Novembro 2013
Em velha trova do tempo. Trinta dias tem setembro. Abril, junho, novembro...
Chegamos ao fim de mais uma etapa desta jornada que nosfoi dado palmilhar, não por merecimento, pobres de nós, limitadose falhos, mas por um privilégio cuja razão desconhecemos.
Muitos contavam, como certo, romper a alvorada desteAno-Menino, brindar com os mais queridos o início do novotrajeto. No entanto, apanhados de surpresa, nem sequer tiveramtempo de contabilizar os sonhos e projetos, interrompidos peremptoriamente,que não lhes restou a possibilidade de apelar,e recorrendo, expor as razões de permanecer neste PlanetaAzul onde um dia chegaram, como nós, imbuídos do desejode felicidade e de encher as mãos de farta colheita.
Quanto a nós, por determinação, por acaso, que sabemosdestas questões transcendentes, ainda ficamos, e nos despedimosdo Ano – Velho com os olhos marejados, tanta aemoção, pelos momentos marcantes, e pela expectativa dosnovos tempos a caminho. Talvez aí o motivo de, nos primeirosinstantes do Ano Novo se chorar e rir, se brindar entre abraçose beijos, ninguém sabe ao certo, e nem confessa, o encontroou a despedida.
Para ajustar as conveniências do homem aos fenômenosnaturais, facilitar-lhe o quotidiano e o relacionamento, puraconvenção, foi criado o calendário. Levando em conta avelha obsessão da Terra de girar em volta do Astro-rei, o anoganhou 365 dias. Nessa interminável ciranda, rodopiando emtorno de si mesma, e se mostrando inteira ao sol, se alternamos dias e as noites, um dia de vinte e quatro horas. Iluminada,colorida, se expõe a Terra aos olhos dos mortais, da alvoradaao entardecer, para entrar depois, lentamente, na penumbra eno anoitecer, num jogo de sombra e luz que exalta o homeme inspira os poetas a cantar e dizer versos.
Houve uma época em que se compunha de dez meses ocalendário, e o ano começava em março, início da primavera.Acrescentaram-lhe janeiro e fevereiro.
E hoje, é assim a Trova do tempo:
“Trinta dias tem Setembro,
Abril, junho, novembro,
Vinte e oito só tem um,
Os outros têm trinta e um”
Indivisível o tempo, contudo parcelado por mera convenção,mudaram os meses, se alargaram os anos, as medidas submetidasà vontade dos que tinham o poder de ordenar. Mas a vidapermanece igual, fugaz, transitória.
Ilimitado o tempo, sem fronteiras, contudo para o homem,relativo, é ele feito de passado, de presente e de futuro. Debruça-se no passado, entedia-se no presente e projeta-se no futuro,invertendo a ordem dos valores! O passado não existe, é tempoque se perdeu!Vivo, tão só na memória e no pensamento.Ninguém sabe aonde se aquietou e em que lugar o ontem seescondeu. O futuro também não existe, é tempo ainda por vir,e ninguém sabe onde está, e nem tão pouco se virá! Resta-nosapenas o presente, real, em cada dia, em cada hora, a cadainstante. No presente você ama, você sofre, você realiza. ´Eeste instante, fugaz e transitório, o seu tempo, o meu tempo,que se escoa, que flui, e, acelerado, parte.É neste já, e nesteagora que borbulha a vida, que você pode colher a flor, que euposso cantar meu verso!
No começo deste novo caminho, de emoção e expectativa,façamos um trato, eu e você. Pelo privilégio do instante, aoPresente, todo o empenho, o melhor de nós, sem esperar pelodepois. Colhamos agora, desde já, colhamos as rosas da vida.
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora