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Novembro 2010

Marcas da presença do Ceará na Guerra do Paraguai

A guerra do Paraguai começa em 1864 e vai a 1870, em Cero Corá, com a morte de Lopez.

Custou 614 mil contos de reis, 11 vezes o orçamento de 1864, gerando déficit que chegou a 1889 , isto é à República. Há quem afirme que a obstinação do pacifista Pedro II com a guerra e com a caça a Lopez apressou o fim do Império.

A guerra poderia terminado dois anos antes se dom `Pedro tivesse desistido de caçar Francisco Solano Lopez, filho de Carlos Antonio Lopez, morto em 1862.

A guerra apressou o fim da escravidão, o fim da monarquia e o inicio da República. Em 10.11.1864, Lopez mandou aprisionar o barco Marquês de Olinda, no Rio Paraguai rumo a Mato Groso.

Dom Pedro II assumiu a condição de voluntário nº 1 e foi a Uruguaiana, em 1865, onde se reuniu com Flores, do Uruguai, e Mitre, da Argentina, que resultaria no Tratado Secreto da Tríplice Aliança, assinado em Buenos Aires.

Os aliados somavam 9,1 milhões e o Paraguai 318, 1 mil. Em 1865, o Exército brasileiro tinha 18,0 mil recrutas, 67,3 mil em 1866, 71,0 mil em 1867 e 82,2 mil em 1869. O da Argentina contava com 6,0 mil recrutas e o do Uruguai, 4,0 mil. O Paraguai começou a guerra com 55 mil.

Em 1866, dom Pedro II deflagrou “uma “cruzada patriótica” que levou à legião dos “voluntários da pátria”, já que o serviço militar não era obrigatório. Como se efetivou:

1º – alforria dos escravos para a luta, os escravocratas eram indenizados, Estima-se que 20 mil foram vendidos Mas nem todos foram à luta.

2º – os estados teriam que mandar recrutas para a frente de combate.

A guerra permitiu que o estaleiro Mauá, em Niterói, produzisse até 72 navios anuais, graças ao esforço do barão de Mauá.

O balanço da guerra: o Paraguai teria tido 1,3 milhão de mortos e o Brasil de 100 a 140 mil reduzidos por “comunicado oficial” a 4.332 , mais 18.597 feridos e 988 desaparecidos.

Não se sabe com certeza quantos cearenses foram para o teatro de operações. Entretanto, estima-se o número em perto de 6 mil pessoas (cerca de 1,16% da população à época), cuja maioria esmagadora (aproximadamente 4.700) acabou morta. Muita gente, mais de dois terços,78,33%.

A guerra deu ao Ceará a gloria para o brigadeiro Antonio de Sampaio e o transformou em patrono da arma de Infantaria do Exército..

A 3ª Divisão de Infantaria – a Divisão Encouraçada, que comandou em 14 mai 1866, na Batalha de Tuití, foi decisiva para a vitória, em que pese os três ferimentos recebidos que determinaram sua morte, aos 56 anos, em 6 jul 1866, a bordo do vapor “Eponina” , o fato de quatro cavalos que montava durante a resistência terem tombado por perfurações de balas e baionetas inimigas e sua Divisão ter sofrido 33% de baixas brasileiras. Do lado paraguaio,foram registradas 13 mil baixas,6 mil mortos, 6.700 desaparecidos e 370 feridos

Sampaio chegou ao Rio Grande do Sul ao final da Revolução Farroupilha, onde, no comando de uma companhia de Infantaria, estacionou quase 5 anos em Canguçu, como instrumento de consolidação da Paz de Ponche Verde e próximo de Piratini e Caçapava, antigas capitais da República Rio-Grandense (1836- 45).. Combateu na guerra contra Oribe e Rosas (1851-52) quando participou da Batalha de Monte Caseros, como integrante da Divisão Brasileira. Comandou um Batalhão de Divisão de Observação que penetrou em Montevidéu em 7 mai 1859, a pedido do Presidente oriental Venâncio Flores. Na guerra contra Aguirre teve atuação destacada a frente de uma Divisão, na conquista de Paissandú o que lhe valeu sua promoção a brigadeiro.

Muitos dos sobreviventes cearenses da guerra do Paraguai, 1.300, ficaram no Rio de Janeiro e ocuparam o Morro do Juramento, considerado o primeiro agrupamento de cearenses,morando em barracos e cortiços, no maior abandono. O Estado não lhes dava nem a passagem de volta para o Ceará. .Deu-lhes a Av. Voluntários da Pátria, em Botafogo. Só.

A pesquisadora da UFPe, Maria Regina Santos de Souza (UFPE) em “ A guerra não acabou: as batalhas entre os familiares dos ex-combatentes cearenses da “guerra do Paraguai” e o Estado Imperial (1870-1889”), narra a luta dos familiares de dois voluntários cearenses, Raimundo da Rocha Dutra e Francisco

Antonio Pereira, para receber os benefícios dos Decretos dos Voluntários da Pátria, que teriam direito a pensão ou meio soldo em caso de suas mortes em combate. As mães pediram o benefício mas não conseguiram.

A guerra produziu ainda um caso famoso na historia cearense. O de Jovita Feitosa. Antônia Alves Feitosa, a Jovita Feitosa, pertenceu a um ramo mais pobre de uma poderosa família latifundiária, nasceu no povoado de Brejo Seco, nos Inhamuns, em 8 de mar de 1848.Aos 12 anos, perdeu a mãe, indo depois morar com um tio em Jaicós, Piauí.Ao saber do início da guerra do Paraguai, Jovita, aos 17 anos, foi a Teresina, escondida do tio. Decidiu ser “voluntário da pátria”.

Como o exército não aceitava mulheres, passou a faca nos cabelos e pôs um chapéu de vaqueiro, apresentou-se , foi inicialmente aceita. Mas teve sua identidade descoberta por conta da denúncia de outra mulher. Acabou incorporada, de saiote e blusa militar, com a divisa de primeiro sargento, seguindo para o Rio de Janeiro, em set de 1865.

Mulata, de feições índias e estatura mediana, Jovita ganhou notoriedade e virou instrumento de propaganda do governo para estimular novos voluntários a “lutar pela pátria”.

Em nov de 1865, o ministro da guerra afastou-a da tropa. Permanecendo no Rio de Janeiro, envolveu-se sentimentalmente com um engenheiro inglês de nome Guilherme Noot, passando com ele a viver na praia do Russel. Ao saber que o ingles fora embora , sem nenhuma comunicação, cometeu suicídio com uma punhalada no coração em 1867, aos 19 anos de idade.

JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.

 

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JB Serra e Gurgel
Jornalista e Escritor
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gurgel@cruiser.com.br


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