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Abril 2009

Acopiara - Reverência aos nossos heróis anônimos


O Ceara é um Estado de situações complexas, que só os cearenses entendem

Não temos heróis, nem unanimidade sobre isso. Talvez tenhamos referências,com as quais nos identificamos, rendemos tributos e respeito. Não mais que isso. Se fossem heróis, seriam de pés de barros. Não temos cultura para suportar heróis, aturá-los, homenageá-los, carregalos nas costas. A grande verdade e que não temos saco para heróis ou anti-heróis. Museus, casas de cultura, centros culturais, monumentos e estátuas, geralmente são mal conservadas. Bibliotecas e arquivos públicos vão no mesmo caminho.

Deixem os assim considerados como nomes de cidade, bairro, rua, praça, beco, alameda, avenida, edifícios, forma simplória de serem cultuados e lembrados.

Guardemos suas contribuições. Muitos terão o reconhecimento de quase todos os cearenses. Já é alguma coisa, principalmente dos patriotas, dos caçadores de heróis.

Em Acopiara não poderia ser diferente. No imaginário de diferentes gerações temos os dois grupos de heróis.

No andar de cima, entre o clero, a nobreza, a burguesia, os “coronéis” – jamais execrados como exploradores - os descendentes de Bernardino das Lages, Antonio, João, Jose, Alfredo, Raimundo e Ernesto, povoadores, Celso de Oliveira Castro, Cazuzinha Marques, José Marques Filho, Henrique Gurgel Valente, Vovô do Rio, Quintino Cunha, Carlyle Martins, Candido Couto, Monsenhor Coelho, padres Francisco Rolim João Antonio e Crisares, Pedro Alves de Oliveira, José Alves de Oliveira, Chico Guilherme, Paulino Felix Teixeira, Chico Rufi no, Chico Sobrinho, Manuel José da Silva, Tiburcio Valeriano Soares Diniz, Miguel Galdino de Oliveira, Ezequiel Albuquerque de Macedo, João Holanda, Julio Holanda, Zezinho da Malhada, Cícero Leite, Antonio do Cedro, Edmilson Teixeira, Neneo Ricarte, Higino Teixeira, José Pereira, Emidio Calixto, Ildefonso Ferreira de Souza, Alcebíades Jácome, Derly Barreto, Renato Braga, João Uchoa, Gentil Domingues, Azarias Macedo, José Mota, Waldir Cabral Herbster;

No andar de baixo, Raimundo Hipólito da Silva, Raimundo Porca, vaqueiro e animador cultural; Afonso de Aquino, o Afonso Gogó, que foi mal tocador de sanfona, bom animador de carnavais e ótimo pedreiro; Ageu Lourenço de Almeida, o vigia noturno que foi cortador de lenha; Antonio Neves, Raimundo Sena, Cajueiro e Antonio dos Anjos, botadores d’agua; Francisco Lopes da Silva, o Peba, João Batista de Lima, Nicolau Ventura da Silva, Pernambuco, Valdivino Felix, Patinho, carreteiros; Pedro da Verdura e Francisco José de Queiroz, o Chico Come Figo, verdureiros; João Silva de Oliveira, José Alexandre da Silva, Zé Buchinho, engraxates; José Andrade de Paiva, Roseno, pedreiro e pintor; Manoel Dionisio Batista, Manoel Tapioca, vendedor de tapioca e sanfoneiro; Nominandas Bezerra de Lima, Naniname, vendedor ambulante em lombo de jumento, nos sítios, de pão a miudezas; Salatiel, José e Vicente Gerônimo de Oliveira, barbeiros; Joviano Gomes, violonista, tocador de banjo, seresteiro e carnavalesco; Neo Miranda, clarinetista.

Há mais gente querida como Raimundo Pinheiro Magalhaes, Dedé Eletricista, na Prefeitura,Telefonica e Cinemas, Cara Velha e F Faísca, também eletricistas; Jaime Venancio e Sorriso, mecânicos; Joaquim Fonfon, vendedor de ovos; Erneste carcereiro, Chico Leopoldo e Antonio Lopes,motoristas; João Cantonila, José Bil e Capuchu, pedreiros; Fransquinho Nicó, vacinador de gado; José Aristides e Bichoca, sapateiros; João Sapato,sapateiro e engraxate; Fussura e Valmir,coveiros; Mané Vei e Antonio Luiz, tiradores de goteiras; Parabela, lavador de carro; Antonio Loló ,pipoqueiro; Juazeiro, Bisouro e Eduardo Gurgel, fotógrafos; José Justino, carteiro; Zezinho da Adélia, fl andeiro; Elias Neves, padeiro; Macedo e Domingos, relojoeiros; Rivadávia e Antonio Amorim, carpinteiros; Pedro Taveira que transportava material de construção; Pissica, motorista e jogador de futebol; João Vitorino, marchante. Julio Praxedes consertava enxadas.

Entre as mulheres, D. Nenem Nogueira, parteira; Maria Petronilia Tavares de Oliveira, Maria Pretinha, lavadeira e engomadeira, andavam com suas roupas longas e brancas e correntes de rosários e medalhas; Izabel Carão, engomadeira; Lavinia Neves, jardineira da praça da Matriz; Maria Brígida da Silva, Maria de Bila, engomadeira e professora leiga. Maria Paz da Silva, Maria Viúva, teve um café e vendida frutas de porta em porta; Maria Banana Boa, vendedora de banana; Maria Feiinha, Maria Dedé, que acudia as mães no resguardo cuidando delas e do filho; Rita de Fato e Malvina, lavadeiras de fato; Geralda Badu, Francisca Antunes Ribeiro, Chiquinha Vitor, Expedita Gaga, D. Chicô e Chiquinha Silvestre rezadeiras e benzedeiras; Adelia Polda Braba, Aninha, Francisca Feitosa de Oliveira, Chica Camelo, Chiquinha Rola, e Laurinda, lavadeiras; Mariosa e Isabel Carão,engomadeiras; Nenem Felicio e Maria do Carmo, donas de café, Cristina e Leoa, donas de cabaré; Maria Breu dona do primeiro restaurante; Dezinha faxineira

Não houve nas relações sociais rompimento do equilíbrio e da estabilidade social. Não era da cultura local levar os pobres e os excluídos para o pelourinho, surrá-los, humilhá-los e agredi-los. Não tinha pelourinho, mas pudor e respeito.

A caridade era tão corrente como a exploração do trabalho assalariado. Não havia assistência social nem se sabia o que era assistencialismo. O coronelismo e o paternalismo assumiam a proteção social dos excluídos, através de instituições prosaicas como os círculos operários e os irmãos vicentinos.

Por isso é possível afirmar que nossos heróis anônimos, nos andares de cima e de baixo, eram de certa forma de pés de barro. Assim levaram suas vidas pelas ruas de Acopiara e lá descansam em paz. Só que as gerações subseqüentes optaram por homenagear o andar de cima, esquecendo-se do andar de baixo, o que precisa ser reavaliado, pois os dois grupos foram fundamentais para que existíssemos como grupo social organizado.

De minha parte, até sugiro que construamos um monumento em Acopiara com os nomes, lado a lado, dos que fizeram nossa história com o suor de seu rosto, o calo de suas mãos e a dignidade de seus corações. Seria o Obelisco do Povo de Acopiara.    

(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor, com a colaboração de Luzia Adaíza F. A. Silva e Rivanda Teixeira.

 

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JB Serra e Gurgel
Jornalista e Escritor
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gurgel@cruiser.com.br


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