Janeiro 2010
Um brinde ao Novo Ano
Iniciamos uma nova etapa e já traçamos os planos para o percurso que festejamos com “champagne”, vinho, abraços e votos de felicidade. Os contratempos, os imprevisto do ano que passou ficaram para trás, e as mágoas e os ressentimentos tentamos esquecer, na euforia dos primeiros instantes, na esperança de momentos felizes, com promessa de plena realização.
O ano teve início, e a impressão é de que cortamos o tempo, desligamos os dias passados e começamos uma nova jornada, plenos de entusiasmo, de fé, de feliz expectativa.
No exame de consciência que impreterivelmente se apresenta, constatamos que os desejos e os projetos feitos no início do ano anterior ficaram a meio do caminho, não houve persistência, e por conta das eventualidades, muito se perdeu. E uma tristeza se apossou de alguns, na constatação de um tempo que se disperdiçou, e se deixou passar, esquecidos de que a vida flui incessamente e se esgota em segundos.
Mas as águas dos rios não retornam à fonte, é certo, e urge seguir, com os olhos fixos no instante que passa, na posse do agora que nos pertence. Por isso é tempo de brindar.
Brindar a alegria por mais um ano de peleja que se descortina, onde se pode medir a força de querer, e o potencial de energia que brota por todos os poros. É-nos dada a certeza de que fomos privilegiados em ganhar, por mais uma etapa, o precioso dom da vida, enquanto a muitos foi negada a oportunidade. É a hora pois, de abrir os olhos ao mundo, e o coração aos outros, e deixar que as comportas da vida extravasem no ato de se dar, de se multiplicar, de se dividir. O verde e o azul explodem em nuanças pelos campos e pelo afirmamento. Os flamboyants aguardam instante de lançar o seu grito vermelho, e as cigarras, outra vez, vão cantar no verão. E o sol vai aquecer, indistintamente os bons e os maus. E ao anoitecer, a natureza, vai brindar com lindos poentes, pintar o céu de arabescos coloridos e esgarçar as nuvens em espirais de fumaça. O vento vai brincar com o arvoredo. E as crianças vão sorrir na doce crença de que é linda a vida. A rosa vai nascer, como um milagre, no seu segredo de beleza que a ninguém confessa. E nas selvas e nos canteiros floridos a chuva vai cantar, e depois correr apressada pelas valas e regos, inundando estradas e caminhos. Uma ordem perfeita no ritmo das coisas. A Terra não vai se omitir, e, generosa, doará os dias e as noites, praza aos céus que as tragédias não ocorram e que o homem se capacite da sua participação, imprescindível, para o equilíbrio deste Planeta Azul.
Apesar das ameaças que por todos os lados cercam a humanidade, longe de nós a alienação, apesar da fome, da poluição que ainda vai continuar, apesar das guerras, do jogo de interesses entre as nações, da louca ambição, do poder econômico pressionando povo, honra, querendo comprar a alma, apesar das contradições, da maldade que impera, da desorientação.
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora.