Abril 2012
José Alves de Oliveira: “árvore velha não se muda”
Os Alves de Oliveira que vieram para Acopiara nasceram na fazenda Quati, próximo ao Baú, nas cercanias de Iguatu, e que pertenceu ao cel José Alves de Oliveira e Clara Alves de Oliveira. Lá construiu em 1866 a capelinha de São José e lá a família passava a temporada invernosa.
Fora disso, a família se instalava em Iguatu. Da união nasceram Manoel, Porfírio, João, Pedro, Justino, Josefa (Zefinha), Joana, Cesário, Antonia, Ana, Maria, Tereza, Joaquim (padre), Raimundo (médico) e Francisco, todos falecidos. Pedro, Josefa (Zefinha ) José e Joaquim tiveram forte presença em Acopiara. Pedro Alves chegou a Lages (mais tarde Afonso Pena e Acopaira) em 1917. Foi comerciante, pecuarista, produtor rural e representante dos bancos que custaram a chegar a Acopiara, só em 1969. Casou-se com Carmina Lima Alves, irmã de João Holanda e Julio Holanda Lima, de Tauá, e teve filhos: Jairo, que se elegeria prefeito de Acopiara, de 25.03.1967 a 30.01.1971, Luis Alves, Tarcisio, Iolanda, Ines, Ivanise e Zélia. José Alves chegou em 1926, Zefinha chegou em 1913 e casou se com o comerciante Paulino Felix Teixeira, que morava na praça monsenhor Coelho e tinha loja de tecidos na rua marechal Deodoro. Do casamento, nasceram Raimunda (Mundinha), Adalberto, Milda e José Adail Teixeira. Paulino foi Interventor em Acopiara por um mês , de 15.05.1934 a 07.06.1934. O padre Joaquim Alves foi o 2º vigario de Acopiara, por seis meses, de 15.01.33 / 11.07.1933. José chegou a Acopiara em 1923 e foi trabalhar com seu cunhado Paulino Felix.
Zé Alves, como acabaria sendo chamado, em 1924, casou-se com Maria Gurgel Valente (Mariinha), filha de Henrique Gurgel Valente. O casal teve dois filhos, Vilalba e José. Na década de 30, montou seu próprio comércio de compra e venda de algodão e peles silvestres e comprou fazenda Belo Horizonte, na Serra Grande, não muito distante da cidade, onde criou gado leiteiro e de corte (seu gado era ferrado com a marca da freguesia de N.S. do Perpétuo Socorro), aves e porcos, plantou arvores frutíferas, milho, feijão, algodão e cana de açúcar, fez açude para retenção de água, instalou pequeno engenho para produção de rapadura e construiu a casa grande para acolher filhos e amigos e casas de taipa para acolher os moradores, trabalhadores rurais. Em 1940, Mariinha faleceu aos 36 anos, 16 de casada, no terceiro parto. Casou-se de novo com Maria Amélia Fernandes Silveira, (Amelinha) então com 19 anos, nascida em Vitória/RN, filha de Josias Gome Silveira e Umbelina Fernandes Silveira. Amelinha perdeu a mãe quando tinha cinco anos e o pai com nove. Orfã, foi criada pelo casal Carloto Fernandes Távora e Francineth, em Acopiara. Morava perto de Zé Alves e era amiga de Mariinha para quem fez amortalha com que foi enterrada. Seus pais adotivos rejeitaram o casamento com Zé Alves que a raptou e a guardou na casa de Antonio Henrique da Silva (Antonio Tó), casado com Minervina, irma de Mariinha.
Por longo tempo, morou na praça monsenhor Coelho, mas vivia mais na fazenda que os moradores rebatizaram-na de Angicos. Em 1950, criou a Cooperativa Mista de Acopiara com nove sócios na esperança de obter capital para financiar as atividades agropecuárias. O empreendimento não prosperou, foi à falência, mas Zé Alves, com dignidade,vendeu parte de seus bens para honrar os compromissos inclusive com os sócios, arcando praticamente sozinho com os prejuízos. “Reuniu a família e ditou uma sentença de vida: “Essa divida está perdoada, Ela vai ser gravada no livro das almas de culpas eternas”.
Os filhos do 1º casamento, com Mariinha, criaram asa. Vilalba casou-se com Nicanor Holanda Gurgel, seu primo, morou em Acopiara e depois Fortaleza. José Alves de Oliveira (Gurgel) casou-se com Marlene Monteiro Lima, em 1950, veio para o Rio de Janeiro.
Do 2º. casamento nasceram: Em 41, José Robério, em 42, Maria Fernandes (Francineti), em 43, José Fernandes Alves (Dedé), em 45, Francisco, em 46, José Fernandes Alves Oliveira (Rubens) , em 47, Antonio Humberto, em 48, Maria Inês, em 50, Maria Fátima, em 51, Maria Francineide, em 53, José Rubens, em 54, Josias, em 1956, José Ronaldo, em1958, José Rômulo, em 1963, José Racine.
Em 1964, com 14 filhos vivos, do 2º. casamento, pensou em recomeçar de novo a sua vida. Os negócios na Serra davam para viver, mas os filhos precisavam estudar e não havia ginásios e colégios em Acopiara para tantos Josés e tantas Marias. Tinham que ir para Iguatu ou Fortaleza. Os mais velhos José Alves (Gurgel), Roberio, Francisco José (Rubens) e José (Dedé), foram para o Rio de Janeiro, fizeram carreira na Marinha.
Zé Alves então decidiu tomar uma decisão que lhe feriu a alma e rasgou o coração de homem do sertão central, acostumado a enfrentar e vencer os desafios da vida. vender a fazenda Angicos e mudar-se de mala e cuia para a Rua Gurgel 246, no KM 8, em Fortaleza, instalando perto de casa uma mercearia de secos e molhados para a sobrevivência da família que era sua única preocupação. Não era que queria, mas foi isso o que a vida lhe reservou.
Maria Fernandes desabafa: ”papai sofreu muito com isso. Tinha 67 anos de lutas, sofrimentos, feitos e realizações pessoais e afetivas. “Arvore velha não se muda”, repetia com amargura e lamento. Era como estivesse sendo derretido. Chorava as escondidas. Mamãe o amparava, mas ele diz: pelo amor à família, sigo em frente’.
Assim era a vida de Zé Alves quando um dia teve de se internar no Hospital Geral de Fortaleza para uma cirurgia de úlcera no estômago e, não resistindo, veio a falecer aos 73 anos.
Amelinha, com 49 anos, ficou órfã pela 2ª. vez, com escassos meios de sobrevivência, além de uma pensão da previdência social, com uma ruma de filhos para criar, alguns menores, Racine, com sete, Rômulo, 12, José Ronaldo, 14, Josias, 16, José Rubens,17. Reuniu a família e ouviu os filhos mais velhos que decidiram efetuar mais uma mudança radical na sua vida. Em 1971, trouxeram todos para o Rio de Janeiro e foram morar em Bento Ribeiro. A filha mais velha, Maria ficou em Fortaleza.
Não foi fácil. Viveria mais 27 anos no Rio, onde viu os filhos se realizarem e conquistarem seus espaços com determinação.
Sem dúvida alguma os descendentes de Zé Alves, cujo centenário de nascimento foi comemorado em 1997, em Acopiara, incluindo os filhos do 1º casamento, seguiram seus passos e todos tem estórias de vida, de sucesso, para contar. Os que desembarcaram no Rio de Janeiro, inclusive o Jose Alves, do 1º casamento, constituem o mais forte grupo de Acopiara presente na cidade que os acolheu com os braços abertos do Cristo Redentor e que lhes proporcionaram condições de superação e afirmação para se destacar com pessoas e cidadãos.
Os acopiarenses de hoje desconhecem os passos de seu conterrâneos – hoje estranhos na terra que os viu nascer - que, com competência, formação técnica e profissional, capacitação, coragem e caráter conquistaram Rio de Janeiro. Nenhum deles baixou a cabeça. Nenhum deles se desencaminhou. Trabalhadores, humildes, vencedores.
(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor