Abril 2010
Acopiara e o Seminário do Crato
Não estive no encontro dos ex-seminaristas do Seminário São José do Crato, realizado em 7 de março de2010. Lamento Relatos de Auriberto Medeiros Gurgel, Jaile Gurgel e José Jezer de Oliveira revelam o impacto provocado, pela feliz iniciativa liderada por João Teófilo Pierre. O Seminário guarda uma estreita relação com Acopiara. Todos que terminávamos o primário tínhamos com 1ª opção o Seminário para chegarmos ao ginásio. Por lá passaram desde dom Newton Holanda Gurgel, como os ex-seminaristas Luis Guilherme, Jaile Gurgel, Celso Albuquerque de Macedo, Lincoln Silva, Francisco Gurgel Holanda, Francisco Gurgel Medeiros, Cícero Barbosa da Silva, JB Serra e Gurgel, Napoleão e João Bosco Holanda Gurgel, Auriberto Medeiros Gurgel, Francisco Couto, Vicente e Francisco de Paula Gurgel Cavalcante.
As manifestações contidas em O Levita (Ano IV, n° 13) subscritas por Antonio Othon Pires Rolim, Professor José Teodoro Soares, Raimundo de Oliveira Borges, Alcimar Rocha, Itamar Filgueiras, Chico Zé, J.Linhares Filho, José Erlânio Alencar, Geraldo Lemos, dom Newton Holanda Gurgel compõem um rosário de reflexões sobre um passado das gerações que por lá transitaram, na trilha de encontrar um paradigma de vida.
Inaugurado em 03.03.1875, há 135 anos, por dom Luiz Antonio dos Santos, 1º bispo do Ceará, até 1967, teve 1.858 alunos e ordenou 139 padres.
Criado com finalidade especifica de formar sacerdotes para a Igreja, é certo que funcionou como ginásio e colégio, em regime de internato, muito embora a Diocese do Crato também mantivesse o Colégio diocesano, em regime aberto. Crato foi cidade pólo da região sul do Ceará (Cariri), antes de Juazeiro do Norte, e atraia os meninos que concluíam o curso primário inclusive de cidades próximas de Pernambuco, Bahia, Piauí e Paraíba.
Um meticuloso trabalho elaborado pelos padres Antonio Teodosio Nunes, Antonio Rodrigues Maia e João Bosco Cartaxo Esmeraldo, analisa os períodos de fechamento em 1877, por causa de uma seca brava que assolou o Ceará e a varíola, em 1891, por causa de crise e de redução de matrículas, 1897, as vésperas da República, causas econômicas, 1915, falta de alunos vocacionados ou não, 1967, redução de matrículas e de ordenações. O período mais longo de funcionamento ininterrupto foi de 1922 a 1967, 45 anos. Desde 1995 que o Seminário funciona de forma continuada. O período de 1950 a 1959 foi considerado “a época mais florescente”, com 531 alunos e 23 ordenações. Quanto às ordenações, o período mais importante foi de 1889/1990, com 40 alunos e 9 ordenações. Destaca-se que no período de 1930 /1939, o Seminário acolheu 219 seminaristas e ordenou 27 padres.
O seminário do Crato foi criado como complemento do Seminário de Fortaleza, instalado em 18.10.1864. Consta que o padre Cícero Romão Batista, em 1871, sugerira a sua criação. Dom Luiz pediu à Congregação dos Lazaristas, que foram do Rio de Janeiro para o Crato, para a implantação do “Seminário de taipa e palha”, com 41 alunos em 1875.
A longa reitoria do monsenhor Pedro Rocha de Oliveira, de 1944 a 1959, de 15 anos, dotou o Seminário de um plano pedagógico, com reconhecimento e equiparação do currículos aos dos colégios leigos. Abriu-se o Seminário para a sociedade civil organizada e para as classes médias em estruturação.
O Seminário Menor fechava um ciclo na vida dos indivíduos. O Seminário recebia-os como crianças, rompendo o cordão umbilical com seus pais e família, e os devolviam como jovens, próximos do serviço militar e da usar a cabeça na luta pela sobrevivência. Se me perguntassem o que o Seminário ajudou de útil, responderia: a pensar, a refletir, a decidir, a ser gente. O ensino tinha qualidade. A educação também, com aulas de civilidade. O Seminário Maior, em Fortaleza, projetava o adulto para o sacerdócio, com todas as conseqüências do serviço a ser prestado à Igreja e aos homens. Alguns tiveram chances de sair de Fortaleza para o Vaticano, melhor se preparando para o exercício do ministério religioso.
Uma das coisas que mais me intrigava era a leitura do martiriológio romano. Contaram-me que houve época em que a leitura era feita em latim.
Alcancei em português. Não havia jornal , radio e tevê. No fim de noite, apenas a zoada de uma amplificadora (serviço de som, no alto do Seminário) com quem aprendi o Hino Nacional do Crato. Mas o martíriológio tinha um ponto bom: o leitor seria premiado com a comida entregue aos padres, na mesa principal em frente aos bancos em que se sentavam os seminaristas. Não que fosse muito diferente, E tinha um ponto complicado a brutalidade como eram descritas as sessões de tortura e martírio. Se expremesse uma folha do livro certamente pingaria sangue...
(*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor e ex- Seminarista do Crato (1954-1958).