Bom dia, quinta-Feira, 21 de Novembro de 2024
Casa do Ceará

Imprima




Ouça aqui o Hino do Estado do Ceará



Instituições Parceiras


































:: Jornal Ceará em Brasília


::Odontoclínica
Untitled Document

Junho 2010

Sino, coração da aldeia


“Sino, coração da aldeia
sino, coração da gente,
um, sente quando bate,
outro, bate quando sente”

De quem são os versos? _De alguém sensível e terno, certamente. Remonta aos séculos, vem de longe o ecoar dos sinos, em tempo de guerra, em tempo de paz. Como um mensageiro, auspicioso, levando e trazendo boas notícias, alvíssareiro, confraternizando, prometendo alegria. Solidário, em lentas badaladas, cadenciadas, anunciando o luto, a agonia, o fim da vida. Como uma carta aberta, sem palavras, mas em som, no alto do campanário, para a cidade ou para a aldeia, propalando a dor mais pungente, ou bimbalhando, festivo, proclamando o brado mais vibrante. E pelas praças, e pelas ruas, subindo montanhas ou descendo vales, entrando nas casas, nos albergues, nos conventos, o repicar que é apelo, clamor, convite, sinal de alerta.

As lembranças afloram. Lembro a serra dos meus amores embrulhada em névoa, Guaramiranga, linda, amanhecendo, e, subindo para a Capela da Gruta pela alameda de ciprestes, os grupos em silêncio, braços cruzados, aconchegados, que o frio enregelava os ossos. E o sino tocando, convidando, lembrando que há “um depois” desta caminhada, invisível e eterno. A missa ia começar.

Aos domingos, um Cruzeiro no Largo da Matriz, no topo da ladeira, anunciava a proximidade da igrejinha branca onde se aglomeravam homens e mulheres, jovens e velhos, o povo da Vila, aos poucos chegando, em roupa domingueira, um véu, um missal, um terço na mão, e uma fé no coração, intensa e forte. Chovesse ou fizesse sol, na missa das dez, o frade capuchinho iria falar de Cristo, de generosidade e bem, na crença de um Deus que criara o mundo em sete dias, e por bondade se apiedava deste pobre pecador, o homem, a quem prometera o Paraíso. O sino ganhava a serra inteira, entrando nas Casas Grandes, nas Casas Pequeninas fazendo o seu convite, insistindo no apelo, e, atendendo, o coração em festa, se preparavam todos, o vestido mais bonito, o sapato mais lustroso.

Depois, na casa do Coronel Chichiu, família Mattos Brito, Dona Adelaide de Queiroz pontificava a mesa de quatro metros, a toalha branca, e o café fumegante, e os biscoitinhos caseiros desmanchando na boca, os pãezinhos de minuto para os convivas, de todos os domingos. Portas e janelas abertas, as rosas no jardim, os canteiros de amor perfeito, as violetas escondidas, a conversa amena, e um a um chegando, trocando caloroso abraço.

E o sino repicando, em festa, fazendo parte do cenário e da felicidade. Esquecer, quem pode? Ali, naquela casa antiga, de pesados portões de ferro, a vida me presenteou com dias adoráveis. Ali, me vi frente a frente com os livros, M.Delly, Max Du Veuzit,”A filha do Diretor do Circo” e meu primeiro encontro com Goethe, o maior escritor alemão, por quem, fascinada, adotei, como leme, uma frase que escreveu e que guardei de cor, e que transcrevi em todos os cadernos e livros de adolescente, como um carimbo marcando uma definição.” Dá inicio a tudo quando fores capaz de fazer ou imaginar. Na audácia há gênio, força, magia.”

Dos anos verdes, ah! como são doces as lembranças, como um compromisso, uma obrigação para avivar a cor dos valiosos tempos,voltando, vou impreterivelmente á Igreja do Pequeno Grande, preciosa, arquitetura de ferro em rebuscados arabescos, o teto de ardósia, e, na nave, a impressão é que se vai pisando em terra santa, num ontem há muito tempo perdido que por milagre perdura, trancado no coração. E nesse instante se os sinos começam a repicar, o “Ângelus”, lançando o apelo á reflexão, então se dobram os joelhos, e na nave vazia, parada a respiração, é solene o momento, a criatura frente ao Criador. O’ tempora! O’moris ! Os sinos estão ameaçados e poderão

parar!”As badaladas da discórdia” proclama a notícia no jornal. Um impacto, para o pároco do Lago Sul, a reclamação ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram), contra as badaladas diárias da Igreja, pelo empresário ou doutor, morador nas cercanias de São Pedro de Alcântara. Estarrecido, o vigário conta apenas com trinta dias para uma explicação, uma defesa, e tentar um acordo pela poluição sonora, medida em decibéis! Dois minutos, apenas, a duração das badaladas, mas o senhor doutor não pode ter seu descanso interrompido! Mais fácil amordaçar os sinos!

