Dezembro 2008
É como dente
O brasileiro, diante do chifre, se comportar dos modos mais diferentes. Na maioria das vezes sobressai o machão, que bate, machuca e mata. O Doca Street, roído de ciúmes, matou uma linda mulher. Um cantor goiano, o Lindomar Castilho, matou a sua, também artista. Aqui no Ceará, um médico acertou um tiro no olho da sua ex, muito ex-cara metade.
Mas há os outros cornos muito menos agressivos. Uma figura popular é do corno manso. Existe até cachaça “Amansa Corno” santo remédio para os ditos cujos.
O “Vei” Carnera tem uma teoria muito particular sobre chifres e seus portadores. Certa vez, chega a oficina um amigo dele , que fica ali encabulado roendo as unhas...
O que há, amigo, anda chateado?
Muito, muitíssimo, Carnera...
Mas o que há, homem?
Ando “ligeiramente” desconfi ado que estou chifrudo, Carnera...
Cuidado. Nessas coisas geralmente há intriga, calúnia...
Porque desconfia?
Veja se não dá... eu tô desempregado, a mulher também... e lá em casa a coisa está melhorando... A mulher sempre arranja com que comprar o principal , comida (até boa) e umas roupinhas pros meninos... livro, caderno, não tá faltando nada, meu amigo velho.
Ms como você prova, pode ser “ajuda da família... algum parente sensibilizado, às vezes acontece...
Acho que não, Carnera, é coisa de chifre mesmo.A mulher mudou, sai todo dia. É dentista, é cabeleireiro, é manicure.... Acho que é verdade, “virei” corno mesmo, Carnera.
Carnera, fraternalmente, colocou a mão no ombro do amigo. Resolveu consolar o coitado:
Não desespere, companheiro, chifre é como dente. Dói pra nascer, mas depois que nasce, ajuda a viver...
Assim Rachel de Queiroz sintetizou a personalidade de João Clímaco Bezerra
Homenageando João Clímaco Bezerra , a Prefeitura Municipal de Fortaleza escolheu um dos intelectuais que mais honram as nossas letras. O romancista e contista, o homem de imprensa impecável, é, sozinho, um monumento, pela sua obra e pela sua vida. Se mais não o conhecem, será porque a modéstia nunca lhe permitiu apregoar-se nas feiras da vaidade. Escolheu para si a penumbra, a pouca fala, a discrição. Por ele falam os seus livros – e como falam! E são os livros que lhe asseguram o seu lugar na imortalidade; a obra , bela e fecunda, é que lhe garante – perante todos que a conhecemos e a admiramos tanto, essa posição privilegiada de que a homenagem de hoje é testemunha e penhor
Memorial do Grupo Clã
Artur Eduardo Benevides, Quem somos nós, depois de tantos anos?
Lidadores, ainda, ou já cansados?
Que doce tempo de ócios, descuidados
Deixamos para além dos vãos enganos!
Éramos jovens, tontos, agitados,
Solidários e fiéis a grandes planos.
E tivemos mais êxitos que danos
Nos felizes decênios já passados
Da Grande Guerra vimos os escombros
E auroras vieram sobre os nossos ombros
Jamais nos encontrando em vãs tardanças
E não trocamos sonhos indultos
Se já não praticamos os tumultos
Conservamos as mesmas esperanças
(*) Artur Eduardo Benevides (Fortaleza) fundador do Grupo Clãe ex-presidente da Academia Cearense de Letras
(Dia da Cultura, Caderno Cultural nº 8, Fortaleza, 1993)
(*) Luciano Barreira (Quixadá), jornalista e escritor