Boa madrugada, terça-Feira, 16 de Julho de 2024
Casa do Ceará

Imprima




Ouça aqui o Hino do Estado do Ceará



Instituições Parceiras


































:: Jornal Ceará em Brasília


::Odontoclínica
Untitled Document

Arbil 2012

Imaginação ou realidade?

Ela se acercou, linda e loura, nos seus dezoito anos, com um livro à mão, e me pediu que escrevesse, nele, algumas frases, alguns versos, sobre a vida, sobre o mundo, quem sabe sobre ela, algumas palavras em forma de mensagem, um recado meu só para ela.

A dúvida me assaltou, de cheio, questionando o que poderia ser dito, ali, no livro de pensamentos, que a satisfizesse, e que não fosse piegas e nem estivesse em desuso. Numa época em que ‘‘se’’ participa de todo projeto de vida ou de bem, admitindo-se sempre a possibilidade de derrota e propondo-se uma fuga como alternativa ao ideal, ao amor, a quem se elegeu o mais querido, era uma responsabilidade lançar uma mensagem. ‘‘Se eu não passar no vestibular eu...” ‘‘se o casamento não der certo eu...’’ ‘‘se compõe uma procissão de possíveis fracassos, onde se admite perder, deixar-se enganar, não atingir a meta apesar da auto suficiência e de todo ceticismo.

Há alguns anos, eu não me surpreenderia com um pedido igual, tão comuns eram os diários, os álbuns guardados em segredo, onde manchada a tinta borrada a letra, a página traía a dona dos protestos de amor, numa evidente demonstração da emoção que não conseguira reter, e rolar em lágrimas pelo rostinho doce. E as flores murchas, ressequidas entre as folhas do livro eram mais versos que se negara a escrever, por medo de ser o segredo descoberto.

Decidi adiar para um outro dia a mensagem à universitária, decidida e moderna, que falava, desenvolta, de Piaget, apregoava melhor distribuição de renda e pleiteava terra para os índios, revoltada com a injustiça. Aceitou as desculpas que lhe dei, e, sem perda de tempo, pediu a uma senhora idosa que estava ao meu lado, que levasse seu livro e escrevesse uma frase, um pensamento.

Passado um tempo, eu já nem me lembrava, e outra vez ela chegou, de livro à mão, cobrando-me a promessa. E então, indaguei, o que lhe escreveu a experiência? convencida de que superados os velhos conceitos e tabus, ela tivesse apenas aceito, e com condescendência, a mensagem da senhora.

- Ah! É o que há de mais lindo no meu livro, o que eu precisava ter para guardar.

Comecei a folhear, curiosa, e lá estavam as frases, em caligrafia legível, um pouco trêmula, que tanto apaixonaram a menina! Que mensagem, pensei, podem ter oitenta anos, para alcançar uma universitária hoje?

Com a alma tão cedo calejada, das notícias dos meios de comunicação, das lições que a televisão há tanto lhe transmite, propalando a violência, o desamor, a traição, a infidelidade, que palavras terá dito para encontrar guarida no coração da jovem moderna, sem meias palavras, autêntica e sem subterfúgios?

Eram simples, quase uma fórmula de como ser feliz, numa linguagem coloquial e amiga. Uma definição interior perante a vida, firme e decidida, coerente e equilibrada, propondo usar com sabedoria os dons e os próprios talentos. E começava assim: “sê bom, sê justo, pratica o bem com altivez e desinteressadamente...”. E retratava, em poucas linhas, um Homem, na exata medida da palavra.

A surpresa vinha no fim. Ao concluir, para explicar aquilo que escrevera, ela contava que aos dezoito anos, também jovem e linda, pedira ao avô que lhe escrevesse alguma coisa no seu livro de lembranças. E ele lhe dera aquelas mesmas frases, “ama, ama com sinceridade; crê no amor e na amizade” que agora transcrevia, aos oitenta anos, copiando do seu livro de páginas amarelecidas e desbotadas pelo tempo. Levara

adiante o que lhe causara, há muitos anos, enlevo e exaltação. Fiquei refletindo, e questionando a integridade do homem que, distan¬ciado no tempo, mudados os conceitos, mudados os costumes, a mesma mensagem recebe acolhida, e tem guarida tantas gerações depois!

