Outubro 2015
Um cavaleiro andante que caminhou entre aforismos e citações
Osvaldo Quinsan nasceu em Caçapava, no interior de São
Paulo, em 1920, de uma família de três irmãos, Gilberto e Hildo,
que são tenentes reformados do Exército, foram combatentes da
FEB, e Ítalo, suboficial da Aeronáutica que por 15 anos chefiou o
tráfego aéreo de Belo Horizonte, e uma irmã, Leuza, “pra que não
que houvesse lobisomem na Simples, audaz, refinado, austero,
culto, mordaz, agnóstico, tem bom gosto, aos 95 tem nos amigos
a referência. Fala do passado com reverência, do presente com
indignação e do futuro com esperanças e sem ressentimentos.
Aos 10 anos (1930), encarou o trabalho infantil como marceneiro,
com seu pai.
Aos 17 anos (1937), era marceneiro, analfabeto e andava de
pés descalços.
Aos 21 anos (1941) deixou de ser marceneiro, foi convocado
pelo Exército, começou a usar botas.
Aos 22 anos (1942), deixou o VI Regimento de Infantaria de
Caçapava e foi pro Rio de Janeiro, para servir como datilógrafo
no Estado Maior do Exército. Por saber datilografia, não foi pra
Força Expedicionária Brasileira, FEB, que lutou na II Guerra
Mundial, na Itália. No Rio, morou algum tempo na Rua Larga,
hoje Marechal Floriano, próximo do QG do Exército, e depois na
Ladeira da Glória, próximo do edifício onde morou o embaixador
Gilberto Amado.
Aos 26 anos (1946), passou a trabalhar no Estado Maior das
Forças Armadas – EMFA que estava se estruturando e onde ficou
por três anos.
Aos 29 anos (1949) já como 2º sargento do Exército deu baixa
e foi nomeado tesoureiro do Ministério da Fazenda pelo Presidente
Dutra.
Aos 30 anos (1950) ingressou na Escola Nacional de Administração
Pública-ENAP, do antigo Departamento Administrativo
do Serviço Público-DASP, ambos fundados por Simões Lopes.
Aos 35 anos (1955) , concluiu o Curso Superior de Administração
Pública, na Escola Nacional de Administração Pública-ENAP,
Aos 36 (1956) anos, tornou-se professor da ANAP, onde
ficou até 1961.
Aos 42 anos (1962), fez o Curso Superior de Guerra, como
civil, na Escola Superior de Guerra, templo dos oficiais superiores
das Forças Armadas e da elite civil.
Aos 44 anos (1964), foi nomeado Diretor Geral do Ministério
da Fazenda, e substituto eventual do Ministro da
Fazenda pelo Presidente Castello Branco, que conheceu
no EME. Coube-lhe propor o reaparelhamento da Casa da
Moeda Brasil importava seu papel moeda da American Bank
Note e da Thomas de La Rue. Seu projeto de Cr$ 45 bilhões
foi aprovado pelo Congresso e sancionado pelo Presidente
Castelo, que rejeitou os vetos do ministro Otávio Gouvea de
Bulhões, contrário à proposta. Neste ano, tudo fez para que
a estimativa de receita federal de Cr$ 1 trilhão e 400 bilhões
fosse superada. Nem o Ministro acreditava. Informou ao FMI
que seria de 2 trilhões, mas chegou aos Cr$ 2 trilhões e 470
bilhões!
Aos 47 anos, (1967) foi vice presidente do Conselho Superior
das Caixas Econômicas Federais, no Rio de Janeiro.
Aos 48 anos (1968) seu cargo de tesoureiro passou a fiel
da Receita Federal.
Aos 50 anos (1970) foi chefe do setor de Informações da
Divisão de Segurança e Informações da Petrobras, no Rio de
Janeiro. O general Geisel era o presidente da Petrobrás e o
conhecia pois foi o Chefe do Gabinete Militar do Presidente
Castello Branco.
Aos 54 anos (1974) chegou a Brasília no governo do Presidente
Geisel, como Adjunto de Imprensa da Secretaria de
Imprensa da Presidência da República, dirigida por Humberto
Barreto, engajado no projeto político de Geisel da abertura
lenta e gradual, escrevendo diariamente o editorial de A Voz
do Brasil, no ar entre 19 e 20 horas. Coube lhe atender os
jornalistas credenciados na PR.
Aos 60 anos (1980) voltou a Petrobras, em Brasília.
Aos 62 anos (1982), foi colaborador, a leite de pato, da sucursal
a Folha de São Paulo, em Brasília, graças a amizade com o chefe
da Sucursal, jornalista Rui Lopes. Produzia notas para o Painel e
colaborava com o artigo de fundo de Rui.
Aos 65 anos (1985) aposentou, dedicando-se desde então na
104 Sul aos poucos amigos, à pintura geométrica e simétrica em
cores vivas (azul, verde e vermelha), aos pássaros e aos filhos.
Leu todos os clássicos franceses, italianos, ingleses, portugueses
e brasileiros, poucos alemães e norte-americanos.
Como erudito, tem raiva da burrice, da ignorância e da estupidez
humana.
Conhece a obra dos principais filósofos, pensadores e humanistas,
como Erasmo de Roterdã (1466-1536) Montaigne
(1533-1592) Baruch Spinoza, de Amsterdã (1632-1667),
Voltaire (1694-1778), Kant (1724-1804), Hegel (1770-1831),
Schopenhauer,(1788-1860), Disraeli (1804-1881). Todos,
menos Schopenhauer com seus 213 aforismos e citações,
eram metafísicos.
Não perdeu tempo lendo Marx, Engels, Lenin, Stalin, Mão,
Castro e Lula. Leu toda a obra de Eça de Queiroz que considera
o maior escritor da Língua portuguesa, quilômetros a frente
do Prêmio Nobel português, José Saramago.
Conta que Disraeli, intelectual e político inglês, escreveu
um livro que teve uma tiragem espantosa de 30 mil exemplares,
em Londres, o que levou Ramalho Ortigão a dizer a
Eça, com quem publicou o Conde da Rua da Palha, que era
complicado pois tanto ele como Eça publicavam livros em
Lisboa e vendiam apenas mil exemplares. Eça lhe tranquilizou:
“ Ramalho, se quer vender mais livros, torne-se Primeiro
Ministro da Inglaterra”...
É o homem das frases contundentes; Recordou um delas,
de Wagner Estelita Campos, da ENAP e do DASP : “a melhor maneira de resolver um problema é agravá-lo”.
(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.