Outubro 2010
Como o Brasil começou a fabricar seu papel moeda
A Casa da Moeda foi fundada em Salvador, em 08.05.1694,
no Brasil Colônia, para cunhar moedas coloniais, que pudessem
substituir as estrangeiras que aqui circulavam livremente. Em
1695, foram cunhadas as primeiras moedas oficiais, de 1.000,
2.000 e 4.000 mil réis, em ouro, e de 20, 40, 80, 320, e 640 reais,
em prata, que ficaram na História como a “série das patacas”.
Quase 150 anos depois, em 1843, a Casa da Moeda usando
técnica de “intaglio” imprimiu o selo que entrou para a História
da filatelia brasileira, “Olho de Boi”, fazendo do Brasil, depois
da Inglaterra e Suiça, o 3º emissor de selo postal do mundo.
Transferida para o Rio de Janeiro, em 1868, a Casa da Moeda
ganhou modernas instalações na Praça da República, no Campo
de Santana, produzindo moedas, selos e estampilhas.
No governo Castello Branco, em 1964, a Casa da Moeda
subordinada à Direção Geral da Fazenda Nacional, dirigida
por Oswaldo Quinsan, que trabalhara com o general no Estado
Maior das Forças Armadas-EMFA. Castello não nomeara o
ministro Octavio Gouvea de Bulhões para a Fazenda. Quinsan
tinha projeto de modernizar a Fazenda (Receita) e fazer com
que a Casa da Moeda fosse reequipada e passasse a imprimir
o papel moeda, antes comprado às grandes fornecedoras
mundiais, Thomas de La Rue e American Bank Note, que
tinham lobistas no Rio de Janeiro a seu serviço, instalados
nas imediações do Palácio da Fazenda.
Quinsan, que despachava e prestava conta de seus atos a
Castello, usou fortes argumentos para reequipar a Casa da Moeda.
Lembrou que na 2ª. Guerra mundial os alemães inundaram
a Inglaterra com milhões de notas falsas de libra esterlina. A
solução adotada pelo governo inglês foi de autenticar as notas
verdadeiras e destruir as falsas. Um trabalhão. Os alemães já se
preparavam para inundar a França de francos falsos e espalhar
dólares falsos pelo mundo quando a Guerra acabou. Sensibilizou
Castello que estava na hora de o Brasil produzir seu próprio
papel moeda e terminar a dependência externa, ampliando
o papel da Casa da Moeda que era restrito. Acentuou que a
mudança do padrão monetário de cruzeiro para cruzeiro novo,
efetuada por Bulhões, custara muito caro e ampliara os ganhos
das multinacionais e dos lobistas. Alem do que o Brasil era dos
poucos países com mais de 20 milhões de habitantes que não
imprimia o seu dinheiro.
Castello deu todo apoio e mandou tocar. Um Grupo de
Trabalho foi criado, presidido pelo comandante Nelson de Almeida
Brum, indicado pela Marinha, para elaborar o projeto
de lei, enviado ao Congresso e aprovado por unanimidade,
No dia em que a lei foi sancionada, morreu Valentim Bouças,
considerado um dos maiores lobistas das duas fornecedoras
do papel moeda ao Brasil.
Do GT participaram representantes da PGFN, Fazenda
Naciona e Bacen.
Quinsan incluiu no GT o então major Wilberto Luis Lima,
do Conselho de Segurança Nacional, que chegaria a general de
Exército e a ministro do STJ, para evitar que o ministro Bulhões
travasse o projeto. O lobby jogava pesado.
A licitação da compra da maquinaria da Casa foi inicialmente
vencida por uma empresa americana. O ministro Bulhões avocou
o processo e anulou.Nova licitação e nova vitória da mesma
empresa. Nova anulação. A 3ª.
Licitação foi vencida por uma empresa italiana chamada
Gioia, bem defendida por neolobistas.
A modernização da Casa da Moeda, iniciada em 1964, se
estendeu a 1969.
Em 1984, ganharia o parque de 500.000 metros quadrados,
no Distrito Industrial de Santa Cruz, que permitiu ao Brasil
produzir e exportar dinheiro para outros países. A velha Casa
da Moeda, no Campo de Santana, foi cedida ao Arquivo Nacional
que ali se instalou.
Quinsan acredita que desempenhou bem a missão na
Fazenda Nacional e na Casa da Moeda que lhe confiou o
Presidente Castello. Reconhece que nesta ação criou inimigos
e adversários, “mas nada que alterasse meu objetivo de
fortalecer a Casa da Moeda, colocar o Brasil no rol de países
que fabricavam o seu dinheiro”.
Infelizmente, pelos desenganos da vida, a Casa da Moeda
foi incluída no “mensalão”, da estrela vermelha pois os tentáculos
dos corruptos lá se instalaram, manchando sua História de credibilidade e respeito.
JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.