Maio 2013
Precioso bem
Temos a vida por um fio e nem nos damos conta! A seqüência dos dias e das noite a que nos acostumamos desde que viemos a este planeta é tamanha rotina, que não pensamos em perdê-la, nunca! O amanhecer e o anoitecer nada expressam além do sol surgir no horizonte, inundar de luz a paisagem, tornar viva e forte a silhueta das cousas, e pouco depois se esconder no poente, se esgarçando em colorido vivo, no céu, em bela despedida. Um bom-dia a alguém à nossa volta, quando muito um sorriso, completando o cumprimento, e prontos estamos para a maratona que começa.
Um privilégio, a vida!A cada manhã, começando o dia, não nos passa pela idéia que somos donos de um bem imenso, que dinheiro nenhum do mundo pode comprar, fortuna nenhuma de marajá ou rei pode se igualar! Bilionários, mais que isso! Não se pode comparar a vida a um metal que se amealha nos cofres ou a papel que se guarda nos Bancos! Na preocupação insana de correr à cata de migalhas! E esquecemos de viver.
Na ilusão de que a sucessão dos dias e das noites jamais findará, estamos sempre a esperar por uma tarde de verão para usufruir da alegria, por umas férias de inverno para ser feliz, acalentando sempre uma esperança de algo no futuro que ninguem, por mais sábio, pode garantir que virá!
Esbanjadores das horas, perdulários dos dias, malbaratamos o tempo, sem perceber que flui incessantemente, de uma fonte que se esgotará para nós, irremediavelmente! E na dissipação, na tortura de possuir e ter, o dinheiro, a jóia, o carro, a viagem, não sentimos que corre por um fio, a vida, ameaçados de perdê-la, agora e já!
Cedo, rescende da cozinha o cheiro do café, delicioso, marcando o começo do dia. Depois, o som familiar da água caindo, da torneira, do chuveiro, as gavetas se abrindo e as inveteradas perguntas se alternando, _ cadê as minhas meias? _ cadê os livros que deixei aqui?_ onde estão meus óculos? _ onde deixei meu celular? E persiste a algaravia das vozes, os vultos passando, apressados, pelo corredor, pela sala, pelos quartos, na atividade corriqueira do quotidiano.Fatos da rotina, coisas simples, banais, e tão comuns mas adoráveis. Na mesa, o pão quentinho, o suco, o café, e o primeiro diálogo do que se pretende para o dia que começa._ Gente! Vamos! E uma voz mais decisiva dá o sinal da saída.
Abre-se a porta e se ganha a rua para uma nova batalha, mas voltar, quem sabe? Aqui e ali nos espreitam os imprevistos. A hora seguinte não é nossa. Imprevisível... No caminho, uma cilada, um carro, simples bicicleta, alguém furando o sinal! Quando não, um simples degrau, pisado em falso. Sem esquecer, hoje em dia, a humanidade enlouqueceu, os seqüestros relâmpagos, os assaltos à mão armada, o ladrão tão bem vestido que lhe agarra de surpresa e com o revolver ás costas, lhe empurra para o lado e lhe toma o carro! Senão, a vida!
Tudo pode se desfazer em questão de segundos!Os planos, os anseios, os projetos, E nada mais tem acolhida, agora que se avulta o mais importante, viver! E num piscar de olhos se acaba o amigo, o chefe, o pai, o avô, a pessoa querida.
Ah! a fragilidade deste corpo de barro. Tão débil o equilíbrio desta máquina, tão fácil romper os elos, e desfeita a engrenagem ser irrevogavelmente destruída Um simples golpe de ar, e o caniço pode se render ao vento e se quedar, imóvel para sempre!
Ah! a vida! Que seja vivida intensamente! Valorizada a cada instante! Num simples detalhe da paisagem, olhos para perceber o colorido do caminho, as árvores, as flores, a natureza se oferecendo, plena! Deus foi generoso e a beleza se mostra, inteira, no flamboyant florido, no gramado que se estica, preguiçoso, no jardim, a rosa fremindo no topo de sua débil haste. No pássaro que cruzou, de repente, o céu. Numa mão amiga que se aperta e se comprova solidariedade. Ah! olhar , em silêncio, nos olhos da pessoa amada, para dizer, simplesmente: _ah! como eu te amo!
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora