Julho 2011
Acopiara - Apelidos e o que não falta
O brasileiro põe apelido em todo mundo. Ninguém escapa. Nem Lula, o grande molusco, o sapo barbudo, o grande mentecapto, nem Sarney, o do bigode, Figueiredo, o Figa, Geisel, o alemão.na literatura, Paulo Coelho virou Pau no Coelho, Na musica, Carmem Miranda (A pequena notável), Alcione (Marrom), Jovelina (Pérola Negra), tem Nelson (Cavaquinho), Jackson (do Pandeiro), Luis Gonzaga (Gonzagão), Bezerra da Silva (Bezerrão), Pinxinguinha, Cartola, Zé Catimba. No futebol, Leonidas (Diamante Negro), Castilho (Leiteiro), Ademir (Queixada), Gerson (Canhotinha), Didi (Folha Seca), Manoel (Garrincha), Nilton Santos, (Enciclopédia), Edson (Pelé), Zico (Galinho de Quintino), Rivelino (Patada Atômica), Roberto, (Dinamite) Ronaldo (o Fenômeno) , Falcão (Rei de Roma), Adriano (o Imperador), Romário, (o Baixinho), Luis Fabiano (o Fabuloso), Abel (Abelão) Luxemburgo (Luxa).
No Ceará, em cada esquina há uma fabrica de piadas e outra de apelidos. O caso mais emblemático, no Ceará, é o do padre Cícero Romão Batista, o líder político e religioso de Juazeiro do Norte, chamado Padim Ciço, meu Padim, Padim. Ainda em Juazeiro, Seu Lunga virou o Tolerância Zero. Em Fortaleza, o governador Cesar Cals foi chamado de Orelhão e Tasso Jereissati de Galeguim dos Zoi Azul e prefeito Juracy Magalhães de Juracy Balanttines.
Acopiara não foge da regra. Começa pelos dados aos bairros, Rabo da Gata e Colchete, berços dos cabarés, e o Alto dos Bodes.
No passado tivemos o Afonso Gogó, pedreiro e sanfoneiro, Antonio dos Anjos, botador d’agua, Chica Camelo, lavadeira, Peba (Francisco Lopes da Silva), carreteiro, (Francisco Martins) Chico Come Figo ou Chico Traira, verdureiro,João Sapato (Joao Batista de Lima), carreteiros, Patim (Valdevino Félix), c Patury João Cantonila (João Silva de Oliveira), Zé Buchinho, (Jose Alexandre da S ilva), Dedé Tiburcio (José Pereira Veras) , trabalhava para o dr. Tirburcio, Manoel Tapioca (Manoel Dionísio Batista),levava merenda (tapioca) para trabalhadores), Maria Viúva (Maria Paz da Silva), dona de café, Maria Pretinha (Maria Petronilia Tavares de Oliveira),lavadeira, Bila (Maria Brigida da Silva), engomadeira e professora leiga, Raimundo Porca (Raimundo Hipólito da Silva), vaqueiro e animador de festas, Chica Pneu (Francisca Ernesta de Freitas), senhora de predicados, Maria da Vara, Frango de Nazária, Jararaca, Antonio Vitorino (Belota), Vigário, João Ventinha.
Tivemos também os eletricistas Dedé, Faísca e Caravelha, vendedores de frutas Maria Banana Boa e Pedro da Verdura, jogador de futebol e motorista do dr. Jairo, Pissica, lavadora de fato Rita Fateira, auxiliar de pedreiro Capuchu, o vendedor de ovos, Joaquim Fonfon, o carceiro Ernesto Carcereiro, vacinador de gado, Fransquinho Nico, o flandeiro, Zezinho da Adelia, o mecânico Sorriso, o pipoqueiro Antonio Loló, a chefe de cabaré Leoa, carreteiro e coveiro Fussura, rezadeira Expedita Gago, tirador de goteira e pintor de parede Mané Vei, fotografo Besouro, lavador de carro Parabela, biscateiro Bichoca, lavadeiras Adélia Polda Braba e Chiquinha Rola, louceira Maria do Barro, botador d’agua Cajueiro, sapateiro Dezim, Nego da Lavínia, Zezim da Malhada, Antonio Gaspar do Vale (Paixandu), Antonio Antonio Elvira (Antonio do Cedro) Jackson Silva (Peru), Flavio Tó (Pio), José Alves de Lima (Popó), Zé do Bar.
Na casa de meu avô, os filhos tinham apelido, o dele era Mansim: Nertan (Mutamba), Nestor (Gata Melada), Nicanor (Boi Velho), Francisco (Patativa,depois Chico da Bomba), Neon (casca de feijão), Neófito (bodete), Newton (olho de umbu), José (Zé preguim), Nilo Gurgel (Galinha, Torto), Luis (Borrombó e Calendário), Niceas (fio da Rufina), Napoleão (Pulão, Mandapulão), João Bosco (Boquinha), Maria Leônia (Garrota), Nereida ( perna de sibito).
Auriberto Gurgel e Claudio Moreira escalaram um time de futebol: Teimoso, Pissica e Nego da Lavínia, Alberto Cacete, Zé Pixato e Meladim, 100 kilos, Manoel Galinha, Capote, Quaresma, e Gastura.
No estoque da fabrica de apelidos há os aplicativos genéricos: tanajura (mulher de bunda grande); varapau, general suvela, espanador da lua, vara de virar tripa, (pessoa alta e magra); rolha de poço, porca baé, barril, caminhão caçamba e barriga de soro azedo, (pessoa gorda), rodapé de parede, tamborete de forró, rodapé de b...,anão de jardim, (pessoa baixa, anã); pouca telha, aeroporto de mosquito, (careca); carga torta, capenga e deixa que eu chuto, (pessoa pensa de um lado), leva e traz, Maria vai com as outras, fuleiro, (fofoqueiro); ladrão de galinha, (pessoa rouba coisa sem importância). É grande a listagem dos apelidos preparados para mulher bonita ou feia, cornos, caloteiros, engraçados ou chulos.
Os que passaram pela vida carregaram seus apelidos e viraram saudade. Fizeram parte de gerações distanciadas do stress e dos sofás dos psicólogos, psiquiatras e analistas. Podem ter tido problemas. Infelizmente, os apelidos hoje são fonte de uma responsabilização de agravos e desvios de personalidade. O buylling e o políticamente correto querem punir e criminalizar o apelido, vilões de uma modernidade dos tempos bicudos em que vivemos em que as minorias barulhentas querem impor seus direitos em detrimento da maioria silenciosa.
JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.