Janeiro 2009
Uma Paula Pessoa de muita fibra
Anahid Paula Pessoa de Andrade era fi lha de Joaquim Miranda Paula Pessoa e Vitalina Gomes Parente de Paula Pessoa, descendentes do senador Paula Pessoa, fundador de dinástica política no século XIX que mandou no Ceará e que ainda hoje tem representantes na vida publica,como o deputado Tomaz Figueiredo Filho e a senadora Patrícia Saboya. Anahid Paula Pessoa de Andrade foi mulher de muita fi bra. E não apenas como realizadora, fundadora que foi da creche Lucia Sabóia e da maternidade Manoel Marinho nem como escritora da terra,tendo a Princesa do Norte como cenário de seu romance.
Deixou a marca de mulher destemida, capaz de sustentar seus atos e suas opiniões até com o argumento do revólver, quando era necessário.
Foi o que ocorreu na defesa de sitio S.Felipe na Serra do Rosário, em Sobral,contra o MST da época. Conta a fi lha, Dolores Feitosa: “Foi muito tumultuada aquela ação-invasão, expulsão, polícia, justiça e até desforço, com inclusive morte. Anahid defendia bravamente os seus direitos e enquanto portava um revolver, levava um terço que rezava nas tréguas. A questão foi ganha na justiça”.
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Anahid portava-se como leoa defendendo fi lhos e propriedade.
Logo depois da segunda guerra, quando da prisão (incomunicável) de Joaquim Miranda de Andrade por sua filiação comunista, moveu céus e terras no Rio, para onde se dirigiu, com a finalidade inicial de localizá-lo e saber em que prisão se encontrava, e depois de o libertar. Mostrou capacidade de liderança, reunindo mulheres de oficiais, vitimas de idêntica violência e dizendo a um eminente cearense que ocupava alto posto no Ministério do Exercito,em alto e bom som: “ Vocês enlameiam a bandeira nacional que juraram defender. O filho foi solto, depois de um ano de prisão e Anahid de constante vigilância dos agentes da DOPS no Rio o que a levaram a comentar a confusão que levava à mente dos agentes de polícia que foram encarrega-los de seguir a “perigosa comunista” que - pela manhã ia à missa, quando comungava e durante o dia aliciava mulheres dos oficiais, na luta pela liberdade dos presos .O outro filho José Leôncio também foi acusado de comunista e denunciado pelo DOPS no Rio em inquérito sobre a matéria que tinha como figura central, Graciliano Ramos Miranda que partiu, um dia desses, manteve-se fiel a seus ideiais e ironizava as detenções sofridas por conta dele: “Quando fui preso no governo Dutra, li quase toda a Comédia Humana, de Balzac, na prisão. Em 196 nao deu para ler quase nada” ironizava o feroi da FEB, acusado, junto com o irmão José Leoncio -que também combateu na Italia,- de comunista pelo pe. Sabino Loyola e pelo inquerito de reorganizaço do Partido Comunista.
Tempos de D.José
Os tempos de Anahid eram também do bispo,com José Tupinambá da Frota, zeloso defensor dos princípios da Igreja. Que não reconhecia o casamento civil como moral, dignifi cador da união conjugação. Por isso, antes da 2ª. Guuerra mundicial, José Leôncio de Andrade, ofi cial do Exercito, veio a Sobral apresentar a mulher, sua prima, que era espírita e ninguém sabia, à família antes de ir à guerra. A moça foi recebida, cerimoniosamente e só três dias depois ouviu perguntas que estavam na ponta da língua de todos:
” E o casamento, como foi? E o vestido?”
A certa altura parente mais detalhista formulou a pergunta fatal:
“Em que Igreja vocês casaram?”
Inocente, a moça respondeu :
“Não casamos no religioso. Só casamos no civil”.
Foi um susto, o pânico. Então não eram casados? Estavam amancebados e dormiam ali naquele lar cristão! Urgia remediar o problema e sanar o pecado. Correram-se os banhos para o casamento religioso e enquanto ele não era celebrado, o casal foi devidamente apartado. Não iam mais poder dormir mais juntos, em pecado mortal, até que sua união fosse abençoada pela Santa Madre Igreja. O militar foi deslocado para o quarto dos pais e ela fi cou sob a vigilância da avó Dondom.
(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.