Fevereiro 2009
Rompimento Ideológico
Conta o Queiroz, que quando esteve preso no “Esmeraldino Bandeira”, lá por 1976, fez amizade com um operário oriundo do M.E.P. Era um sujeito Inteligente e engraçado. Certa vez o Queiroz perguntou ao proleta as razões que determinaram o rompimento com seu grupo e ouviu uma explicação muito convincente. Procuro aqui reproduzir o diálogo entre os dois presos políticos:
Queiroz, que na vida presidiária era conhecido por Ceará dirigiuse ao operário:
- Afinal você diz que rompeu com o MEP mas nunca explicou claramente os motivos que o levaram a tal atitude...
- Ceará, responde o proletário com a cara mais séria deste mundo, percebi a manobra daqueles caras, o MEP, um grupamento de proposta ultraradical como tantos outros desses grupos, não passava de um grupinho pequeno burguês, que na realidade explorava do modo mais mesquinho a classe operária!
- Como assim, volveu Ceará, como eles podiam explorar a classe operária se nem sequer eram patrões?
- Fácil de entender, imagine que eu pertencia a um grupo de uns 10 caras, eram nove profissionais liberais, tinha engenheiro, advogado, professor, executivo de empresa e até um cineasta!
- Mesmo assim, como eles exploravam os trabalhadores?
- Certa vez, nós nos reunimos para discutir a forma de como conduzir um nosso documento ultra clandestino, foi uma discussão demorada, pois papel “caísse” ia ser o fim! A questão era onde e como conduzir tal papel com absoluta segurança. Foi quando um daqueles revolucionários “boa pinta” teve uma idéia que logo classificou de genial. A coisa parecia simples e seu autor explicou: faz-se um canudo envolto em papel plástico e o responsável por sua condução enfia no ânus, Pode assim conduzi-lo seguramente, fácil, não?
- E quem foi o escolhido para a “tarefa”? – indagou o Ceará. - Velho, foi só que deu... um dos caras voltou-se para mim e disse: “o homem é você, o representante da classe operária na nossa organização... Aceita ou não aceita?
- Fiquei muito puto! Berrei na cara dos nove, pois todos estavam aplaudindo a minha escolha – vocês são uns revolucionários de merda, o discurso é o mais radical deste mundo, mas na hora de “amarrar o sino no rabo do gato” só serve um legítimo proletário, um operário metalúrgico como eu, NE? Pois fiquem-se lá com o MEP que eu vou caindo foram vocês querem é meter no cu da classe operária, é isso que vocês querem!”
Torcidas Aladas
Meu genro, Gilvando, não é um técnico em assuntos agrários, mas vem sendo um bom observador notando a afluência dos muitos casais de pombas “asa branca” nidificando nas árvores maiores de Brasília e vizinhanças. E ele faz a pergunta: Mas por que? Quando o natural é as belas pombas façam ninhos nas matas?
É que as matas foram arrasadas pelas lavouras de soja. Onde havia mata, agora só resta planície limpa, pronta para receber os milhões de sementes. Sem alternativa, os pombos buscaram as galhadas aptas para a reprodução.
Qualquer observador pode vê-las montando seus ninhos, nos quais logo mais esvoaçaram os casais novos disputando espaço. É uma migração inversa.
A asa branca deixando até o som da sanfona do mestre Luiz Gonzaga. São as velozes e elegantes pombinhas arrulhando eucaliptos e nos “pinus” altaneiros e solitários, geralmente em torno de quadras esportivas.
Outro fato é a marca positiva, sumiram as atiradeiras e espingardas de chumbinho, para a paz e a felicidade das pombinhas, que podem cuidar de seus ninhos na cidade. O alegre arrulhar nas galharias, o amoroso trocar dos bicos enamorados.
Logo mais, quando das competições esportivas estaremos vendo o alegre esvoaçar das asas brancas transformadas em “torcidas” que não conhecerem a violência, senhoras do espaço, plenas de felicidade.
(*) Luciano Barreira (Quixadá), jornalista e escritor