Outubro 2009
Acopiara - Dom Newton 60 anos de padre, 30 anos de bispo
Dom Newton Holanda Gurgel – o bom padre de Deus - completa em 17.12.2009 60 anos de ordenação sacerdotal, sendo 30 de bispo, próximo aos seus 90 anos de vida dedicados ao Cristo Salvador. Descobriu cedo sua vocação.
Nascido em Acopiara, em 1923, na família Gurgel do Amaral Valente, de um grupo de 16 irmãos, filho de Chico Henrique e Aurélia, neto de Henrique e Joaninha, estudou com a Tia Lídia, professora leiga, de talento e cultura, que primava em transmitir conhecimento, numa época que não havia escola pública nem educação formal.
Aos 13 anos, em 1937, já estava no Crato, a 300 km de Acopiara, para entrar no Seminário, onde fez seus estudos menores, em seTE anos de idas e vindas. Os estudos maiores os fez , de Filosofia e Teologia, em Fortaleza e em João Pessoa. Teve um companheiro ilustre, dom José Freire Falcão que acaba de completar sues 60 anos, 1º cardeal cearense.
Foi ordenado padre em Milagres, em 17.12.1949 por dom Francisco de Assis Pires, 2º bispo do Crato, (1931-1959),rezou sua 1ª. missa em Acopiara, em 1º.01.1950, com a presenças do patriarca Henrique Gurgel do Amaral ValenTE.
Foi vigário de Icó, cooperador em Iguatu, voltou ao Crato para ser diretor espiritual, depois reitor do Reitor do Seminário (1959/1962), vigário cooperador em Juazeiro e pároco em Campos Sales, de onde voltou ao Crato para a Cúria Diocesana ,primeiro, como bispo auxiliar (1979-1994) de dom Vicente de Paulo de Araújo Matos, 3º bispo do Crato, (1991-1992) e depois como bispo diocesano (1994-2001), o 4º, tendo sido sagrado no Vaticano pelo Papa João Paulo II, em 27 de maio de 1979.
Guarda recordação da conversa particular que teve com João Paulo II que pensava colocar nos altares do lado de dentro da igreja um santo brasileiro, canonizando padre Cícero Romão Batista, há muito tempo colocado nos altares do lado de fora pelos romeiros do Nordeste, do Cariri e do Juazeiro.
Guiando-se pelas normas da própria igreja ponderou ao Santo Padre que se informasse sobre a condição eclesiástica de padre Cícero, face as decisões da Sagrada Inquisição Romana Universal de 04.04.1894, de 19.02.97 e de 01.09.1898, que acabaram por o proibir de pregar a palavra de Deus, ouvir confissões e dirigir almas, ele que fora proibido de rezar missas pelo arcebispo de Fortaleza em 14.04.1886.
Dom Newton compreende e não censura a manifestação religiosa de romeiros e devotos, expressão de fé na Igreja Católica, mas aguarda – como toda a comunidade do Cariri e do Juazeiro -que o Santo Ofício revogue "a suspensão de ordens", embora o padre Cícero, por carta e até pessoalmente, tenha recorrido ao Vaticano . Há décadas que a Diocese do Crato espera uma decisão, ponto de partida para se confirme a santidade do padre Cícero, controverso, como religioso, político, líder carismático, proprietário de terras , imóveis e outros bens. No imaginário popular, "os milagres" que foram fonte do contencioso entre padre Cícero, o bispo de Fortaleza e a Santa Sé continua reforçando a devoção ao Padim Ciço no Juazeiro, no Cariri e no Nordeste, um contraponto religioso relevante diante do infortúnio dos romeiros.
Como bispo do Crato reabriu curso superior de filosofia do Seminário São José, do qual foi reitor, e que esteve fechado, incentivou as ações pastorais laicas da Igreja, reformou o Colégio Diocesano, por onde passaram várias gerações de caririenses, reorientou a radio Educadora, modernizou o Hospital São Francisco de Assis e o Centro de Expansão, local de convenções religiosas. Ordenou 30 sacerdotese abriu três novas paróquias na Diocese.
Inspirado no seu lema de bispo – "Certa bonum certamen" - Sustenta o bom combate – frase extraída de uma das Cartas de São Paulo, pelejou em todas as frentes para que a Igreja continuasse crescendo na fé na caridade.
Dom Newton pertence à estirpe da Igreja dos padres e bispos com preparo intelectual e densidade religiosa exprimindo-se com fluência para que sejam compreendidos. É humanista e culto. Foi um fiel dedicado à nova ordem da Igreja que mudou a liturgia, colocou os padres de frente para os cristãos e substituiu o latim pelo português. Fala com os olhos, ouve com atenção, respeito e paciência, aconselha. Sabe discordar sem ferir, argumentar sem gritar, é suave no trato e na vida.
Não aderiu nem como padre nem como bispo, à chamada teologia da libertação, na década de 60, movimento dos padres e bispos que queriam trocar o crucifixo pelo fuzil para operar transformações sociais com base, no socialismo marxista. Manteve-se fiel ao espírito cristão dos papas reformistas, Leão XIII, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II, jamais pactuando com as injustiças sociais que agridem a consciências dos cristãos.
Convidado por João Paulo II para assumir outra diocese recusou o convite optando por continuar no Crato perto de sua Acopiara, onde tem presença em inúmeros eventos, tendo naturalmente assumiu a liderança da família Gurgel. Há anos reúne familiares no aniversário de vida de seu pai, Chico Henrique, em 23 de agosto. No centenário de sua mãe Aurélia, convocou toda a família para as comemorações. O mesmo aconteceu mais recentemente, em 2008, nas comemorações dos 100 anos da chegada da família Gurgel do Amaral Valente à Acopiara. Incorporou-se ao encontro anual dos filhos e amigos de Acopiara.
Hoje , como bispo emérito do Crato, acredita que desempenhou sua missão com zelo, responsabilidade social. Austero, vive numa modesta casa no centro do Crato, com uma secretária, D. Lurdinha, na mesma casa em que acolheu por longo tempo sua tia, Lídia, sua 1ª. Professora, até sua morte. Desprendido, solidário, humilde, simples, mantém-se fiel às suas origens. Acolhe várias vezes no ano sua legião de irmãos que vão lhe fazer companhia. Todos os dias celebra missa na sua própria casa, e está à disposição para confissões e atendimento aos enfermos. Sabe que sua trajetória de amor a Deus e ao próximo é corolário de dignidade e admiração.
(*)JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.