Maio 2009
Poema Impossível
Eu quis fazer um verso, contar uma história, escrever um conto ou um poema, que falasse de mãe e fosse uma homenagem. Mas, negou-se a idéia, fugiu o pensamento e não pude juntar em frases as palavras que chegaram, de amor, de bem, dizendo dela. A imaginação, antes viva e colorida, perdeu a força e a graça, ficou vazia e muda, sem cor, sem som, despida de expressão! Que pena, pensei, seria uma festa a palavra amiga superando o gesto e no Dia das Mães a gratidão em rimas, que belo presente ela receberia.
Então, busquei nas minhas lembranças o tempo de criança. Quem sabe, ali eu acharia o que dizer dela, o que falar, no segredo da menina magricela que corria, descalça, no quintal, jogando bola de gude na areia, pulando “amarelinha”. E voltei A casa grande do bisavô, a porta sempre aberta, e lá dentro a voz que era festa, presença, segurança, um quê de paz, certeza do amanhã. Vi a firmeza no gesto, a decisão, e o olhar que era ordem, aprovação, sinal de sim, sinal de não. Tinha o dom de falar, sem nada dizer, que apenas em olhar se fazia entender.
Pouco, contudo, para um presente. Muito pequena a lembrança da menina. E fui à adolescente. Talvez pudesse me ajudar. Seriam mais nítidas as impressões, mais marcantes as atitudes, os gestos, as decisões. No riso do encontro, na alegria das respostas, eu vi o retrato dela. Gozava da vida o que de bom chegava, sem medir o mal que muitas vezes vinha. Não lhe dava trela, atenção, importância, confiança. E usufruía o bem, esperando o melhor.Feita de fibra, essa a impressão, marcando o rumo certo, sabia o que queria. Cabeça erguida, a nada se dobrava, a não ser que pedisse pelo filho. Então, era terna e doce.E bondosa e meiga.Extraordinária amiga. Mais que tudo acreditava no poder da vontade, na força de querer.
Para vencer, ela dizia, basta seguir, ter fé, não recuar. Extraordinária mulher.
Mas, não era ainda o que eu queria lembrar, e dizer, naquele dia, só dela! Então, buscando inspiração, busquei os livros e li tudo sobre Mãe. Frases, versos, rimas, poesia. Discursos e Orações. Crônicas e Epístolas. Histórias e Fantasias.Trovas. Sonetos de poetas grandes e pequenos. Páginas inteiras.Num grande livro de mil folhas, que só de mãe dizia. Retrato, Acalanto, Poemas de ternura.Cantares, Elegia,Epitáfio. Só beleza achei. Encantamento. E só verdade havia. Mas, falava pouco ainda.
Faltava muito, não dizia tudo, quem foi minha mãe, minha escola, minha lição Eram fracas as palavras, não tinham aquela força que eu queria expressar. Não tinham o colorido que eu queria imprimir às frases que precisava escrever!
Falar de Mãe e dizer tudo, qual sábio, qual gênio, qual poeta? Que diga do caminho, da luz e do farol e esgote o assunto! Da estrela e guia, do esteio e da alegria. Da festa e da mensagem Da fé e do heroísmo.
Que de Mãe, para falar, livro algum existe, palavra, idéia, frase ou poesia, que diga todo bem, toda grandeza. E seja capaz o poeta ou seja capaz o artista, de dizer em versos, em letra, em música, em canção, do amor de mãe, mais puro e verdadeiro, toda verdade, o que ele é capaz, o que ele faz, e É.
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora