Janeiro 2011
Até o Catarina Marejou
Passava das 22:30 horas de uma noite chuvosa de maio
do ano de 1976. Os estagiários da ADESG tinham sido
dispensados mais cedo de uma palestra do V ciclo no
Auditório do T.C.U.
Sempre que havia tempo, vários adesguianos, aproveitavam
o fim de noite e se dirigiam para a churrascaria do
Toy Clube, nas vizinhanças do Clube Monte Libano. Muita
conversa jogada fora, uma cervejinha gelada da CERPA
(como éramos roubadas pela antárctica) boa pinga e uma
carne maturada especialmente preparada pelo Aguirre, o
praguejador Ítalo - Argentino, torcedor do Boca - Junior.
Eram presenças assíduas, João Madeira (Polícia Federal)
Francisco Luz (Banco econômico), José Roberto (Banco
Central) Raimundo Teles (Ministério da Saúde), Antonio
Sergio (SHIS) Moacir Roberto Lima (Ministério do Transporte)
Jorge Vieira (Ceplac) Pedro Henrique Antero (Ministério
da Justiça) Lucio Gomide (Caesb) Alfredo Burgos
(Jumbo) e lá alguma vez o próprio general Lamarão Delegado
da ADESG em Brasília e o mais assíduo freqüentador,
o Delegado de polícia e Advogado pioneiro Jorge Pelles.
Com o passar do tempo o grupo aumentava e naquela
noite a colega Beatriz do Ministério da Educação, manifestava
interesse em comparecer, marcando assim a presença
no que já se chamava Acardia livre das amarras regimentais.
Nosso amigo, Alma Grande deu carona a colega destemida
tendo antes passado na Super Quadra 201 Sul para avisar
aos familiares que iria voltar tarde.
O Fusquinha 76 retornou o caminho da Esplanada dos
Ministérios fazendo a passagem pelo Museu da Praça dos
3 poderes.
Começava a chover. Havia pouca luz na noite criando
um clima de penumbra onde os prédios riscaram figuras
fantasmagóricas. O 28 quase todo apagado como também
o Supremo Tribunal de Justiça e em vanguarda a velha
sentada de olhos vendados e na certa surda e muda nos
tempos de chumbo.
Em frente ao Museu, os ocupantes do fusca depararam
com um caminhão Caçamba, truncado, basculante, Mercedes
Bens carregado de areia lavada da empresa Tabira.
De lá do Palácio do Planalto vinha caminhando um
soldado com fuzil.
Na época a guarda presidencial era formada pelos recrutas
do Estado de Santa Catarina agrupados no Batalhão
da guarda.
Tal fato chamou a atenção do Alma Grande que manobrou
e estacionou também na frente do veiculo, rente ao
meio fio.
Uma chuva fina teimava em garoar sobre a praça dos
3 poderes.
Com bastante cautela o Catarina se aproxima do caminhão.
Dentro da cabine além do motorista um senhor de
capa e chapéu de massa. A radio do caminhão ligado num
programa noturno de fim de noite com músicas sertanejas
voltadas para a Amazônia e o nordeste.
O locutor anunciava: E agora vamos ouvir a música
do cantor Silvinho. “ Nesta noite eu queria que o mundo
acabasse “
Uma cena inusitada, a música no silencio da noite, era
um pranto, um hino de dor.
O Catarina mareja, o motorista do caminhão soluça e o
Alma Grande vê o vulto do criador de Brasília e a Beatriz
clama: é o presidente gente! É o presidente !
Noquinha o motorista do caminhão liga o motor turbinado
e acelera mas sai lentamente contornando o 28 e indo
pra as cercanias da rodoviária.
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O Presidente Juscelino faleceu em agosto do mesmo ano
em um desastre na via Dutra.