Agosto 2015
As cem edições do Jornal da Gíria. Um marco no mundo gírio
Não poderia deixar em branco o aniversário das cem edições
do Jornal da Gíria. em 16 anos e que pode ser acessado
no www. cruiser.com.br/gíria ou no www.dicionariodegiria.
com.br.
Temos quase a mesma idade da Internet no Brasil.
Começamos com a Cruiser, um dos primeiros provedores
de Internet no Brasil, a partir de Niteroi/RJ, onde vivemos e
crescemos para resgatar o patrimônio gírio do Brasil.
Tivemos dois formatos de apresentação. Este é o segundo.
Confesso que está na hora de uma mudança. Neste território
livre, o conservadorismo é mortal.
Quando começamos, fomos pioneiros, não havia muita
informação sobre Gíria.
Havia outros sites de busca, antes do surgimento do Pai
Google de Aruanda
Em todos eles, quando a busca era Gíria sempre aparecíamos
em 1º lugar. Fosse com o Jornal da Gíria (quase
tudo que se publicou no Brasil sobre gíria foi registrado
pelo Jornal) que tem um apreciável acervo, fosse com o
Dicionário de Gíria, a caminho da 9ª.edição, podendo chegar
aos 40 mil verbetes.
Sem concorrência, rapidamente chegamos aos 500 mil
acessos. Uma referencia.
Com a concorrência, passamos dos 600 mil e mas estamos
distantes de 1 milhão.
De qualquer forma, somos uma referência em gíria. Com
um compromisso com a língua portuguesa, com a língua
falada dos povos de língua portuguesa, com a língua viva, com a evolução da linguagem, pois é assim que caminha
a humanidade, voltada para o futuro sem desprezar o
passado.
Foi-se o tempo em que a gíria era a linguagem da
malandragem, dos marginalizados, dos pobres, dos
negros. Hoje, a gíria é a segunda língua dos brasileiros
de todas as classes sociais, nível de escolaridade, gênero.
A gíria era utilizada pelo rádio e pelos jornais populares,
que hoje usam e abusam da gíria e dos regionalismos..
Os jornais da elite escreviam na linguagem
padrão. A televisão resistia. Hoje, os jornalões usam a
gíria com aspas, itálico ou negrito e a televisão aberta
incorporou o idioma gírio nas suas novelas para alcançar
e se identificar com as classes C,D e E.
As periferias e os grupos sociais exclusivos que foram
emergindo expandiram de forma exponencial a fronteira
gíria, com grafiteiros, surfistas, banhistas, funkeiros,
rapeiros, etc Igualmente se acentuou a gíria tecnificada
com os bordões publicitários e do humor.
Mas estão em curso profundas mudanças na linguagem,
sem que se saiba onde vão parar. O internetês, o
sms , o facebuquês e as redes sociais estão impondo uma
nova linguagem e por consequência uma nova língua.
Quem for podre vai se arrebentar. Os cascos da língua
portuguesa, depois de 500 anos, de navegação em mares
tranquilos, estão avariados.
As academias de Letras do Brasil e de Portugal que
se omitiram indecentemente nas comemorações dos 300
anos da gíria na língua portuguesa e nos 100 anos da gíria no Brasil, não estão nem aí para as mudanças estruturais na
língua. Abjuram a gíria como algo asqueroso!.
A Brasileira esquece Antenor Nascentes e renega o
maior nome da lexicografia brasileira, Antonio Houaiss,
que me fez editar o Dicionário de Giria, quando limitado
e incipiente.
O acordo linguístico se preocupa com hífen, trema e
acentos; se esqueceu do principal: o ensino da língua que
é fundamento da nacionalidade.
Brasil e Portugal são países de baixos índices de leitura.
As livrarias estão sumindo
Os livros estão sumindo.
Os jornais estão minguando.
O português arcaico (antigo) tem um patrimônio de
500/600 mil palavras. O português atualmente abrigado
na linguagem padrão tem um acervo comum aos países de
língua portuguesa de 250/300 mil palavras.
A massa não conhece 5% desse universo.
Em alguns países da comunidade dos países de língua
portuguesa, mesmo em Angola e Moçambique, há muitos
dialetos tribais, além da gíria.
No Brasil, recorre-se com intensidade aos regionalismos,
próprios em determinadas áreas, e a gíria que não é
totalmente nacional, pois deriva do regionalismo.
Vou prosseguir com meu Jornal da Gíria, na certeza
que estou no caminho certo, A distancia que me separa da
Academia Brasileira de letras é a mesma que a separa da língua portuguesa.
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(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.