Maio 2008
Por que publicar livros
Conheo gente qualificada, que tem o que dizer e sabe como dizer, que no quer publicar livros de sua autoria de jeito nenhuma. Por preguia. Por pudor. Medo da critica. Receio de se mostrar menos culto do que realmente ? Ignoro. O que sei que os livros, que escrevo no so l grande coisa, mas vou publicando. J passei dos vinte, inclusive dois editados aqui em Portugal. Comeo por amigo que possui cultura, tem facilidade de se comunicar e desenvolve temas na imprensa com desenvoltura mas no se arriscar a tal.
Quando lhe pergunto das razoes de tal inibio, explica honestamente: Orgulho. Porque tenho medo de ser criticado. Um outro se ustifica, alegando que quem no publicou livro at os quarenta anos, depois disso que no se anima a faze-lo. S me meti nessa de publicar livros depois que me associei a Dorian Sampaio para editar o Anurio do Cear. Fizemos, juntos, trs edies. A ultima das quais,quando me decidira residir em Braslia onde parecia se abrir cenrio mais amplo, mais livre para o exerccio da reportagem poltica, por fora de abertura lenta, segura e gradual, prometida pelo general Geisel. Como era o ultimo livro, de cuja elaborao participava, fiz o possvel e impossvel para que o mesmo tivesse mil paginas. Era minha vaidade assinar livro to volumoso, intuito de que no avisei o scio.
Criei gosto. Por conta disso, depois enfeixei artigos sobre tecnocracia e poltica no Cear a que dei o titulo de Ideologia do favor, curral e cabresto do qual amigo disse que a nica coisa que se salvava no volume era o titulo. Isto sob o comando de Dorian, embora no mais fosse seu scio e j residisse em Braslia.
Depois foi a vez de Sobral do meu tempo, impresso na grfica do Senado e devidamente pago. Era o que chamo livro preguioso de jornalista ou livro de jornalista preguioso para reunir nicas, artigos, reportagens, pesquisa histrica tudo para resultar num volume que ficasse em p, sozinho, como queria Milton Dias. Nunca dei valor ao livrinho que continua inclusive erro de montagem da capa ilustrada com foto do sobrado do bispo, erro para que, na noite de seu lanamento em Sobral, me chamou ateno amigo querido, o saudoso Oswaldo Rangel Neto. S prestei ateno a este filho depois de ouvir de Jorge Amado, em jantar chez Roseana Sarney: Ai tem material para quatro a cinco romances. A este livrinho desprezado estava reservado me proporcionar outra grande alegria.
A segunda edio do dicionrio de Aurlio Buarque de Holanda, de milhes de exemplares, trouxe verbetes, com citao dele. Assim o nome de Sobral, Padre Palhano, Chico Monte, seus personagens circulam pelai, h quase vinte anos, graas a Sobral do meu tempo.
Por que lano livros?
Porque amo escrever e comunicar aos outros o que vi, senti, ouvi. E tambm pela iluso da imortalidade. O livro garantia dela, muito mais que riqueza, poder, monumentos. Ele dura, alm dos sculos.
Meus livros, reconheo, no so grande coisa mas constituem, como todo livro, um grito lanado ao futuro, como aquelas garrafas, contendo recados, mensagens, se lanavam nos oceanos. O que desejo para eles que sejam lembrados. Que algum, no futuro, e escrevendo a respeito de Sobral de seus polticos, de seus padres, deles se lembre e os cite numa nota de rodap, de p de pagina. Ai meu recado ter chegado aos posteros, o que espero e desejo.
O pior de publicar livros, na provncia, a falta de distribuio. O autor tem de se humilhar, diante do livreiro, para que faa o favor de expor e vender suas obras o que ele s faz, em ltimo caso. Um dia desses, acabara de receber noticias de Lisboa de que mais um livro meu vai ser impresso e editado em Portugal, com prefacio de Almeida Santos, um intelectual de primeira linha que concorre consigo mesmo por ser homem publico de primeira linha, dez vezes ministro de Estado, presidente do Partido Socialista que leu meus livros e prestigiou, ano passado, o lanamento de Clero, nobreza e povo de Sobral, na residncia do embaixador de Portugal.
Pois bem. Fui a uma livraria, aqui, em Braslia, levando dois livros, indagando se podiam expo los e vende-los. Nada. A livreira no mostrou o menor interesse sobre o livro que trouxe, de volta para casa, morto de humilhao. Minha vingana que a obra estar em breve, se editada forma as montras (as vitrinas) das livrarias de Lisboa, como foram os outros dois.