Abril 2013
Aquele velho “OSCAR”
Para persistir na tradição e manter a notoriedade, festa sempre renovada, a entrega do “OSCAR” aos que mais se destacaram na arte cinematográfica, direção, interpretação, roteiro, música, curta metragem, efeitos especiais, fotografia, figurino, se vestiu de luzes e de brilho, e envolveu de magia e sonho os expectadores, acesa a velha chama da fantasia.
Eu me lembro bem, daquele “OSCAR”, há alguns anos, e com certa nostalgia.
Os grandes astros do cinema, transformados em mito, permanecem até hoje irreais, mimetizados nos personagens que interpretaram, e perdida a própria identidade. Clark Gable, irrevogavelmente será sempre Red Butler, e Vivien Leigh jamais deixará de ser a Scarlet O’ Hara de “O vento levou...”, eternamente jovens e fascinantes, longe da tirania dos anos e a salvo da pátina do tempo.
Levados pela sétima arte acima do comum dos mortais, na história de amor, no heroísmo, na trama, no ardil que na tela viveram, não podem envelhecer, tornarem-se vulneráveis, sem o viço da juventude que lhes transmitia energia e vitalidade. Um mito. Por isso mesmo foi um impacto, no iluminado cenário do velho “Oscar”, a entrada de Jennifer Jones, inesquecível em “O Suplício de uma saudade” para a entrega do prêmio ao vencedor da noite. Nítida na lembrança, tão forte e marcante o personagem, a imagem da jovem médica eurasiana, conflitada entre a pátria e o amor, no encantamento de uma desarvorada paixão. Nos acordes de “Love is a many esplendored thing” retornou à imaginação, a esguia e doce figura da mulher chinesa, envolvida emocionalmente com um correspondente de guerra, jornalista americano, no conflito da Coréia.
Terrível carrasco, o tempo se fez presente na noite.do “Oscar”. No palco iluminado, eu me lembro, de um lado a outro atravessou uma senhora trêmula, alquebrada, visivelmente nervosa, e muito mais, escandalosamente agredida pelos anos. Da jovem chinesa, nem lembrança, da romântica doçura, nem sinal, e do arrebatamento... ah! se esboroava ali, aos olhos de todos, tristemente, um mito dos anos verdes.
Poucos dias antes, o noticiário dava conta da trajetória de Bette Davis e dos seus áureos tempos, quando pontificava em Hollywood. Na sua lenta descida, tornava-se evidente a ação devastadora dos anos, nos papeis irrelevantes que lhe foram dados na televisão e em filmes destituídos de importância. Para a sua autobiografia, recusada a publicação por seu antigo editor, teve que anunciar num jornal o seu intento! Numa fotografia dos tempos de sucesso e dos últimos tempos, contrastavam as duas Bette Davis, numa comprovação de que a vida cobra um alto preço pelo privilégio de prorrogar os dias de qualquer mortal! Principalmente para quem viveu de glórias e de aparências num mundo de fantasia, vendendo sonho e ilusão.
Se é penoso envelhecer, pelo despojamento, cada dia, das forças, da energia, do viço, há contudo uma sabedoria em aceitar a evidência, lei da vida, tributo inadiável à graça de ter sido prolongado o tempo, para usufruir de bens e de dons que nem todos receberam. Drástica a alternativa que nos impõe a vida: envelhecer ou morrer. E convenhamos que vale o tributo, sim, assistir tranqüilamente o entardecer...
Não são as rugas, retalhado o rosto, mapa riscado por sinuosas linhas, o olhar já sem o brilho de outrora e a chama se esvaindo, que tornam triste envelhecer. Doloroso é não saber se render e não aceitar a evidência, a hora exata de sair de cena. O reconhecimento natural e simples de que chegou o instante de passar a outrem o timão do barco, desempenhado o papel, concluída a tarefa.
Eternamente se renova a vida e é justo entregar as chaves aos que se acercam, plenos de vigor e arrebatamento. Resta ao cisne seu canto mais lindo...
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora