Setembro 2008
Revolucionário que caga em penico
O Pio tinha em Quixadá uma casa bastante grande com amplo quintal.O quintal foi por longo tempo transformado em depósito de lixo. A grande quantidade de matéria orgânica fertilizou o quintal onde nasceu uma verdadeira mata de carrapateiras e outras plantas.
As instalações sanitárias da casa do Pio de há muito estavam interditadas. Utilizava-se como latrina um quartinho que havia muito bem no fundo do quintal. Para chegar-se lá tinha que ser por verdadeira picada através do espesso mato.
Um dia chegou a Quixadá um jovem universitário que ficou hospedado na casa do Pio. O moço assim que viu a latrina interditada foi logo perguntando:
- Onde a gente se desaperta?
- Lá no fundo quintal – respondeu o dono da casa, apontando o teto da distante casinha.
- É duro chegar-se lá de noite no meio de tanto mato, não é?
- O pior é que no quintal , vez outra, estão aparecendo uma jararaquinhas e uns “lacraus” – informou Pio, que adorava fazer uma perversidade daquelas.
Poucas horas depois , certamente devido ao clima psicológico criado, o jovem universitário já sentia umas insistentes ferroadinhas nos intestinos. Temeroso colocou o problema:
- Pio, parece que ando meio precisando... mas confesso, cadê coragem para entrar nesse matagal...será que não há jeito de s arranjar ao menos um penico para quebrar o galho?
- Arranjar o penico a gente arranja. Mas vou te dizer que não posso acreditar em revolucionário que caga em penico! Com tais revolucionários, adeus revolução!
Cagada Matinal
Nos primeiros dias de abril de 1964, o dia ainda não amanhecera, quando chegou á casa do Américo, uma patrulha militar para prendê-lo. Quem primeiro notou a casa cercada de homens armados de metralhadora foi Laís, minha cunhada.
O capitão que comandava, um sargento e os soldados subiram os batentes da casa da Napoleão Laureano. Bateram na porta com coices de armas. Américo abriu:
- O que desejam os senhores?
- Viemos prendê-lo, dr. Américo, o seu irmão Luciano acaso está por aqui?
- Não, meu irmão Luciano não está aqui...
O comandante da patrulha do Exército Brasileiro declarou solenemente :
- Dr. Américo esteja preso em nome da Revolução!
- Américo que devia tr enorme desprezo por tamanha estupidez, respondeu tranqüilo:
- E o mandado de prisão, capitão?
O capitão riu e, em poucas palavras, pretendeu explicar que os tempos estavam mudados:
- Não tem mais esse negócio de mandado, não, dr. Américo. Agora nos é que somos a lei!
A família toda chegara para a área onde a cena se desenrolava. Olenka, a mocinha de olhos azuis, fuzilou os militares com os olhos e gritou:
- Canalhas!
Os soldados brasileiros, que naqueles dias andavam país afora pisoteando leis e a Constituição, fizeram que não tinham ouvido o protesto da menina. Mas quando o rapazinho de 15 anos protestou também, um sargento lhe apresentou uma metralhadora. Percebendo-o Américo advertiu:
- Não adianta falar agora, filho, o argumento deles por enquanto é mais forte... Capitão, sou advogado e quero protestar contra a violação do meu lar alta madrugada. Quero protestar contra a instauração no meu país de um regime de força, apoiado na armadas que um dia foram compradas com dinheiro do povo brasileiro! Quero protestar diante de minha mulher e sobretudo dos meus filhos que são jovens e terão muita responsabilidade com relação ao futuro da nossa Pátria. Capitão! Só é legítimo o poder que emana do povo! Jamais terá legitimidade um poder que só se apóia nas miras das metralhadoras nos fuzis e nas pontas das baionetas!
- Estou cumprindo um dever... Obedeço a meus chefes, cumpro ordens – desculpou o jovem oficial que no mínimo poderia estar envergonhado.
- Então, permita que eu entre capitão. Vou me preparar para acompanhá-lo.
- Doutor, terei que acompanhá-lo para onde o senhor for de agora em diante. O senhor é meu prisioneiro, terei de acompanhá-lo!
- Então, capitão, venha. O senhor está convidado para acompanhar-me até a privada para assistir a minha cagada matinal.