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Novembro 2009

Tem uma Teresa que foi a 1ª. mulher cearense a ser delegada da mulher em
Brasília


Teresa Pacífico de Oliveira Barbosa, nascida no sitio  Poço Redondo, distrito de Bom Jesus do Quixelô, em Iguatu, foi a  1ª.cearense a ser delegada da Mulher em Brasília, a 2ª.unidade da Federação a ter uma Delegacia da Mulher, onde permaneceu por seis anos e presenciou toda a violência contra a mulher, hoje,em parte contida , a partir da atitude de outra cearense, a Maria da Penha, que deu nome à lei que pune a violência contra a mulher. É daquelas mulheres determinadas, de olhar firme e suave nos gestos.

O Poço Redondo fica a meia hora de Bom Jesus do Quixelô, uma hora de Iguatu e duas horas de Acopiara. Lá nasceu Teresa Pacífico Oliveira Barbosa, filha de Bernardo Oliveira Neto e Hermengarda Pacífico de Olveira. O casal teve 13 filhos:  José Giovani,  os gêmeos José Pacífico e José Antonio (falecidos), José Aureo, Teresa, Teresa Lisieux, José Elial, José Elione gêmeo de Eliana, José Hélio, Teresinha Vera, José Bernardo e Teresa Rejane. Poço Redondo mal dava para o Sr. Bernardo alimentar os filhos, os homens, Josés, e as mulheres, Teresas.     A família logo se mudaria para Acopiara, indo morar na rua Paulino Felix, v izinho da coletoria estadual, na época titulada por Eduardo Gurgel Valente.

Teresa foi para o grupo escolar , que mais tarde teria o nome do padre João Antonio, estudar com a prof. Helodia . Ali fez o primário. O ginasial foi feito no ginásio implantado pelo prefeito Alfredo Nunes de Melo , com recursos obtidos pelo deputado Adahil Barreto,e que era dirigido por Isaura Albuquerque de Macedo.De lá,partiu para o Iguatu, fazer o curso normal na Escola Normal São José, das freiras. Diplomada voltou para Acopiara, indo lecionar Geogarafia no ginásio em que estudou. Também lecionou na escola profissional de Acopiara onde teve um aluno, o José Lima, que mais tarde o encontraria em Brasília.

Tínhamos uma vida sem perspectivas. Não tínhamos uma visão de nada para o futuro, conta. Meus irmãos foram embora para o Rio, muito cedo, especialmente o Giovani,  Antonio, Elio e Elione. O Giovani foi primeiro, levado pelo deputado Adahil Barreto, e lá fez Administração na Fundação Getulio Vargas e acabou empregado no governo.  Levou os irmãos depois. Parece que estava bem de vida, pois, ainda mandava um dinheirinho para os que teimavam em ficar em Acopiara. Foi graças a sua mesada que consegui fazer o normal em Iguatu. Lembro o que dizia meu pai, homem que lia muito e tinha a cabeça bem aberta: lugar de gente pobre é perto do governo que dá oportunidades para os pobres. Os irmãos se mudaram para Brasília, todos empregados no Ministério do Interior. Se instalaram em um apartamento na 210  Sul”

Teresa tomou a decisão que mudou radicalmente sua vida: entrou em um ônibus e depois de três dias estava em Brasília, moída, cansada.  De cara, fez concurso para a Fundação Educacional e foi contratada para lecionar no Gama. Lá passou dois anos familiarizando-se com a cidade, o clima, as pessoas. Em 73, fez concurso para datiloscopista da Polícia, profissional que faz a coleta digital , quando se indicia uma pessoa, e faz pesquisa de papilos. Passou e foi trabalhar no Instituto de Identificação do DF.  Junto com ela, fez concurso e passou o José Lima, que fora seu aluno lá em Acopiara.  Teresa foi chefe de secção de prontuários com a missão espinhosa de controlar os prontuários, inclusive os que interessavam aos órgãos de segurança e informação, no tempo da ditadura. Decidiu estudar e fazer Direito.

Em 78, casou com Djalma Adão Barbosa, de Mato Grosso, e graduou-se em Direito  pela UDF.

