Agosto 2013
As citações que marcam o cotidiano de Osvaldo Quinsan
Aos 93 anos, Osvaldo Quinsan conserva suas boas práticas. Sai de casa cedo para tomar café com os amigos e, comentar as notícias do dia. Há décadas segue seu caminho. Na Praliné, na Brunisia, no biscoito Mineiro, no Marzuck. Sempre com uma esferográfica no bolso. Quando quer explicitar o que pensa saca a caneta e pega um guardanapo. Tem um traço que desequilibra: odeia a burrice, ”a pior coisa do gênero humano”. Mas tem um filho e uma atividade caseira: suportar a gralha de seus papagaios e pintar traços geométricos, linhas paralelas ou cruzadas em direção ao infinito nas cores azul, verde e vermelha, com diferentes tons. Pincéis, tintas e telas amenizam o viver austero a que se impôs.
Morou 32 anos no Rio de Janeiro. Durante algum tempo na ladeira da Glória, ao lado do hotel do mesmo nome. Chegou a Brasília em 1974 e não saiu mais. Já são 39 anos. Esteve no núcleo do poder como figurante. Trabalhou na Secretaria de Imprensa da PR, no governo Geisel. Orgulha-se de ter contribuído para a criação do Parque da Cidade.
Humanista carrega uma vasta cultura, resultado de leituras seletivas de autores que célebres e densos, como Schopenhauer, Pitigrili, Eça de Queiroz.
Carrega uma seleta de citações, que são encaixadas nos assuntos objeto de bate papos matinais nos almoços com os amigos, com precisão cirúrgica, mordacidade, conveniência e irreverência. É fiel à sua mente e à sua história.
De Schopenhauer: “Ninguém é digno de inveja. Todos somos dignos de pena”. Outra: “Enquanto os néscios procuram o prazer, os sábios evitam a dor”.
De Eça de Queiroz: “A vida é feita de desapontamentos”
De Pitigrili: “Sondar ou pesquisar o passado da mulher que amamos é tão imprudente quanto visitar a cozinha de um restaurante antes da refeição”. Outra: “Eram mais do que inimigos. Eram irmãos”.
De Quinsan: “as virgens namoram com um e flertam com todos”. Outra: “A nossa vida é uma sucessão de acasos”. Mais uma: “O adultério tem salvado muitos casamentos”. Mais outra: O “sexo noturno deve ser restrito a maridos e operários”.
Leu toda a obra de Eça, 27 livros. Conhece tudo de seus personagens.
Leu toda a obra de Machado de Assis, Joaquim Manuel de Macedo, Julio Ribeiro, Humberto de Campos, Nelson Rodrigues, Aluísio de Azevedo e Fernando Sabino. Gostou muito do livro de Medeiros Albuquerque, “Quando eu era vivo”, memórias póstumas, por motivos óbvios, já que relatou tudo sobre as mulheres que seduziu e conquistou. Tinha uma tática de conquista: despachava um amigo para namorar as empregadas das mulheres que pretendia. O cidadão recolhia o máximo de informações e repassava para ele. Convidava a mulher a ir ao seu escritório para tratar de assuntos de seu interesse e lá, em lances de aparente para-normalidade, relatava tudo que sabia sobre ela. Dessa forma dormiu com quem quis. Na época, uma tática.
Em 1941, Osvaldo Quinsan fora convocado para o 6º. RI de Caçapava, SP, Passou a cabo em 1º. lugar no concurso com 200 soldados.
Seus irmãos lá serviram Italo e Gilberto Quinsan. acabaram na FEB na Itália, depois que fizeram curso de sargento. Osvaldo Quinsan escapou porque não era artilheiro, mas datilógrafo da Casa das Ordens.
Em 1942, chegou ao 6º. RI, de Caçapava, solicitação do general Pedro Aurelio de Gois Monteiro, chefe do Estado Maior do Exército, no Rio de Janeiro, solicitando um cabo datilógrafo para trabalhar na organização da Força Expedicionária Brasileira. Foi indicado pelo comandante, capitão Bonorino, e desembarcou na 1ª. secção, ao lado do general Henrique Lott, subchefe do EME.No Rio, fez curso de 1º. sargento no Batalhão da Guarda Presidencial na rua dom Pedro I, em São Cristovão, cujo comandante era o cel Buck Jones. TIrou o 1º. Lugar Passou a trabalhar no Estado Maior das Forças Armadas-EMFA, na 3ª. secção. Lá ficou por 16 anos, saindo como 2º. Sargento sendo nomeado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra Tesoureiro Auxiliar do Ministério da Fazenda.
Enquanto servia no EMFA, na Praia Vermelha, de dia, Quinsan deu curso ao seu projeto acadêmico, à noite, tendo estudado Administração Pública no antigo Departamento Administrativo do Serviço Público- DASP, que funcionava no edifício Andorinhas, no Castelo. entre outros, com Wagner Estelita Campos, embaixador Joao Augusto de Araujo Castro, Afonso Arinos de Melo Franco, Aliomar Baleeiro, Belmiro Siqueira e Alberto Guerreiro Ramos. Depois do DASP, Quinsan fez a Escola Superior de Guerra, a “Sorbonne”, em 1962, e dois cursos nos Estados Unidos sobre filosofia da tributação federal e evolução da administração econômica. Com conhecimento de gestão pública, capacitou-se junto a Castello para o desempenho das missões que recebera no Ministério da Fazenda: administrar a Receita Federal e levar a Casa da Moeda a imprimir o nosso dinheiro.
JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.