Junho 2010
Um cearense acima de qualquer suspeita
O marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (Messejana) era um homem simples. Fez brilhante carreira militar. Entrou para a História pela porta da frente, pelas transformações econômicas e sociais que promoveu no país.
Fugiu ao padrão do militar brasileiro, de épocas passadas, quadradão e prepotente.
Era suave nos gestos mas resoluto. Era homem de leitura, fino gosto e fino trato. Conhecia vinhos. Educado. Civilizado.
Exerceu importantes comandos. Chegou a general de brigada, depois de combater na 2ª. Guerra Mundial, na Italia. Seu ex-chefe na FEB, marechal Mascarenhas de Moraes, o levou para trabalhar consigo no Estado Maior das Forças Armadas, o EMFA, como representante do Exercito. De lá foi para a Escola Superior de Guerra, a Sorbone da Praia Vermelha, como professor de Estratégia, dali saindo para o Comando do IV Exercito, no Recife, e depois para o Estado Maior do Exército, no Rio de Janeiro, de onde foi escolhido por seus eleitores da Junta Militar para a Presidência da República, em 1964. No EMFA, chamou para trabalhar consigo o então sargento Osvaldo Quinsan, que o acompanhou e que teve papel relevante no seu governo na Direção da Fazenda Nacional e ao reequipar a Casa do Moeda o que permitiu ao Brasil imprimir seu papel moeda.
Os altos comandos lhe deram liderança sobre seus pares que foram descobrindo novos valores.
Jamais renegou sua condição de cearense, estampada em seu porte diminuto, cabeça grande e chata, orelhas de abano, o que lhe custaram apodos desagradáveis de Quasímodo, Tamanco e Sataruga, pronunciados intramuros pelos invejosos.
Austero na vida publica e privada, não há notícias de exageros. Não teve fortuna.Vivia modestamente.
Julgava-se um intelectual. Falava e escrevia em francês, estivera a França e lá estudara. Conhecia a obra de Machado de Assis e José de Alencar, de quem era parente. Um amigo certa vez foi surpreendido no Planalto por ele que lhe desejava que visse uma edição histórica de Dom Casmurro.
Reservado jamais, permitiu que alguém colocasse a mão no seu ombro, batesse na sua barriga ou lhe cutucasse. Homem de pouquíssimos amigos, entre eles o marechal Ademar de Queiroz e general Alfredo Malan. Queiroz lhe indicou os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva para trabalhar consigo, como chefe do Gabinete Militar e chefe do SNI. Malan, tido como seu principal amigo, teve a desventura de enfrentar o acidente do seu filho, 2º tenente da Aeronáutica, que colidiu seu caça a jato com o teco teco de Castelo, matando-o.
Luis Viana Filho, acadêmico bahiano, que foi chefe do Gabinete Civil, e escreveu densa biografia sobre Castelo, não era seu amigo. Chegou ao ministério por indicação de Bilac Pinto, que imaginava que Luiz Viana Filho, junto com seus amigos bahianos, Adonias Filho e Jorge Amado,pudessem colocar Castelo na Academia Brasileira de Letras, na cota dos exponenciais. Castelo tinha um sonho: chegar a ABL; Contou com o apoio da cearense de Rachel de Queiroz (Quixadá). Se Castelo nunca escrevera um livro, outros exponenciais, como Getulio Vargas e JK, também não escreveram. Alias a lista de acadêmicos sem livros é grande e oculta. A Academia optou por premiar o general Lira Tavares, também na cota dos exponenciais, por suas simplórias produções literárias.
Consta que antes do acidente, depois de uma longa viuvez, estaria para se casar de novo com uma moça do SNI, que conhecera. Uma virtude, era namorador.
Em 1964, quando os brasilienses imaginaram que o Rio de Janeiro voltaria a ser Capital da República, com o Palacio Laranjeiras, a pleno vapor, Castelo manteve o ritmo de desenvolvimento de Brasília, no que foi acompanhado pelos presidentes militares.
JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.