Maio 2009
O Tempo do Rádio
Antes da televisão invadir os lares de Fortaleza, a cidade se divertia ouvindo programas de rádio. Nos finais de semana esses programas eram ao vivo direto dos auditórios. A Ceará Rádio Clube alegrava a tarde dos sábados com o seu “Divertimento em Sequencia”, apresentado por Narcélio Limaverde. O Ayrton Rocha, que naquele tempo era o cantor Pequeno Ayrton, que era atração no Ceará, Pernambuco e no Rio, lembra que o primeiro apresentador do Divertimento em Sequência foi o Manoelito Eduardo. O segundo foi o Antonio de Almeida e o último foi o Wilson Machado. Domingo ,pela manhã, tinha “Clube do Papai Noel”, Seu primeiro e principal apresentador foi o Paulo Cabral, e que já no final foi comandado por Dudu, pai do Wil Nogueira, . À tarde, Augusto Borges fazia a “Festa na Caiçara”. A Rádio Iracema abria seu auditório domingo pela manhã para o “Carrossel da Alegria”, do Matos Dourado. Fechava o domingo com o Armando Vasconcelos apresentando o “Fim de Semana na Taba”. A tarde dos sábados era do “programa Irapuan Lima”, que se proclamava “O Chacrinha do Nordeste”...
A audiência tomava conta da cidade e outros programas foram criados para. atender ao grande público. Terça feira à noite ninguém tomava a audiência do “Noturno Pajeu”. João Ramos apresentava quadros em que pessoas do auditório participavam respondendo perguntas sobre história, geografia, conhecimento geral. Muitos professores compareciam ao auditório, no edifício Pajeu, para ganhar a grana do patrocinador que era o cigarro Globo. A fábrica Araken, ficava na avenida Duque de Caxias, bem perto de minha casa. A sirene dessa fábrica era meu despertador. Ao ouví-la, diariamente, levantava para ir à aula. Foi no programa do João Ramos que conheci o professor e jornalista Augusto Pontes. Ainda muito jovem, exibia seus conhecimentos faturando tudo quanto era prêmio. O professor Gabriel Lopes Jardim também acertava todas. Antes de cada sorteio João Ramos, com aquele vozeirão ia dizendo:
Dinheiro na mão é só tentação,
Dinheiro é mesmo um coloço
Aqui o dinheiro circula ligeiro
Ou vai para o bolso ou fica do pôço
Em todos os programas tinha a prata da casa. Eram os cantores e cantoras que interpretavam os sucessos do momento. Nas duas emissoras se apresentavam Nozinho Silva, o irmão dele, Solteiro, José Lisboa, que depois virou apresentador de programas. Tinha Joran Coelho e Carlos Alberto Laranjeiras. O seresteiro Otávio Santiago, Gilberto e Aloisio Milfon, Guilherme Neto, Paulo Cirino e suas Pastorasa. Entre as cantoras se destacavam, Aila Maria, Estelina Nogueira, Ivonilde Rodrigues e Keila Vidigal que cantava e dançava mambo, para alegria da meninada que chegava cedo para ocupar as primeiras poltronas. A artista oferecia um espetáculo à parte. Toda vez que exibia a calcinha, num requebrado mais ousado que o mambo exigia, o auditório delirava. Naquele tempo essa peça íntima era produto de raro encanto, não andava à mostra como hoje.
Tinha gente que não conseguia perder um só programa. Entre esses “viciados” estavam Marciano Lopes, Josberto Romero, Rocha Lima e o louro Célio, que ainda hoje frequenta programa nos auditórios das tvs, já que não existem mais nas rádios. Os doidos mansos da cidade também eram atraídos por esses programas. Tinha até dois Reis da Voz, os dois queriam de o Chico Viola. Um deles, o baixinho, dizia que era também o rei dos ciganos e o rei dos cornos. Os conjuntos que acompanham, os artistas eram o do Canhoto, na Iracema e o Regional de Moreira Filho, na PRE-9, mas tinha também os conjuntos que animavam as festas nos clubes e se apresentavam como atrações. Os mais famosos eram o do Paulo Tarso , Ivonildo e o do Alberto Mota.
O sucesso dos programas de auditório foi tamanho que se espalhou pelo interior. A rádio Araripe do Crato fez logo o seu sob o comando de Wilson Machado. Repercutiu tanto que o animador, como prêmio, foi chamado para trabalhar nos Associados em Fortaleza. No lugar dele ficou Edilmar Norões. Depois de pouco tempo à frente da Noite de Festas que levava alegria aos bairros nas noites das quintas, Edilmar, também se mandou pra Fortaleza.
As emissoras possuiam também orquestras que acompanhavam, os artistas, principalmente os que vinham de fora. Por elas passaram maestros famosos como Mozart Brandão, Cleóbolo Maia, Correa de Castro e Luiz Assumpção. Muitos músicos dessas orquestras se destacaram e fizeram carreira solo nas emissoras do Rio e São Paulo. Os mais famosos deles são o acordeonista Julinho e o instrumentista Zé Menezes .
Um dia eu cheguei tão cedo ao auditório da Ceará Clube para o Clube Papai Noel que peguei o maestro Luiz Assumpção ensaiando os meninos que iam se apresentar como calouros. O maestro, no intervalo de cada cantor, levantava a tampa do piano e tirava uma garrafa que estava junto às cordas. Dava um gole e guardava. De perto vi que era uma Colonial que ele secou antes do final do ensaio. Hoje acho que a bebida era mais para suportar os meninos chatos metidos a cantor do que para inspirá-lo a fazer músicas como Samariquinha ou Adeus praia de Iracema.
(*) Wilsom Ibiapina (Ibiapina), jornalista