Com a notícia, lembrei que há algum tempo, na Praça do Coração de Jesus, em Fortaleza, na Igreja dos Frades Capuchinhos, numa linda tarde de junho, os sinos badalaram mais fortes, vibrantes, e ecoaram longe, levando uma mensagem de bem, uma mensagem de fé no amanhã. Repicavam com tanta alegria quanto o meu coração que batia acelerado, a caminho do altar. Eu caminhava pela nave da Igreja, de grinalda e véu....

(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora.

 

Untitled Document

Regina Stella S. Quintas
Jornalista e Escritora
studartquintas@hotmail.com

                                            
:: Outras edições ::

> 2015

– Outubro
Camaleões à solta

–Setembro
Um instante de Solidariedade

> 2015

– Novembro
Coronel Chichio

– Outubro
Uma ponte...

– Setembro
Um verbo para o encantamento

Agosto
Há vida lá fora...

> 2014

Setembro
Seca: a tragédia se repete
Agosto
Seca: a tragédia se repete
Julho
Gente brava
Junho
Dia da Alegria
Maio
Precioso bem
Abril
Aquele velho “OSCAR”
Maro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Fevereiro
Recado para quem sai
Janeiro
Rota para a vida

> 2013

Dezembro
Na festa do tempo, um brinde à vida
Novembro
Em velha trova do tempo. Trinta dias tem setembro. Abril, junho, novembro...
Outubro
O Gênio e o Homem
Agosto
O Gênio e o Homem
Julho
Um presente de vida a Mandela!
Junho
Dia da Alegria
Maio
Precioso bem
Abril
Aquele velho “OSCAR”
Maro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Fevereiro
Recado para quem sai
Janeiro
Rota para a vida

> 2012

Dezembro
As lições de amor e ternura fazem eterno o Natal
Novembro
As luzes estão acesas
Outubro
Amarga ironia
Setembro
O trono vazio
Agosto
A última trincheira
Julho
Parece que foi ontem...
Junho
Atores de todos os tempos
Maio
Seca: a tragédia se repete
Abril
Imaginação ou realidade?
Maro
Um Século de Sabedoria
Fevereiro
Trágedia e Carnaval

> 2011

Novembro
Trilhas da vida
Setembro
Um mercenário a caminho
Agosto
Usar sem abusar
Julho
Como as aves do céu
Maio
Quem se lembra de Chernobil?
Junho
Sino, coração da aldeia...
Maio
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
Abril
Bonn, Bonn
Fevereiro
Depois da festa...
Janeiro
Um brinde ao Novo Ano

> 2010

Dezembro
Nos limites de um presente,um presente sem limites
Novembro
Homem total
Outubro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Setembro
Um tempo que se perdeu
Agosto
Império do Medo
Julho
Acenos de Esperança
Junho
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
Maio
Poema Impossível
Março
Numa tarde de verão
Fevereiro
Caminhos de ontem
Janeiro
Muros de Argila

> 2009

Dezembro
Um Brinde Vida
Novembro
A vez da vida
Outubro
Gente brava
Setembro
Gente brava
Agosto
Lição de vida no diálogo dos bilros
Julho
Camalees solta
Junho
Síndrome de papel carbono
Maio
Um tempo que se perdeu


:: Veja Também ::

Blog do Ayrton Rocha
Blog do Edmilson Caminha
Blog do Presidente
Humor Negro & Branco Humor
Fernando Gurgel Filho
JB Serra e Gurgel
José Colombo de Souza Filho
José Jezer de Oliveira
Luciano Barreira
Lustosa da Costa
Regina Stella
Wilson Ibiapina
















SGAN Quadra 910 Conjunto F Asa Norte | Brasília-DF | CEP 70.790-100 | Fone: 3533-3800 | Whatsapp 61 995643484
E-mail: casadoceara@casadoceara.org.br
- Copyright@ - 2006/2007 - CASA DO CEARÁ EM BRASÍLIA -