Setembro 2015
Por uma claraboia no meio do Salão Nobre do Palácio da Abolição
A História do Ceará não é bem conhecida dos cearenses e
está mal retratada no link Historia do Ceará no site do Governo
do Ceará .
Quando estudei no Ceará até os 20 anos não me recordo de ter
ouvido falar da História do Ceará nos cursos primário, ginasial
e clássico. Não sei se isso mudou, já que a indigência da nossa
escola continua. Quem não conhece o passado não entenderá o
presente e será sombria a perspectiva de futuro
De 1531 a 1556, a capitania do Ceará foi entregue Antonio
Cardoso de Barros, donatário que não tomou posse.
De 1603 a 1621, três capitães mores governaram o Ceará. De
Martim Soares Moreno já se ouviu falar.
De 1621 a 1655, a capitania do Ceará foi subordinada a do
Maranhão; 34 anos de abandono.
De 1659 a 1799,a capitania do Ceará passou a ser subordinada
a de Pernambuco. Foram 140 anos de abandono. Que fizeram do
Ceará um imenso deserto de homens e ideias. Uma terra inculta,
um paraíso perdido, sem elo com o Reino , sendo a vila dos confins
da Colônia. Era o inferno da pedra, no semiárido com relevo
de depressões, maciços, caatingas arbustiva e floresta espinhosas
. Sem gado, minas e cana de açúcar.
De 1799 a 1824,o Ceará teve Governadores autônomos,
começando por .Bernardo Manoel de Vasconcelos que ficou no
cargo de 1799 a 1802.Instalou a Junta da Fazenda para arrecadar
mais tributos, construiu a alfândega de Fortaleza e de Aracati ,
criou casas de inspeção de algodão, abriu estradas para o interior,
reformulou o quartel da tropa de linha, levantou baterias no Mucuripe,
reedificou as vilas indígenas de Arronches (Parangaba),
Soure (Caucaia) e Messejana implantou as vilas de Russas e
Tauá em 1801.
Com a Independencia e inauguração do Império, a Província
enfrentou turbulências.
De 1912 a 1820, Manuel Ignacio e Sampaio e Pina , conhecido
como Governador Sampaio, administrou a capitania .
Trouxe para auxiliá-lo o engenheiro português Antônio da
Silva Paulet, que elaborou o primeiro plano urbanístico de
Fortaleza e projetou a reconstrução do forte de Nossa Senhora
da Assunção. Em 1812, Sampaio instalou correios, construiu
mercado público em Fortaleza e espalhou alfândegas em
Granja, Sobral e Crato.
Em 1817, com o Governador Sampaio no poder, Barbara
de Alencar, mais os filhos Carlos Jose dos Santos , padre
José Martiniano Pereira de Alencar e Tristão Gonçalves de
Alencar Araripe e o tio Leonel Pereira de Alencar, aderiram
à Revolução Penambucana e chegaram a proclamar a
República no Crato.
Cesar Maia, ex-prefeito do Rio, um dia escreveu no seu
ex-blog: “ Em 2010, cumpriram-se os 250 anos do nascimento
da primeira mulher presidente no Brasil, Bárbara de Alencar.
Ela nasceu em Exu (PE), em 1760. Mudou-se para o Crato
(CE) depois do casamento, em 1782, com José Gonçalves dos
Santos, comerciante de tecidos naquela vila, com quem teve
quatro filhos. Foi a primeira mulher a se envolver, para valer,
em política no Brasil -durante a revolução pernambucana de
1817, com vistas à independência e à República. O Ceará e
outras províncias limítrofes aderiram -no Ceará, especialmente
na região do Cariri.
Bárbara de Alencar liderou esse movimento no Crato,
ampliando a revolução em Pernambuco. Ela declara a independência
e proclama a República do Crato, assumindo a
presidência. Com a derrota em Pernambuco, a rebeldia nas
demais províncias foi sendo desmontada pelas forças do Conde
dos Arcos, governador da Bahia, a mando de dom João 6º.
Bárbara foi presa em Fortaleza. Por quatro anos, foi mantida
presa em Fortaleza, Recife e Salvador. Ganha a liberdade no
ato de anistia geral de novembro de 1821”.
A Historia do Ceará esqueceu Barbara de Alencar e sua
casa no Crato, ao lado da Catedral, foi demolida, como atestado
do desprezo do Ceará por sua História.
O Ceará se livrara da dependência de Pernambuco, em 1799,
mas a influencia pernambucana sempre foi efetiva na região do
Cariri onde do lado da Chapada do Aaripe, no Ceará ,ficam Crato,
Barbalha, Juazeiro do Norte, Araripe, Salitre, Penaforte e Jardim
e de outro lado, em Pernambuco, Araripina, Exu, São José do
Belmonte e Salgueiro. .Esta influencia econômica, financeira,
social , politica e cultural permaneceu até a metade do século
XX, quando o Ceará incorporou o Cariri às suas fronteiras. O s
cearenses do Cariri estudavam no Recife, ouviam as rádios, liam
os jornais e viam tevês locais.O caminho para Salvador, Rio e
São Paulo passava por Recife.
Em 1824, teve uma Junta governativa presidida por Francisco
Pinheiro Landim, de família conhecida neste território, que
entregou , de 19 a 29 de abril, a Presidência da Provincia Pedro
José da Costa Barros, de Aracati, que fora deputado nas cortes de
Lisboa, . NO mesmo ano, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe,
com mandato da Confederaçao do Equador, assumiu o poder.mas
logo renunciou e entregando de novo a Costa Barros que ficou
o cargo , de 18 de dezembro de 1824 a 13 de janeiro de 1825.
Em 1824, a Confederação do Equador, liderada por Frei
Caneca, teve apoio no Ceará nas cidades de Crato, Icó e Quixeramobim.
Barbara de Alencar e seus três filhos envolveram.
Em 26 de agosto foi declarada a República do Ceará e designado
presidente Tristão de Alencar.. A repressão das forças imperiais
culminou com a sua prisão e a morte de dois de seus filhos:
Tristão e Carlos.
O padre José Martiniano Pereira de Alencar sobreviveu e,
mais tarde, foi nomeado deputado às cortes de Lisboa, de 1830
a 1833, depois foi senador no Rio de Janeiro e presidente da
Província do Ceará de 6.10.1834 a 25.11.1837 e de 20.10.1840 a 06.04.1841.
(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.