Fevereiro 2010
Guerra ao Carnaval
Uma batalha que o bispo dom José Tupinamba da Frota sempre perdeu: a movida contra o Carnaval. Tal festa era animadíssima em Sobral, atraindo foliões de Fortaleza e das cidades vizinhas, apesar da cara feia dos padres e da ameaça de negar os sacramentos da confissão e da comunhão aos que dela participavam.Nos seus ultimos anos,nao esfriara o fervor do antistite contrario a tais folguedos:
Era tal o zelo do bispo pelo ofício que, quando residia no sobrado onde hoje se instala o Museu sé, ficava depois da meia-noite das terças-feiras de Carnaval, da janela do prédio, observando os casais que saíam do clube Tabajara porque, infringindo as regras, continuavam a dançar e a se divertir já na quarta-feira de Cinzas.
Este zelo tinha seus limites pois não voltava os olhos para o interior de sua residencia, onde o pupilo querido padre José Palhano de Saboia arrecadava fama de dom Juan, difundida nas manchetes do jornal Diario do Povo, de Jader de Carvalho.
A 5.2.1921, o bispo era até leniente sua pregação contra os festejos:
Aos verdadeiros católicos, pois, recomendamos, quando não fosse por outras razões, pelo bom exemplo que devem dar, levem em conta o grande bem que lhes pode advir, fugindo às loucuras do carnaval que quando muito dura, são apenas três dias. Com certeza, as alegrias de três dias, por mais fortes que sejam não compensam a santa vaidade de uma alma que, aos pés de Nosso Senhor pode apresentar, sem fingimento, aquele ato de mortificação espontâneo e voluntário.
Já condenada pelo édito episcopal, A Lucta registra:
Pelo Carnaval do ano passado, correu a notícia de que os padres não dariam comunhão às senhoritas que fossem aos bailes de carnaval. Como o carnaval hoje em dia vem sendo considerado a única coisa séria neste país, manifestamos a nossa estranheza a esse ato e por isso novas perseguições desencadearam-se sobre as nossas cabeças. Não recuamos, enfrentamos aquele regime do “crê ou morre”, perdemos alguns assinantes e algumas amizades, mas tivemos o prazer de no dia seguinte, não vermos repetida a esdrúxula proibição de 15.11.1921.
Na década de 1940, quando passamos a residir na Princesa do Norte, a guerra persistia. Meu pai, presidente da Congregação Mariana de Moços, foi levado a expulsar, de suas fileiras, dois congregados, Raimundo Machado, posteriormente o maior exportador de cera de carnaúba do Ceará, e José Ribeiro Dias porque dançaram o Carnaval, em família, com as respectivas mulheres.
Era o que me escrevia o vigário geral da cidade daquele tempo, Monsenhor Olavo Passos, em carta de 26.10.1982:
Os tempos eram diferentes e se exigia muito de um membro da Associação religiosa e muito mais do Clero e das religiosas. Padre, assistisse a uma festa dançante, pelo menos era assim no Ceará, ficava suspenso de Ordem.
E hoje como é? Padre, lá para o Sul, sai às ruas dançando carnaval no “Bafo de Onça” & Cia. Por esse rigor, foi o Raimundo Machado, despedido da Congregação Mariana. O tempora! O mores! Isto se diz de cada época.
Também no que diz respeito às festas populares, não era menor a resistência do clero. Aí não ficava só nas advertências.
Considerava de “grande proveito que a polícia tomasse providências enérgicas com as vadiagens do coco.”
Segundo o jornal:
A aglomeração de pessoas, numa promiscuidade pouco recomendável e muito favorável a grandes desatinos e escândalos, só podia dar o resultado que aí temos: desrespeito a ingênuas mocinhas do povo e este infernal alarido noturno que não só perturba o sossego das famílias, mas dá também uma idéia pouco lisonjeira da atividade da nossa polícia.
Já seria muito lamentável que o séquito do coco se compusesse só de rapazes; o que de todo é lamentável é saber-se que, com os rapazes, vão também ao coco alguns homens casados que não respeitam a sua condição.
O pior, de acordo com a folha católica, é que: “Se os promotores do coco não encontrassem a seu favor apoios ‘tão nobres e tão dedicados, decerto, eles não se atreveriam a perturbar tão facilmente a quietude da nossa cidade.”.
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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.