Março 2009
Esse Partido Existe!
Certo dia, ali pela rua Marechal Deodoro, em Fortaleza, “cheio dos paus”, trafegava no seu Chevrolet o pediatra Alísio Mamede.
Por coincidência, mais atrás, no meu velho jipe, ia o autor destas linhas, observando o carro do médico a sacudir-se todo no calçamento esburacado.
Subitamente saltou uma das calotas do automóvel, fazendo grande barulho ao rodopiar sobre o calçamento.
Freando o jipe, saltei, apanhei a calota e fui à direção de Alísio que, meio cambaleante, também vinha na minha direção. Quando ele chegou bem na minha frente, levantou os olhos, reconheceu-me e em meio a um sorriso, parodiando Lenin, exclamou?
- Puxa! Agora vi que esse partido existe!
Oitava...
Alísio Mamede, o nosso querido e inesquecível companheiro, certa vez resolveu dar uma de comerciante. Montou uma casa de discos ali na Guilherme Rocha, em Fortaleza, bem embaixo do antigo Hotel Excelsior. Admirador da boa música, juntamente com bom repertório nacional, ali se encontrava também obras dos mais famosos clássicos.
Um dia, Alísio estava no balcão quando entra um homem e pergunta:
- O Senhor tem a oitava
- Qual a oitava, de Mozart, de Beethoven, de Schubert
- Não, é a outra...
-Outra! Qual é o autor
- Sei não...
- Não sabe bem “pedacinho” dessa oitava
- É aquela que começa assim: oitava na paneira, oitava penerando, oitava no namoro...
Muito sério, ainda profundamente decepcionado, o nosso pediatra respondeu:
- Tenho sim, senhor, está ali na coleção dos clássicos!
Carne do rabo...
Tarcisio Leitão, hoje próspero e bem situado advogado, nesse tempo era ainda estudante. Foi ele fazer um comício ali pelos lados do Poço da Draga. Falava para uma assistência de homens rudes, sofridos, de duas caras. Em meio ao comício chega uma patotinha de filhinhos do papai em suas motocas. Pararam a um lado e começaram a armar a provocação.
- Comunista, agente de Moscou! Gritava um.
- Agitador, subversivo! Proclamava outro.
Sem dar sinal de fraqueza, Tarcisio continuava sua falação. Então os “boyzinhos” ligaram os motores e foi uma zoada infernal. Ao ronco dos motores em alta aceleração, eles ainda juntavam gritos provocativos. Não seria mais possível continuar o discurso. Então Tarcisio ergueu a voz mais forte que seus pulmões puderam gerar e berrou:
- Pessoal, eles tão dizendo que vocês são carne de tripa gaitera, carne de rabo, carne de cu!
Os rudes homens do cais,como se tivesse recebido uma voz de comando, marcharam para os motoqueiros. Apavorados, eles montaram em suas barulhentas maquinas e se mandaram. Não era lá muito aconselhável esperar por aqueles robustos filhos do mar.
(*) Luciano Barreira (Quixadá), jornalista e escritor