Dezembro 2009
Mário Garófalo: um mestre sem cerimônias
“Não Fala todas as línguas, mas se comunica com todas as `gentes’ do mundo’:
Entre nuvens da poeira vermelha, o grande mutirão da cidade ia crescendo, qual cogumelos depois da chuva. Um ítalo-brasileiro-cearense aqui pousou em 19 de abril de 1960. Era o repórter Mario Garófalo, dos “Diários Associados”, chegando para ficar no cerrado. Esse ficar já faz quarenta e três anos.
Nas solenidades de inauguração da nova capital, além da Agência Meridional, dos “Diários Associados”, havia uma legião de representantes das tevês, rádios e jornais pertencentes à “taba” Tupi, do grande morubixaba Assis Chateaubriand. As revistas O Cruzeiro, A Cigarra, as rádios Tupi do Rio e Tupi de São Paulo, as Tevês da rede e até equipes do Correio do Ceará e do “Unitário”, além da Ceará Rádio Clube - PRE-9. Toda essa “troupe” veio reforçar a equipe pioneira da recém-criada TV Brasília e da S/A Correio Brasiliense. Esse mundaréu de gente não era unido, pelo contrário, havia uma acirrada disputa e muita ciumada. Numa tirada irônica, o velho jornalista potiguar Di Macau, dizia: “São todos dos Diários Dissociados”. Mas no fim, tudo deu certo.
No dia 20 de abril, no Palácio da alvorada, lá estava Mario Garófalo, em traje de gala, entrevistando autoridades e convidados especiais com a mesma desenvoltura e desembaraço com que “cobria” o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro. Ministros de Governo, senhores e senhoras engalanados - o “creme de Ia creme”, como diria Jacintho de Thormes, o Maneco Muller.
Na madrugada do dia 21, Mario, com o faro de repórter, depois de deixar os convidados da grande festa, tomou rumo da trilha do cerrado escuro, onde estava sendo construída a sede do Correio Brasiliense. Lá, tomou conhecimento que o espalhador de tinta, das velhas máquinas recicladas do Diário de Mato Grosso (Diário da Serra), tinha quebrado e o primeiro caderno do jornal não poderia ser rodado.
Mesmo com o traje de gala, Mario pegou o tosco jipe Willys, de capota de lona e se mandou para o burburinho que era a vida na Cidade Livre, onde os “trabalhos” eram diuturnos: casas comerciais, bancos, bares e boates, funcionavam 24 horas por dia. Foi fuçando até que encontrou o torneiro Nascimento, que prontamente fez a solda em liga especial.
O certo é que o primeiro caderno, assim como os demais, que já tinham chegado à Nova Capital a mais de uma semana, vindos do Rio, da primeira edição do Correio Brasiliense, circularam no dia 21 de abril de 1960, cumprindo a promessa do “Velho Capitão” Chateaubriand à JK. Tão difícil como imperativo, a mensagem a Garcia estava entregue. Ibanor Tartarotti, Edilson Cid Varela, Ari Cunha, Elton Campos, João Leão Filho, Jairo Vladares, Laércio Paiva e outros abnegados, seriam responsáveis pela seqüência de rodarem o primeiro diário da nova Capital, um misto de loucura e teimosia, marcas das grandes aventuras.
Na tarde do dia 21, mais uma façanha de Mario Garófalo, ousada e atrevida como da saga do Velho Capitão. Dentro de uma sala da TV Brasília, com as paredes ainda sendo rebocadas, qual um Quixote, pegou sacos vazios de cimento, escada, cordas, baldes e cavaletes, recrutou e reuniu pedreiros e ajudantes numa formação tal e qual para fotografia de equipe de futebol e cobrou do Lincoln e do espanhol Alfredo um registro tipo “Imagem e som”.
Foi o mais risonho grupo de candangos, ali postados, ao som de um pente de plástico, emboçado por folha de papel celofane, garantindo o acompanhamento musical e fez o grupo cantar músicas regionais a começar pelos xotes e baiões de Luiz Gonzaga, Zé Dantas Gilvan Chaves e Humberto Teixeira.
“Seu Delegado, digo com sinceridade, eu sou filho de uma família que não gosta de brigar”....; “Acertei meu casamento co a filha de Zé Eleutério... Eu quero e ela queria”...; Mandacaru quando fulora lá na seca, é o sinal que chuva chega no sertão “....
No meio daquela estripulia, adentrava um grupo de parlamentares e convidados especiais para visitar as instalações da nova tevê. O cenário continuava o mesmo e o “variety” prosseguia. As enormes câmeras de então se entrelaçando, lâmpadas do cenário e válvulas queimando, as entrevistas se sucedendo. Com sua inconfundível gravata borboleta, Mario interrompia as entrevistas para comunicar ao distinto telespectador que as Casas Neno em Brasília, Organizações Antonio C. de Oliveira e Móveis Planalto, já tinham vendido mais de 200 televisores “ABC”, Colorado, Philco, etc. A audiência era ainda enriquecida pelos aparelhos trazidos pelos congressistas que já estavam se instando em suas novas residências. E acrescentava que esta era “uma imagem da caçula das tevês Associadas - uma emissora candanga - a TV Brasília em transmissão experimental”. E a imagem do curumim aparecendo na tela....
(*) José Colombo de Souza Filho (Fortaleza), jornalista, escritor, servidor públicor.