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Junho 2009

Os Manguitos das Moças de Sobral


A copia servil das roupas européias no tropico não constitui novidade. O colonizado, por imposição ou por imitação, tende a idealizar os hábitos e os costumes do colonizador, seja como pessoa física,seja como autoridade. Basta atentar para o desfile de tropas africanas, que, às vezes, a gente vê na televisão para sentir o sacrifício dos negros com os pés apertados em suas botinas, o corpo igualmente vitima de roupas de estilo e, principalmente, tecido de climas frios, transpostos para o calor infernal em que vivem.

Antigmente nossos soldados não usavam quepes de metal!Talvez fosse para defendê-los do frio aqui existente, igual ao da Criméia, da Sibéria?

Gilberto Freyre fala dos tempos coloniais ou mesmo imperiais em que o brasileiro se enfarpelava como o europeu, trajando fraques de casimira inglesa, colete e portando cartolas à cabeça. A mulher era levada aos mesmos sacrifícios.

Em Sobral do meu tempo, a coisa não era diferente.

Estavam longe os tempos em que os sacerdotes usariam batinas de tecido leve e cores claras. Ou roupas civis, isto é, igual à de nós outros, seus clientes, os pecadores.

Na minha infância todos os padres vestiam batinas negras, de fazenda pesada e traziam, ao pescoço, incômodos colarinhos de plásticos sem falar em chapéus duros, pesados, armados.

O bispo, dom José, não admitia, sequer, que os padres de sua diocese deixassem aparecer às pernas das calças que vestiam. Exigia, além disso, que por cima das batinas pretas os padres se cobrissem com sobretudos de fazenda pesada, usados, na Europa como defesa contra o frio. Ele ficou chateado ao saber que o padre Austregésilo que terminou a vida como bispo, não usava sobretudo e comentou: Padre velho esgulepado”. O ideal era o padre José Lourenço Araújo ,capaz de se deslocar, meio dia em ponto,do seminário ate o outro lado da cidade, de cabeça,sobretudo sobre a batina.

***

No tocante às mulheres as exigências eram maiores. Prendia se, de certa forma, a inibição do sexo pela Igreja Católica que proibia dançar o carnaval nos salões e o “coco” nos subúrbios e não via, com simpatia, a dança pela aproximação física dos casais.

As filhas de Maria sofriam o diabo naquele clima. Naquele calorão eram obrigadas a roupas verdadeiramente incômodas. Não podiam, além disso, ir nem ao “sereno” das festas, isto é, acompanhar, da calçada dos clubes ou das residências, o espetáculo da entrada dos que iam se divertir. O vestido era de mangas compridas e a meia ia até os joelhos. Tinham de usar, ainda, combinação que cobrisse até três quartos do braço. “Era melhor ser logo freira”, queixa-se ainda hoje Maria Dias Ibiapina.

Havia um pouco mais de liberalidade para as moças da Ação Católica, a quem era permitido usar vestidos com mangas 3/4.

As senhoritas da sociedade acharam rapidamente uma saída para satisfazer a vaidade sem ir para o inferno. Inventaram os “rnanguitos”, uns canudos de pano, às vezes diferente do vestido, com que cobriam os braços, apenas quando se encontravam no interior da Igreja. À saída, se descobriam, fugindo do calor insuportável.

A grande guerra do Bispo e do clero era, não apenas contra as mangas curtas de blusas e vestidos, como também contra os decotes. Chegavam a negar o sacramento da comunhão às senhoras que se apresentassem para receber a hóstia, com o colo a descoberto.

A propósito, conta-se estória que ilustra bem as perplexidades do clero com a atração e repulsa pela visão dos seios das penitentes. Conta- se que monsenhor Fontenelle, conhecido pela obediência que tinha para com tais imposições do bispo, falava, em seus sermões, contra as mulheres que se apresentassem, ante a mesa da comunhão, com decotes generosos, deixando entrever parte dos seios.

“Não venham com grandes decotes à comunhão. Como é que faço se, por acaso, a hóstia cai ali no interior dos vestidos? Ninguém, exceto o padre, pode tocar na hóstia, transformada no corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se ela cai, entre os seios de uma moça ou senhora, fica ali ou sou obrigado a meter a mão para recuperá-la?“

Alias, monsenhor Fontenelle era um dos padres mais sensíveis à pregação repressiva do Bispo. Certa feita, ainda era vigário de Ipueiras e recebeu, ali, a visita de dom José. Ao final da tarde, o bispo cobrou: Agora vamos jantar”

Padre Fontenelle disse que não havia onde jantar. Em sua casa não podia “O senhor não proibiu aos padres terem cozinheira?!”. Monsenhor Fontenelle: Vou pedir a vocês, senhoras, que vem dizer, na confissão, haver cometido o pecado da inveja. Inveja tenho eu do padre Palhano no gostosão do bispo” referia-se ao automóvel de luxo da Diocese, pilotado por Palhano, o favorito da primeira autoridade eclesiástica de Sobral.

Do mesmo Mons. Fontenelle, explicando porque mantinha, como era praxe à época, homens e mulheres (mesmo casados) no interior do templo em que celebrava o santo sacrifício da missa:

“Só deixo misturar homem com mulher quando o fogo se acostumar com a pólvora”.

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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.


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Lustosa da Costa
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