Dezembro 2012
As lições de amor e ternura fazem eterno o Natal
Na etapa final desta jornada, poucos dias para o ano terminar, sensibilidade à tona captando e apreendendo tudo em volta, cada um se deixa envolver e questionar pelos fatos e notícias alardeadas, e ora se exalta ora se deprime, ora alegre ora triste, vulnerável à emoção e ao sentimento. Como se arrancada a couraça que durante todo o ano escondeu o coração, para não se mostrar sensível e fraco aos olhos alheios, ficasse agora a descoberto, susceptível à mais leve demonstração de sentimento e sem defesa se deixasse trair! Uma simples melodia, doce e de mais sonoridade, um verso singelo, uma canção, e os olhos ficam marejados, um nó na garganta impede a voz e corta a frase ao meio, a custo contida a emoção.
É Natal! Acendem-se as lembranças, silhuetas amigas surgem das reminiscências, e o que há de mais puro e precioso em cada um retorna, sem artifícios, sem intenção preconcebida, como se voltasse a criança de ontem, ingênua e confiante, aceitando a oferta e generosa se dando, sem espera de retribuição.
Ah!Voltam ao pensamento os sapatinhos enfileirados dos irmãos pequeninos, no longo corredor da antiga casa, a ansiedade em aguardar o Papai Noel que chegaria pela madrugada com o saco de presente às costas, a impaciência afastando o sono que não vinha! E a voz doce, vindo do quarto vizinho, pedindo silêncio, mandando calar.
A disputa, luta desigual para sobreviver e garantir o próprio espaço distanciou aquela criança doce e marcou de desenganos o coração. Aquietou-se e se escondeu a doce ingenuidade que cada qual trazia, na constatação de que não havia tão só amor e acolhida, mas que no mundo, juntos, cresciam o ódio e a ambição, as desigualdades e as injustiças
Rememorando a chegada do Menino-Deus, frágil e indefeso, num mundo hostil e agressivo, e a gigantesca responsabilidade que nos ombros lhe pesava, de imprimir à humanidade uma face nova com a sua mensagem de amor, se ajoelha, solidária, a alma da gente, trazendo de volta, a cada Natal, a criança que vive em cada um.Ante o contraste da inocência, chegando, e do Cristo, mártire do Gólgota, o homem se enternece, se comove, chora, sensível ao sino, à canção, às palavras de amor, sinceras, proferidas.
É Natal, e de novo há sons de sino bimbalhando, se acendem as luzes, há festa e alegria nas ruas, nas avenidas do mundo. Enchem-se de prendas as mãos, materializando o desejo de se dar, em prodigalidade, o coração. E dão-se as mãos, se entrelaçam, num solidário gesto de viver em paz. Busca-se a reconciliação, e se tenta o perdão. E se desanuvia o semblante tentando superar as divergências e aceitar o irmão com todas as suas limitações, assim como as próprias limitações serão também aceitas.
Por ser Natal e toda manifestação uma resposta à mensagem de amor que um dia uma frágil criança trouxe ao mundo, para se multiplicar, que não seja festa de uma noite o inesquecível dia de há 2000 anos, numa pequena cidade, Belém. Há um compromisso tácito de toda a humanidade de buscar o bem, de vivenciar os seus ensinamentos, para não ser inútil e sem valia o sacrifício e a sua presença nestas distantes paragens. Perduram a violência, a injustiça, a tirania, a degradação e o aviltamento, como se Cristo ainda não tivesse vindo, pregando uma doutrina de desapego, e apontando os lírios do campo como ponto de referência, assim como as aves do céu que não ceifam, não fiam,não recolhem em celeiros. No entanto o Pai do Céu as alimenta.
Perdura, viva, a esperança, de que fiel ao seu destino, buscará o amor, como seu objetivo maior. Por isso, é Natal!.
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora