Agosto 2012
O Grande Passo
José Leão Filho (*)
Nonna, prega per me. Io adesso vado a dare Il grande passo dell’uomo sulla terra.
Colombo, com genovesa e naval elegância, mirou o céu e o horizonte e desligou o celular. Na fronteira da Renascença, antegozou a peixada da Renata em Brazlândia. E seguiu à direita, tomando a DF-450.
Já tinha cumprido, aos 41 anos, a aborrecida tarefa de descobrir a América, longe de prever que nosso Presidente, alheio á assessoria, ia falar mais que Pero Vaz de Caminha quando este, desabrido, mostrara a El Rey o primeiro vídeo de nossa nudez nacional.
Muitos supõem que Colombo, agora com 73 anos, teria desaparecido há oito anos. Bobagem: é que nesse comenos ele tentava fundar um banco nas Caimans – o Discovery Limited -, algo afinal fracassado, pois o navegante, muito cabeçudo e nada veneziano, se recusava a associar uma lavanderia ao negócio, como queria um pessoal graúdo bem ao sul, gente fina que o honesto Mem de Sá resguardava para não melar a glória de suas reformas – sempre houve reformas na região, desde a globalização iniciada pelas três caravelas.
Tempos antes, enquanto a equipagem da armada espanhola se distraía a catar coquinhos no interior longe da praia, Colombo reuniu alguns marujos de sua turma. A bordo da Santa Maria, abasteceu-se de rum e, na maior mordomia, inaugurou os passeios em veículos oficiais, singrando em velas pandas para o Sul. Tendo fundeado junto à ilha brasileira de Vitória, o genovês foi ao pé da serra e raptou a gaulesinha Françoise, sobrinha do almirante Nicolas Durand de Villegaignon, numa aldeia tamoio, a exclamar merci beaucoup, s’il vous plait e olalá.
De volta à praia caribenha, Colombo montou big cobertura com vista para o calipso e as gaivotas e, durante um campeonato de jet-ski, se casou com Franci – assim ele derretidamente a chama, desde que passaram a lua- de-mel ao som de Caetano e lendo Tio Patinhas em seu condado no Ceará, herdado dos tempos do assédio espanhol, época em que a família se ligou aos portugueses Souza, adotando-lhes o sobrenome para confundir as origens peninsulares. Foi quando o italiano, calçando apercatas para as compras na feira, fez amizade com um cristão-novo outrora perseguido pela Inquisição. Era o louro Luciano, que tocava uma olaria nos barreiros atrás da praia de Iracema. Esse cabra, da estirpe que geraria Espinoza – O Baruch afinal Bento -, bem que merecia um capítulo à parte nesta crônica, sobretudo por causa da escondida sinagoga que construiu aos fundos com o resto dos tijolos e telhas da capela, para afinal abandonar tudo em favor de um sonho futurista e perigoso.
Pelas montanhas de Gênova e Savona, perdendo-se no mar, correu o grito jubiloso da velha avó. O neto ia dar ‘’il grande passo dell’uomo sulla terra’’. Aqui, o peixe fumegante, as latinhas na geladeira e o mais esperavam na manhã diáfana de Brazlândia. História é História!
(*) José Leão de Souza Filho, jornalista, redator, dos primeiros tempos do Correio Braziliense - Boemio, juntamente com Luciano Barreira, José Helder Souza, Queiroz Campos e outros gostavam de prolongar a noite em bares da nascente Asa Norte falando de Valkirias e balalaikas e das noites da Leste Europeu - José Leão foi vencedor do primeiro prêmio ESSO em 1961, coisa que ele repudiava pois a sua crença socialista não permitia tal desfrute. Mandado publicar por José Colombo de Souza Filho (Fortaleza).