Os dois passos levaram a buscar novos caminhos. Em 81, fez concurso para delegada de polícia do DF, sendo aprovada. Seu conterrâneo José Lima, foi para o Ministério Público. Em 82, entrou pela  1ª. vez numa delegacia para dar plantão, como titular da Delegacia do Núcleo Bandeirante, berço dos candangos de Brasília.Depois, foi removida para a Delegacia do Lago Sul, a praia dos granfinos da cidade. Foi gostando do que fazia, com simplicidade, humanidade, competência e determinação que logo passaria para as delegacias especializadas, começando pela Delegacia de Homicídios, que tem a missão de resolver e solucionar os casos que as delegacias  zonais não conseguem fazer.  Muito trabalho e desafios, especialmente pela natureza dos crimes cometidos, muitos deles passionais, latrocínios, chacinas, etc.

De lá foi para a melhor de suas experiências profissionais, a Delegacia da Mulher, onde passou cinco anos  e conheceu e vivenciou os dramas das mulheres. A Delegacia foi das primeiras a serem criadas no país, depois que São Paulo tomou a iniciativa. Funcionava onde está até hoje, nas entre - quadras 204/205 Sul. Surpreendeu-se com a grande quantidade de desentendimentos de casais, chocantes  relações incestuosas especialmente nas invasões, muitos estupros e muitas violências contra as mulheres. “A delegacia, como me dizia uma auxiliar, é um antro de excitação, pois só se fala em sexo desde à hora em que se chega até sair”, revela. Nesta época, poucas mulheres se atreviam a ir à delegacia dar parte e pedir providencias. Eram muito dependentes,mais do que hoje. “As que estiveram no meu gabinete, eram mulheres de todas as classes sociais. Na realidade, a violência não é praticada só por pobres.

Conta que certa vez atendeu a mulher de uma autoridade graduada, a nível federal, uma espécie de ministro de Estado. “Foi uma situação delicada. Pedi a mulher que fosse ao IML fazer de exame de corpo de delito. Ela voltou o com o laudo que retive. Disse para ela para procurar o marido e informar que ela ficou com o laudo e que se ele  repetisse a agressão ela  o mandaria prender em flagrante. Ela não voltou mais a delegacia. Doutra feita, apareceu um a mulher na delegacia que queria falar com ela, só com ela, mas como tinha uma agenda a cumprir, marcada com antecedência, foi cumprindo a agenda. Depois de seis horas,  já exausta, perguntou a secretária se a mulher continua esperando. Como continuasse mandou entrar e perguntou: - o que houve, por que a Sra. quer falar só comigo. A mulher lhe disse, no talo: - matei o meu marido e estou me apresentando. Lá em Sobradinho, orientaram me para procurar só a Sra. É o que estou fazendo e contou que reagiu a violência matando o falecido que lhe humilhava demais.

O medo que apavora as mulheres de perder o marido, de perder o sustento dela e dos filhos, de perder a moradia e ficar à míngua é tão grande que leva muitas mulheres a trancar as ações, como aconteceu com um senhor na Asa Sul que atirou a mulher pela janela do apartamento .Na queda,ela quebrou as pernas. Ela fez o boletim de ocorrência na delegacia, mas diante do juiz, disse que tudo era invenção minha e que nada de grave lhe ocorrera, sendo apenas uma mera discussão entre marido e mulher. Acredite.

Teresa passou ainda pela  Delegacia da Infância e da Adolescência, onde teve que enfrentar crimes tenebrosos praticados por crianças. Geralmente são meninos de famílias desestruturadas, vítimas de muitas necessidades e carências, e que vão para o crime como quem vai jogar uma pelada. “Esses meninos não tem limites e são violentos ao extremo. São capazes de tudo. Foram três anos de muitos sacrifícios em que o Estado, de um lado, não tem condições de corrigir os estragos e, de outro, as famílias pouco ou nada podem fazer para recuperar seus filhos”. Constatou.

Seus 25 anos de delegada, terminados em 2006, acabaram na Delegacia de Crimes de Transito.
    Teresa tem três filhos, Bernardo Lucio Paífico de Oliveira Barbosa, 29, graduado em Ciências da Computação, Clarissa Pacífico de Oliveira, 27, casada, graduada em Veterinária, pela Universidade de Viçosa, Minas, e Djalma Adão Barbosa Junior, que faz Engenharia de Alimentos, na Universidade de Viçosa.

Hoje estão em Brasília, seus irmãos Liseux, da AGU, Vera e Bernardo, aposentado da CEF, em Vila Velha/ES, Giovani e Eliana, em Fortaleza, Elione e Elial,  no Poço Redondo, Áureo e Hélio, e em Gurupi/TO, Rejane

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(*)JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.    

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JB Serra e Gurgel
Jornalista e Escritor
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gurgel@cruiser.com.br


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