O Juiz E A Advogada
Um juiz e uma advogada resolvem se separar, mantendo
a discussão em alto nível, como convém a duas
pessoas de fina estirpe.
ESPOSA:
- Eu não aguento mais essa sua inércia. Eu estou carente,
carente de ação, entende?
JUIZ:
- Carente de ação? Ora, você sabe muito bem que,
para sair da Inércia, o Juízo precisa ser provocado e você
não me provoca, há anos. Já eu dificilmente inicio um
processo sem que haja contestação.
ESPOSA:
- Claro, você preferia que o processo corresse à revelia.
Mas não adianta, tem que haver o exame das preliminares,
antes de entrar no mérito. E mais, com você o rito é sempre
sumaríssimo, isso quando a lide não fica pendente...
Daí é que a execução fica frustrada.
JUIZ:
- Calma aí, agora você está apelando. Eu já disse que
não quero acordar o apenso, no quarto ao lado. Já é muito
difícil colocá-lo para dormir. Quanto ao rito sumaríssimo,
é que eu prezo a economia processual e detesto a
morosidade. Além disso, às vezes até uma cautelar pode
ser satisfativa.
ESPOSA:
- Sim, mas pra isso é preciso que se usem alguns recursos
especiais. Teus recursos são sempre desertos, por
absoluta ausência de preparo.
JUIZ:
- Ah, mas quando eu tento manejar o recurso extraordinário
você sempre nega seguimento. Fala dos meus
recursos, mas impugna todas as minhas tentativas de inovação
processual. Isso quando não embarga a execução.
Mas existia um fundo de verdade nos argumentos
da Advogada. E o Juiz só se recusava a aceitar a culpa
exclusiva pela crise do relacionamento. Por isso, complementou:
JUIZ:
- Acho que o pedido procede, em parte, pois pelo que
vejo existem culpas concorrentes. Já que ambos somos
sucumbentes vamos nos dar por reciprocamente quitados
e compor amigavelmente o litígio.
ESPOSA:
- Não posso. Agora existem terceiros interessados. E
já houve a preclusão consumativa.
JUIZ:
- Meu Deus! Mas de minha parte não havia sequer
suspeição!
ESPOSA:
- Sim. Há muito que sua cognição não é exauriente.
Aliás, nossa relação está extinta. Só vim pegar o apenso
em carga e fazer remessa para a casa da minha mãe.
E ao ver a mulher bater a porta atrás de si, Dr. Juílson
fica tentando compreender tudo o que havia acontecido.
Após deliberar por alguns minutos, chegou a uma triste
conclusão:
JUIZ:
- É.. e eu é quem vou ter que pagar as custas...”