Julho 2013
Lembrando Tarcísio Tavares
“Meus amigos, obrigado por atenderem nosso convite.
Meus colegas acadêmicos, passo a desfrutar da honra de sentar-me entre vós.
Quero expressar a gratidão pela generosa acolhida. Muito grato aos que me elegeram.
Senhoras e senhores, muito me orgulha ocupar a cadeira 39 que tem como patrono meu querido e saudoso amigo Tarcísio Tavares e que tinha como titular o professor José Alves Fernandes. Tarcísio foi homem de rádio, publicidade, teatro e televisão, Muito criativo. Nos anos 60, a programação das emissoras de rádio era escrita. Só os bons podiam improvisar. Tarcísio improvisava.
Na sua luta para mudar costumes, liberar mentes numa Fortaleza ainda provinciana, Tarcísio lançava slogans tipo “Virgindade dá câncer”; “O biquíni é necessário” dizia ao microfone, incentivando a garotada a trocar o maiô inteiro pelo o de duas peças. Edilmar Norões lembra de um Tarcísio apaixonado, fazendo frases para uma linda moça: “ela tem a cor do primeiro minuto da aurora”.
Foi o TT que colocou as festas dos clubes dos subúrbios na ordem do dia. Falava com tanto charme dessas reuniões que atraiu os jovens da sociedade. Muitos trocavam as festas do Ideal, Maguari, Náutico pelas noitadas suburbanas. Foi o jornalista Pádua Lopes quem me chamou a atenção. Tarcísio não precisava beber para estimular suas ações e garantir noites alegres. Pádua acredita que ele era movido a emoções.
O teatrólogo B de Paiva, que foi menino com ele na rua Barão de Aratanha, escreveu: “TT foi uma das pessoas mais significativas da geração dos anos 40/50 do século passado. Muito lutou, sofreu de saúde atrapalhada, mas riscou com a vida e os sonhos do tempo um caminho digno e responsável como profissional e como ser.”
A cadeira 39 era ocupada pelo filólogo José Alves Fernandes, também membro da Academia Cearense de Letras e autor do Dicionário de formas e construções opcionais da língua portuguesa. Não o conheci pessoalmente, só através de sua obra e de depoimentos de amigos que conviveram com ele.
Vou substituir o Mestre com muito orgulho. Sem o saber e o conhecimento que ele detinha, mas com a audácia que move os jornalistas. A Academia é de Literatura e Jornalismo. Ele literato eu jornalista. Como lembrou o político pernambucano Marco Maciel no dia de sua posse na Academia Brasileira de Letras, “em todas as academias não se estabelece vinculação entre patrono, antecessor e sucessor por gênero literário ou profissão. A sucessão é ideográfica. Todos nós somos confrades a trabalhar para uma obra comum”. A responsabilidade é igual, é de todos.
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina). Discurso de posse na Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, em Fortaleza, em 04.05.2013