Recebera a universitária, nos sábios ensinamentos, uma preciosa herança. No seu coração, gravadas, as palavras do seu tataravô...

(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora

Untitled Document

Regina Stella S. Quintas
Jornalista e Escritora
studartquintas@hotmail.com

                                            
:: Outras edições ::

> 2015

– Outubro
Camaleões à solta

–Setembro
Um instante de Solidariedade

> 2015

– Novembro
Coronel Chichio

– Outubro
Uma ponte...

– Setembro
Um verbo para o encantamento

Agosto
Há vida lá fora...

> 2014

Setembro
Seca: a tragédia se repete
Agosto
Seca: a tragédia se repete
Julho
Gente brava
Junho
Dia da Alegria
Maio
Precioso bem
Abril
Aquele velho “OSCAR”
Maro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Fevereiro
Recado para quem sai
Janeiro
Rota para a vida

> 2013

Dezembro
Na festa do tempo, um brinde à vida
Novembro
Em velha trova do tempo. Trinta dias tem setembro. Abril, junho, novembro...
Outubro
O Gênio e o Homem
Agosto
O Gênio e o Homem
Julho
Um presente de vida a Mandela!
Junho
Dia da Alegria
Maio
Precioso bem
Abril
Aquele velho “OSCAR”
Maro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Fevereiro
Recado para quem sai
Janeiro
Rota para a vida

> 2012

Dezembro
As lições de amor e ternura fazem eterno o Natal
Novembro
As luzes estão acesas
Outubro
Amarga ironia
Setembro
O trono vazio
Agosto
A última trincheira
Julho
Parece que foi ontem...
Junho
Atores de todos os tempos
Maio
Seca: a tragédia se repete
Abril
Imaginação ou realidade?
Maro
Um Século de Sabedoria
Fevereiro
Trágedia e Carnaval

> 2011

Novembro
Trilhas da vida
Setembro
Um mercenário a caminho
Agosto
Usar sem abusar
Julho
Como as aves do céu
Maio
Quem se lembra de Chernobil?
Junho
Sino, coração da aldeia...
Maio
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
Abril
Bonn, Bonn
Fevereiro
Depois da festa...
Janeiro
Um brinde ao Novo Ano

> 2010

Dezembro
Nos limites de um presente,um presente sem limites
Novembro
Homem total
Outubro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
Setembro
Um tempo que se perdeu
Agosto
Império do Medo
Julho
Acenos de Esperança
Junho
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
Maio
Poema Impossível
Março
Numa tarde de verão
Fevereiro
Caminhos de ontem
Janeiro
Muros de Argila

> 2009

Dezembro
Um Brinde Vida
Novembro
A vez da vida
Outubro
Gente brava
Setembro
Gente brava
Agosto
Lição de vida no diálogo dos bilros
Julho
Camalees solta
Junho
Síndrome de papel carbono
Maio
Um tempo que se perdeu


:: Veja Também ::

Blog do Ayrton Rocha
Blog do Edmilson Caminha
Blog do Presidente
Humor Negro & Branco Humor
Fernando Gurgel Filho
JB Serra e Gurgel
José Colombo de Souza Filho
José Jezer de Oliveira
Luciano Barreira
Lustosa da Costa
Regina Stella
Wilson Ibiapina
















SGAN Quadra 910 Conjunto F Asa Norte | Brasília-DF | CEP 70.790-100 | Fone: 3533-3800 | Whatsapp 61 995643484
E-mail: casadoceara@casadoceara.org.br
- Copyright@ - 2006/2007 - CASA DO CEARÁ EM BRASÍLIA -