Boa madrugada, sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Casa do Ceará

Imprima




Ouça aqui o Hino do Estado do Ceará



Instituições Parceiras


































:: Jornal Ceará em Brasília


::Odontoclínica
Untitled Document

Novembro 2009

Homem total


O carro corria , normalmente, pela Esplanada dos Ministérios, com um bom desempenho, aparentemente sem problema algum. Fechado o sinal de trânsito, obrigada a parar, de repente o motor silenciou. Quando o verde acendeu, apesar das inúmeras tentativas, abrindo e fechando a ignição, afundando o pé no acelerador, puxando o afogador, o carro relutou, imóvel! Indiferente às minhas íntimas súplicas e ao meu esforço.

Mas, de repente, caprichoso, aceitou a última tentativa, e se pôs em movimento, para alívio meu e dos que estavam atrás, protestando, buzinando insistentemente. Adiante, contudo, no próximo sinal, enguiçou de vez. E me vi no meio de um trânsito engarrafado, surpresa, e medrosa, pelo mal que involuntariamente causava! Em questão de segundos se empilhavam

Os carros, apressados querendo passar! Pareciam todos atrasados para pegar um avião, um trem, ou preocupados em assistir os últimos momentos de alguém muito querido! O motorista do gigantesco ônibus, de punhos cerrados e vociferando, quase se atirou sobre o carro da mocinha que se desviou um pouco mais para a direita! E desorientada, em pânico, me senti uma ré, cercada por centenas de máquinas ameaçadoras e mil olhos acusando!

Foi quando, num carro que passou rente ao meu, uma voz gritou:"_ Quer ajuda?" ao que respondi, de pronto, sem vacilar, no mesmo tom: "_Demais!" E vi quando se afastando, fugindo do trânsito, o carro se encostou na amurada do viaduto, e parou. Ah! Quase cantei aleluia, tendo ali um salvador. Cavaleiro da Távola Redonda.

Os olhos fixos naquele que oferecera auxílio, aguardei que abrisse a porta do veículo e rápido viesse prestar socorro.No exato instante, um arrepio me percorreu o corpo inteiro, tamanha a emoção! Eu não podia acreditar no que os meus olhos viam. Tranqüilo, ao sair do carro, encostou primeiramente as duas muletas na lateral do veículo. E com grande dignidade, cabeça erguida como quem enfrenta difícil peleja, veio ao meu encontro.Firmemente segurava o aro de aço que empunhava em volta das mãos para dar equilíbrio ao corpo, que as pernas, bambas, não lhe ofereciam apoio. E caminhava com dificuldade, agredido visivelmente, mas solene, por entre aquela louca procissão de carros.

Em pleno uso da força pela lei da compensação, em pleno uso das faculdades, superava a deficiência e as limitações, e se acercou como se não estivesse fazendo algo extraordinário, uma façanha inesquecível! Em chegando, outra vez encostou as muletas e se lançou no assento do carro para procurar a causa da repentina parada. Era extraordinário o fato e ele nem se apercebia! Não pela tentativa de ajudar um motorista, companheiro de trajeto, fato corriqueiro nas estradas, mas por ser entre aquela multidão, exatamente ele, deficiente, agredido fisicamente, sem o controle das pernas e caminhando só com o auxílio das muletas, o único a oferecer ajuda, apoio, segurança!Não tendo, em igualdade com os demais, firmeza e equilíbrio, superava as limitações, e dava uma demonstração de solidariedade absoluta, apesar da sua aparente fragilidade.

Humilde, quase a lhe pedir desculpas pelo esforço que involuntariamente lhe pedia, surpresa, acompanhei cada movimento e cada gesto que fazia.

Por certo ele cantava vitória, intimamente feliz, e muito mais, eu, pela constatação da força interior que traz o homem dentro de si, e do homem pleno que cada um pode levar, tornando evidente que essa força é espiritual, e que o corpo complementa e manifesta.

