Julho 2013
Um presente de vida a Mandela!
Mandela...um verso, um poema. Um gemido. Um lamento, um paroxismo de dor. Uma luta sem trégua contra a injustiça e a discriminação. Um homem proclamando um ideal. Um herói defendendo sua raça, seu povo, o direito de ser alguém.Um negro.
Por incitar a luta e se revoltar contra o governo branco, tirano e cruel, Mandela deixou de existir, oficialmente, proibido de escrever seu nome, publicar sua foto nos jornais, amordaçadas as suas palavras, algemados os pulsos. Mas não sufocado o ideal.
Quase trinta anos de reclusão pagou o líder, pela ousadia de iniciar uma revolta contra o apartheid. E perdeu o contato com o mundo, numa tentativa vã dos brancos de fazê-lo esquecido e sepultado entre os altos muros de uma prisão perpétua.Apagado, amordaçado, num protesto silencioso, a sua mudez equivalia a milhões de gritos de guerra, de rebelião, ecoando pelos rincões de sua terra natal, ultrapassando fronteiras, se alardeando, se multiplicando, chegando aos confins do mundo.
Por força do ideal, nervos e músculos em oblação, pensamento e coração em permanente vigília, Mandela atraiu todo anseio de liberdade e para ele se voltou como a um ponto de referência, a África injustiçada, a África sangrenta, a África massacrada. E ninguém, por mais ódio ou rancor, ousava tocá-lo, como se nele vivesse, como uma dádiva dos céus e uma eleição a própria alma da negritude.
Envelhecendo no cárcere, dezoito anos de trabalhos forçados, tentaram suborná-lo, oferecendo-lhe a liberdade em troca de uma declaração: renunciar a violência. Um gigantesco Não sensibilizou o mundo inteiro pela firmeza de propósitos! Abdicava da liberdade, mas não recuava, repetindo, obstinado que a sua libertação se associava irremediavelmente à libertação dos negros sul-africanos. E ao aparecer como cidadão livre, ao deixar a prisão, então um velho de cabelos brancos, magro, alquebrado, comovida a humanidade chorou, ante a força inquebrantável dos 75 anos de Mandela!
Vencendo séculos de opróbrio e humilhações, pela primeira vez os negros sul-africanos se encaminharam para as urnas onde escolheram, lado a lado com os brancos, com os mestiços, o seu presidente, Mandela. O revolucionário de ontem, o ativista, o relegado, o recluso, o prisioneiro. Findava-se a servidão, sepultado o apartheid.
Sobre-humana tarefa para um novo presidente, num chão minado de ódios e ressentimentos, entre os brancos que defendiam as antigas regalias e a expectativa dos negros, à espera imediata de um milagre, ante a promessa de conseguir “uma vida melhor para todos”, como propalava, em slogan, a campanha de Mandela.
Perfilava-se o mundo frente a África Negra do Sul, no seu heróico esforço de manter-se viva. E de pé.
Diante de Mandela, emocionada, a humanidade reverenciava o seu ideal de liberdade finalmente aceito.
No lusco-fusco do dia que começava, madrugada ainda, no meu jardim brotou uma rosa vermelha. Um presente de vida a Mandela!
Hoje, persisto na minha homenagem reverenciando o herói. E, de pensamento e coração, a ele ofereço milhares de rosas vermelhas. Um presente de vida a Mandela!
(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora