Setembro 2009
Bárbara é udenista
Raimundo Ivan Barroso andava em peregrinao pelo serto Em funo de sua candidatura a Deputado Estadual. Homem inteligente, hbil poltico at por hereditariedade, sabia que voto tem que ser ganho um a um. Infeliz do candidato que antecipa vitria e diz: "j posso dormir descansado".
Alis, o verdadeiro poltico sabe que o voto, mesmo dentro da urna ainda no est garantido. Se no for contado um por um e fiscalizado com rigor, acaba no mapa do mais esperto, e adeus! Por aqui preciso ter cuidado, muito cuidado com a malandragem de uma justia muitas vezes corrompida.
Naquela viagem, quando Raimundo Ivan chegou ao Crato, foi feita uma reunio preparatria do comcio na casa de um chefe poltico local.
Raimundo Ivan, por sinal, com muita justeza, grande admirador da herona revolucionria cearense Brbara de Alencar, possivelmente a maior de todas as heronas brasileiras. Lembrando se de que ia falar no prprio bero de nascena da brava mulher., Raimundo Ivan afirmou ainda na reunio preparatria:
- No meu discurso vou ter que fazer algumas referncias elogiosas Brbara de Alencar, Mulher que muito admiro!
- Mas, doto, essa no! interrompeu o chefe local e completou: - a Brbara de Alencar daqui uma das mais fortes udenistas!
Proibido falar em poltica e religio
Oliveira era o dono do bot4xxo ais conhecido da rea esquerda em Fortaleza. Quixadaense de Tapuiar. Eu o conhecia h muito tempo. Desde o "O Democrata" tomvamos umas caninhas ali no seu botequim, localizado na Guilherme Rocha, pertinho do Senador Pompeu.
No Oliveira, a tribuna popular era livre, mesmo quando no podia ser na rua, sobretudo nas praas. L se davam grandes debates. Isso antes do golpe militar que varreu a democracia no nosso pas.
Quando o golpe rebentou em Minas, inicialmente muita gente ainda acreditava na reao do dispositivo militar de Jango. Alguns acreditavam que haveria resistncia ao golpe em vrias regies do pas, sobretudo em Braslia, a cabea do poder, onde se falava em resistncia armada por parte dos sargentos. Mas o golpe de 1 de abril, j no dia trs estava praticamente consolidado.
Do dia 1 ao dia trs, a liberdade ainda foi rainha no bar do Oliveira. Mas quando os militares comearam a pisotear a Constituio, a editar os famigerados Atos Institucionais e a abarrotarem as cadeias e quartis dos melhores patriotas e o Congresso Nacional, Assemblia Legislativa e Cmara Municipais tiveram cassados os melhores representantes do nosso povo, o Oliveira, prudentemente, comprou um pincel atmico azul (antes ali os aviso apareciam eram em vermelho), escreveu numa tbua que logo foi afixada na estrada do bar: "Expressamente proibido discutir poltica ou religio".
Foi uma pena. Caira em Fortaleza o ltimo reduto da democracia.
Um materialista
Minervino era uma figura muito conhecida na Fortaleza da outrora. Negociava na rua do Rosrio, onde tinha uma loja de pssaros. S vendia pssaros e aquilo que lhes dizia respeito, como gaiolas,alapes,alpiste,paino,xerm de milho etc.
Minervino se dizia de "esquerda" mas no era "organizado". No fazia nada, seno conversar... Mas era um anticlerical dos Mais intrandigentes adorava anedotas de vigrios afirmava-se Materialista "s creio naquilo que cientificamente comprovado", era o que dizia e completava: "at o que a cincia no comprova hoje, amanh haver de explicar, pois o desenvolvimento nada mais do que a busca da verdade".
Acontece que um dia, um dos fregueses do Minervino, que lhe comprava pssaros e seus alimentos, ao passar pelo oratrio ainda hoje existente atrs da Igreja do Corao de Jesus, l estava Minervino ajoelhado, rezando contritamente de mos postas e Lbios trementes... O amigo tocou no ombro de Minervino e perguntou a queima roupa, assim que ele se voltou:
- Que materialista esse! Reza chega bate como beios... Minervino, cad o ateu, o discrente?
-Pois respondeu o materialista rezador- uns rezam para crer E outros para discrer!
(*) Luciano Barreira (Quixadá), jornalista e escritor