Ao socorro, outros circunstantes se juntaram. E a pane foi vencida.Ao retomar o caminho de casa, embora assustada e aturdida, o coração entoava um hino de alegria, pelo privilégio de, naquele começo de noite, ter me deparado, frente a frente, com um homem total. Acima do seu corpo mutilado fulgia um espírito indomável, temperado por uma sofrida determinação

(*) Regina Stella (Fortaleza), jornalista e escritora.

 

Untitled Document

Regina Stella S. Quintas
Jornalista e Escritora
studartquintas@hotmail.com

                                            
:: Outras edições ::

> 2015

– Outubro
Camaleões à solta

–Setembro
Um instante de Solidariedade

> 2015

– Novembro
Coronel Chichio

– Outubro
Uma ponte...

– Setembro
Um verbo para o encantamento

– Agosto
Há vida lá fora...

> 2014

– Setembro
Seca: a tragédia se repete
– Agosto
Seca: a tragédia se repete
– Julho
Gente brava
– Junho
Dia da Alegria
– Maio
Precioso bem
– Abril
Aquele velho “OSCAR”
– Março
Estórias de sertão, estórias de cangaço
– Fevereiro
Recado para quem sai
– Janeiro
Rota para a vida

> 2013

– Dezembro
Na festa do tempo, um brinde à vida
– Novembro
Em velha trova do tempo. Trinta dias tem setembro. Abril, junho, novembro...
– Outubro
O Gênio e o Homem
– Agosto
O Gênio e o Homem
– Julho
Um presente de vida a Mandela!
– Junho
Dia da Alegria
– Maio
Precioso bem
– Abril
Aquele velho “OSCAR”
– Março
Estórias de sertão, estórias de cangaço
– Fevereiro
Recado para quem sai
– Janeiro
Rota para a vida

> 2012

– Dezembro
As lições de amor e ternura fazem eterno o Natal
– Novembro
As luzes estão acesas
– Outubro
Amarga ironia
– Setembro
O trono vazio
– Agosto
A última trincheira
– Julho
Parece que foi ontem...
– Junho
Atores de todos os tempos
– Maio
Seca: a tragédia se repete
– Abril
Imaginação ou realidade?
– Março
Um Século de Sabedoria
– Fevereiro
Trágedia e Carnaval

> 2011

– Novembro
Trilhas da vida
– Setembro
Um mercenário a caminho
– Agosto
Usar sem abusar
– Julho
Como as aves do céu
– Maio
Quem se lembra de Chernobil?
– Junho
Sino, coração da aldeia...
– Maio
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
– Abril
Bonn, Bonn
– Fevereiro
Depois da festa...
– Janeiro
Um brinde ao Novo Ano

> 2010

– Dezembro
Nos limites de um presente,um presente sem limites
– Novembro
Homem total
– Outubro
Estórias de sertão, estórias de cangaço
– Setembro
Um tempo que se perdeu
– Agosto
Império do Medo
– Julho
Acenos de Esperança
– Junho
Maio, cada vez menos Mês de Maria, está indo embora...
– Maio
Poema Impossível
– Março
Numa tarde de verão
–Fevereiro
Caminhos de ontem
– Janeiro
Muros de Argila

> 2009

– Dezembro
Um Brinde à Vida
– Novembro
A vez da vida
– Outubro
Gente brava
– Setembro
Gente brava
– Agosto
Lição de vida no diálogo dos bilros
– Julho
Camaleões à solta
– Junho
Síndrome de papel carbono
– Maio
Um tempo que se perdeu


:: Veja Também ::

Blog do Ayrton Rocha
Blog do Edmilson Caminha
Blog do Presidente
Humor Negro & Branco Humor
Fernando Gurgel Filho
JB Serra e Gurgel
José Colombo de Souza Filho
José Jezer de Oliveira
Luciano Barreira
Lustosa da Costa
Regina Stella
Wilson Ibiapina
















SGAN Quadra 910 Conjunto F Asa Norte | Brasília-DF | CEP 70.790-100 | Fone: 3533-3800 | Whatsapp 61 995643484
E-mail: casadoceara@casadoceara.org.br
- Copyright@ - 2006/2007 - CASA DO CEARÁ EM BRASÍLIA -