Março 2009
Um recanto dentro da noite
O Lustosa da Costa pede que escreva sobre a boite Alabama, uma das primeiras a funcionar em Fortaleza. Me socorro do Narcélio Limaverde, o nosso Google.
Aí lembrei que aqui em Brasília moro na casa que o dono da boite, o Antônio Pompeu, construía para morar. Depois que vendeu a boite, Pompeuzinho mudou-se para Brasília. Antes de concluir a casa desapareceu da obra. Foi encontrado morto no apartamento que tinha na Asa Norte. Nunca se soube o que aconteceu.
O carro dele desapareceu. Morte trágica para um homem que viveu parte da vida em meio à música, amigos e mulheres bonitas.
A boite Alabama ficava ali onde hoje é o hotel Esplanada. A freqüência era a mais refinada possível. Toda quinta feira, o radialista Irapuan Lima transmitia pela rádio Iracema, direto da Alabama, “um recanto agradável dentro da noite calma”
A rapaziada em Fortaleza, no inicio dos anos 60, freqüentava mesmo era as pensões do centro da cidade. A boite Alabama veio mudar o estilo de diversão da moçada. Na boite tomava-se um drinque, dançava-se ao som de uma boa música. Tudo na penumbra. Podiam levar à namorada. Paulo Tarso, que tocava um violão elétrico de quatro cordas, fazia o som com seu conjunto. Paulo havia participado dos Vocalistas Tropicais. O Carlos Alberto Laranjeira, que cantava também nos programas de auditório da Rádio Iracema, se apresentava quase todas as noites. Digo quase porque nas quintas a atração era Joran Coelho. Segundo o Narcélio Limaverde, Joran conquistava os freqüentadores da boite, principalmente quando cantava Molambo (“Eu sei que vocês vão dizer que é tudo mentira.”)
O garçom mais famoso era o Simbá. Era ele quem atendia os radialistas e jornalistas que apareciam por lá, todos lisos, mas cheios de boas intenções. O Antônio Pompeu tinha um quarto anexado à boite.
As paredes eram cheias de papeis e cheques. O Narcélio jura que eram os vales e cheques voadores dos radialistas e jornalistas que decoravam as paredes do local.
A boite fechou pressionada pelo progresso. No local foi erguido o hotel Esplanada, depois vendido e hoje passando por uma lenta e gradual reforma.
O garçom Simbá virou dono de restaurante na Beira Mar. O Pompeuzinho, em Brasília, montou uma loja de molduras para retratos, espelhos. A casa que era dele foi concluída por mim depois que a comprei dos herdeiros. Hoje, quando estou em casa nos fins de semana, vez por outra, preparo uma dose de rum com coca-cola, que era a bebida da época, e coloco o disco da Elizeth Cardoso pra tocar. A faixa é Molambo, samba canção de Jaime Thomás e Augusto Mesquita que foi sucesso desde o momento em que foi gravado pela primeira vez em 1953. Fico recordando a boite Alabama, que marcou toda uma geração de fortalezenses. Fecho os olhos e parece que estou vendo o Pompeuzinho, todo solicito, olhando para todos os lados para ver se falta alguma coisa. É quando a voz da Elizeth vai mudando... aí começo a ouvir o Joran Coelho, com aquele bigodinho de ator do cinema mudo, cantando com aquele vozeirão: “... ficou pra matar a saudade/ A tremenda saudade que não me deixou....”
(*) Wilsom Ibiapina (Ibiapina), jornalista