Abril 2013
Zé Tatá, esse era macho
Aquele viaduto que passa ao lado do Forte Nossa Senhora de Assunção, em Fortaleza, foi batizado pelo povo de Tatazão em homenagem ao rei da noite de Fortaleza nos anos 50 e 60. José Vicente de Carvalho era empresário da noite. Possuía várias casas noturnas, como as pensões Ubirajara, Hollywood e Tabariz. Ficaram famosas por causa do dono e entraram na história boemia da cidade. Com quase dois metros de altura e pesando uns 120 quilos, era figura de destaque no carnaval de rua. Desfilava no bloco das baianas, vestida de Carmem Miranda. Ele era de uma época em que ser homossexual era coisa do outro mundo. Pois era assumido. Usava sandálias femininas e andava se requebrando, distribuindo simpatia de lesta a oeste, sob o olhar curioso das pessoas. Acredite, nunca um gaiato teve coragem de fazer piada, soltar uma pilhéria.
Foi o baitola mais macho que já apareceu no Ceará. Ninguém era doido pra fazer gracinha com ele. Sua fama de brigão atravessou as divisas do Ceará como você pode comprovar nessa história que o Macário Batista está contando no blog dele:
“Nosso saudoso Zé Tatá, sobralense ilustre, dono de uma pensão alegre que guardava e garantia o trabalho de meninas de vida...vamos dizer...livre pra não falar fácil (fácil?)
Pois bem. Veio do Recife para Fortaleza um time de futebol e no time um carinha metido a besta, desses pernambucanos que no passado achavam que o mundo começava e terminava entre as doenças do Capibaribe e do Beberibe.
Depois do jogo procurou um lupanar e foi cair na Pensão do Zé Tatá.
Bebeu, dançou, foi pro quarto com uma das meninas, apalpou desagradavelmente outras tantas e no fim botou boneco. Não queria pagar.
Era coisa de três horas da manhã e o tal cavalheiro começou a esculhambar com todo mundo, gritando que no Ceará não tinha homem, que macho alí só tinha ele e que não ia pagar coisa nenhuma e essas coisas que todo bonequeiro faz. Uma das meninas foi acordar o Zé Tatá e contou.
Tatá subiu nos tamancos e foi ao salão. Quando o valentão viu aquele armário (quase dois metros
de altura por dois de largura e pelo menos um de fundos) tentou afinar. Zé Tatá limitou-se a dar-lhe uma patada que jogou o tal pernambucano na metade da escada já gemendo de dor. Zé desceu e foi chutando o besta até a porta. Lá embaixo, com o cara de cara amassada, costela quebrada, coração parando.
Zé Tatá pegou o cabra pelas bitacas, e deu-lhe a porrada de misericórdia, não sem antes avisar; Vá seu corno. E diga lá no Recife que no Ceará levou uma surra de um Viado.”
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista