio e o Homem
Julho
Um presente de vida a Mandela!
Junho
Dia da Alegria
Maio
Precioso bem
Abril
Aquele velho “OSCAR”
Maro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Fevereiro
Recado para quem sai
Janeiro
Rota para a vida

> 2012

Dezembro
As lições de amor e ternura fazem eterno o Natal
Novembro
As luzes estão acesas
Outubro
Amarga ironia
Setembro
O trono vazio
Agosto
A última trincheira
Julho
Parece que foi ontem...
Junho
Atores de todos os tempos
Maio
Seca: a tragédia se repete
Abril
Imaginação ou realidade?
Maro
Um Século de Sabedoria
Fevereiro
Trágedia e Carnaval

> 2011

Novembro
Trilhas da vida
Setembro
Um mercenário a caminho
Agosto
Usar sem abusar
Julho
Como as aves do céu
Maio
Quem se lembra de Chernobil?
Junho
Sino, coração da aldeia...
Maio
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
Abril
Bonn, Bonn
Fevereiro
Depois da festa...
Janeiro
Um brinde ao Novo Ano

> 2010

Dezembro
Nos limites de um presente,um presente sem limites
Novembro
Homem total
Outubro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Setembro
Um tempo que se perdeu
Agosto
Império do Medo
Julho
Acenos de Esperança
Junho
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
Maio
Poema Impossível
Março
Numa tarde de verão
Fevereiro
Caminhos de ontem
Janeiro
Muros de Argila

> 2009

Dezembro
Um Brinde Vida
Novembro
A vez da vida
Outubro
Gente brava
Setembro
Gente brava
Agosto
Lição de vida no diálogo dos bilros
Julho
Camalees solta
Junho
Síndrome de papel carbono
Maio
Um tempo que se perdeu


:: Veja Também ::

Blog do Ayrton Rocha
Blog do Edmilson Caminha
Blog do Presidente
Humor Negro & Branco Humor
Fernando Gurgel Filho
JB Serra e Gurgel
José Colombo de Souza Filho
José Jezer de Oliveira
Luciano Barreira
Lustosa da Costa
Regina Stella
Wilson Ibiapina
















SGAN Quadra 910 Conjunto F Asa Norte | Brasília-DF | CEP 70.790-100 | Fone: 3533-3800 | Whatsapp 61 995643484
E-mail: casadoceara@casadoceara.org.br
- Copyright@ - 2006/2007 - CASA DO CEARÁ EM BRASÍLIA -