Agosto 2013
O Gênio e o Homem
Vendo e ouvindo falar em Einstein nos meus tempos de universidade, eu o julgava tão só como o extraordinário cientista da Relatividade, um homem cercado de números e equações, uma ilha de genialidade mudando toda a concepção do Universo. Mais parecendo um profeta, os longos cabelos brancos, desgrenhado, profundo o olhar, direto, inquiridor, ele era tão só gênio, privilegiada inteligência a perscrutar o segredo, o mistério do cosmos.
Afirmando que as descobertas de Galileu e Newton eram válidas apenas para pequenas velocidades, o espaço, curvo e finito, a menor distância entre dois pontos , uma curva e não uma reta, a luz como corpúsculos de massa que percorrem o espaço em gigantesca velocidade, ah! era demais para uma simples estudante, esticando a inteligência e procurando entender!
Einstein me parecia o ser altamente dotado que extrapolava o pensamento de qualquer mortal, e o seu universo era um fantástico espaço pululado de pequeninos sois e pequeninas estrelas, infinitésimos corpos e infinitésimas massas guardando entre si uma relação inteiramente diversa da que era visualizada pelos cientistas que lhe antecederam ou pelos demais homens1
Por acaso, ao entrar numa livraria para procurar um livro de Morris West, escritor inglês que eu adorava, lá estava Einstein, a espicaçar a minha curiosidade, na maneira só sua de ver o mundo. Decidi conhecê-lo sob um outro ângulo, e foi fascinante a descoberta.
Vi um Einstein igual a qualquer mortal, sofrido, angustiado. Buscando, questionando a vida, o homem, a sua presença neste planeta .E a refletir sobre a origem e o fim, o sentido da vida, e que força, que essência, que ser, paira acima da limitação humana e supervisiona o gigantesco universo.
Nele, senti o encantamento pela vida. E generosidade, ao afirmar que gostaria de retribuir tudo o que recebia porque não parava de receber.Pautou a vida, dizia, buscando o bem, a beleza e a verdade, ideal que perseguiu, como um objetivo. Não ousava firmar uma opinião ou um julgamento sobre alguém.
“_ Testei o homem, ele dizia, é inconsistente”. Mesmo assim exaltava a supremacia do indivíduo sobre as massas.A violência fascina os seres moralmente mais fracos. Combatia os tiranos e os despotas.
Apaixonadamente pacifista, se amargurava de ter dado o primeiro passo para a construção da bomba atômica.Convencido, porém, que ambos os blocos em que se dividia a humanidade poderiam alcança-la,entregou-se intensamente, ao seu estudo. Assumindo a responsabilidade, proclamando contudo a necessidade absoluta de extirpar a guerra, e de se bater, incansavalmente, contra a raiz do mal.
_” Minha religião, ele dizia, consiste em adoração humilde do espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber com nossos espíritos frágeis e incertos. Essa convicção profundamente emocional de um poder que se revela no incompreensível universo é a idéia que faço de Deus”.
Este o outro Einstein que aprendi a admirar.Não apenas o gênio, mas também o homem.
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora