Janeiro 2013
Moreira de Acopiara - o poeta popular de Diadema/SP
Para quem não conhece, Acopiara, no sertão central
do Ceará, é terra de muito sol, muita seca, muita fé,
muito talento, muito trabalho, muita pobreza, muita
generosidade, mas de pouca chuva, pouca água, pouca
fartura, pouca oferta de educação, saúde, trabalho, bens
e serviços.
Está 345,1 km de Fortaleza pela CE060, 4h e 58 min
de estrada, passando por Mombaça, Quixadá, Quixeramobim,
com escala em Zorra e Sabonete. Isto não
impediu que o progresso entrasse de um lado e saisse
por outro.
Tem praças, ruas, avenidas. Há sinais de civilização
por todos os quadrantes. Tem energia, água, esgoto,
comunicações, telefone, agencias bancárias, serviços,
escolas, bibliotecas, clubes, hospitais, igrejas, museu,
comércio, pequena indústria e agropecuária tolhida
pela seca.
Já foi o maior produtor de algodão do Ceará.
Lá nasceu, em 23 de julho de 1961, no sitio Cantinho,
no Trussu, a 15 km da cidade, Manoel Moreira
Júnior que foi alfabetizado pela mãe que lhe contou
muitas histórias e lhe apresentou a literatura de cordel
e onde viveu até os 20 anos, entre os trabalhos da
roça e a leitura de livros que lhe caíram nas mãos.
Conviveu com cantadores, repentistas tocadores de
rebeca e pifano.
Conta Moreira que chegou a ler Graciliano Ramos,
Machado de Assis, Patativa do Assaré, Fernando Pessoa,
Castro Alves, Camões, Augusto dos Anjos, a Literatura
de Cordel e as histórias que sua mãe contava tão bem.
Escreve desde adolescente.
Em 1982, foi de Acopiara para Diadema/SP, onde
chegou de braços dados com a vida. Cedo como milhões
de nordestinos. Sobreviveu com garçon e frentista,
mas estava escrito nas estrelas que seria conhecido no
mundo da cultura popular como Moreira de Acopiara,
o poeta popular de Diadema, como definiu o Diário do
Grande ABC.
Já publicou 19 livros, muitos pela Duena Dueto, de
São Paulo, entre eles dois clássicos – O Sertão é o meu
lugar e Medo? Eu, hem?” este com ricas ilustrações de
Michelle Bear e mais de duzentos folhetos de cordel entre
eles – Boi Velho, A natureza agredida pede pra ser respeitada,
Amor pela metade, Nos caminhos da educação,
Colcha de Retalhos, Um banquete suspeitoso, Fazenda
Sanharão, o Drama da Seca,
Declaração Universal dos Direitos do Homem, Encontro
com o Destino, O caso da menina na estrada de
Canindé.
Em 2004, foi eleito para a Academia Brasileira de
Literatura de Cordel,
ABLC, entidade fundada em 1988 e sediada no Rio
de Janeiro, sendo consagrado na Feira de São Cristovão,
território dos cearenses na cidade, juntamente com a
Gamboa e a Favela da Rocinha.
Gravou três CD’s com poemas de sua autoria e tem
trabalhos musicados e gravados por vários artistas. Transita
pelo teatro. Tem um programa de rádio há quase dez
anos (Cidadão Nordestino) em Acopiara.
Em 2008, publicou Cordel em Arte e Versos, que está
em 3ª.edição, desde que foi classificado como “altamente
recomendável” pela Fundação Nacional do Livro Infantil
e Juvenil.
Poeta, estudioso e conhecedor do Cordel, do Folclore
e da Cultura Popular brasileira, declamador, contador
de histórias, profundo conhecedor da obra do poeta
Patativa do Assaré, Moreira de Acopiara frequentemente
tem sido convidado para proferir palestras e recitais,
e ministrar oficinas e workshops sobre Literatura de
Cordel, Xilogravura e Repente nos quatro cantos do
país, já tendo se apresentado em unidades do SESC;
nos Ccentos de estudantes universitários de várias
Universidades públicas e privadas, incluindo PUC,
USP, UNICSUL, UNIMINAS, Fundação Santo André,
URCA etc. Ganhou vários concursos, inclusive o
segundo concurso de Literatura de Cordel de Caruaru,
promovido pela FUNDAPE (Fundação do Patrimônio
Histórico do Pernambuco), com o texto “O Nordeste
é meu lugar”.
Em 2010 teve um livro seu (Cordel em arte e versos)
selecionado pelo MEC para o PNBE.
Em 2011 outros dois livros (As aventuras de Robinson
Crusoé e Medo? Eu, hem?) foram selecionados no
mesmo programa.
Ainda em 2011, Moreira recebeu o título de Cidadão
Diademense da Câmara Municipal de Diadema/
SP, por proposta do vereador Célio Lucas de Almeida
(Célio Boi).
Em 2012, participou como convidado do 1º Encontro
dos Escritores Cearenses de Brasília, oportunidade em
que declamou seu poema, “Ser Cearense”, publicado
aqui no Ceará em Brasília.
Com sua simplicidade, humildade, generosidade,
e especialmente talento, moldado e lapidado na bacia
de Patativa de Assaré, Moreira de Acopiara é hoje
orgulho dos cearenses longe da pátria. Se Patativa de
Assaré chegou aonde chegou, dentro do Ceará, cantando
em versos as grandezas e misérias do nosso povo,
Moreira Acopiara segue outra trajetória, Brasil afora,
mantendo-se no tema. Não apenas urbanizou o cordel.
Reordenou-o numa perspectiva mais humana e mais
universal, sem perder a doçura do nossa telúrica cearensidade,
com a marca do nosso berço comum: Acopiara.
(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.