Agosto 2011
Gente assim torna o mundo melhor
Menino timido, morto de encabulado, na
adolescência frequentava duas casas de pais de
amigos. Uma de Antonio e Oswaldo Rangel onde
gozava da hospitalidade dos pais e da abacatada
que a mãe, Alfa, preparava no liquidificador da
casa, objeto ainda raro na cidade.A outra era de
Dalva e Agenor Rodrigues, pais de Helio Rodrigues.
Foi ali que tomei o primeiro pileque da
existência e que me valeu, além de reprimenda
paterna, gelo demorado de seu Costa, quebrado
somente por interferência de padre amigo dele,
acho que Marconi Montezuma. Helio foi um dos
mais brilhantes colegas que me honrou com sua
amizade, enquanto estudamos juntos.
Livros preciosos
Não ia à casa de Helio apenas beber, não.O que
somente ocorreu,uma vez. O que me deliciava,
ali, afora, a boa companhia do amigo e colega
um dos mais brilhantes que conheci em toda a
existência, era a estante de seu pai. Neste móvel
descobri grandes riquezas que fizeram feliz aquele
período da existência. Foi lá que travei conhecimento
com os personagens de “Contraponto”,
de Aldous Huxley convivência aristocrática me
enchia de orgulho. Li também da biblioteca da
casa do amigo,” Servidão Humana”, de Somerset
Maughan, em que me babei de chorar, pelo chifre
que Mildred colocava na cabeça do Philip. Outro
deslumbramento foi com a ouriversaria verbal de Oscar Wilde de que li “O retrato de Dorian Gray.”
Foram momentos inesquecíveis de minha vida.
Afetuosos
Dalva e Agenor não eram apenas anfitriões afetuosos.
Davam exemplos com a vida modesta que
levavam. Contava-se na cidade que ele, representante
de um moinho de trigo de Recife, quando estava
para receber mercadoria,mandava avisava a todos
os pequenos padeiros da cidade.Sem esquecer um
só.Para não permitir ágio sobre o produto.
Uma vez, estava ele em seu escritório quando
chegou milionário da cidade para lhe fazer proposta.
Entregar lhe todo o estoque de trigo recebido para
que ele o revendesse, com exclusividade, em troca
de gorda propina.
Contavam os empregados que, repelido em sua
proposta, o comerciante saiu aos gritos:
“Vai morrer, pobre e besta. Aliás pobre de besta”
Dona Dalva em voz baixa, sem grosseria, sem
afetação, apenas murmurou para os empregados:
`Pobre mas honesto”.
Eles eram assim corretos, sem afetação, sem
gabolices.
***
Um dia destes recebi e-mail de Ivan, engenheiro,
filho deles, dizendo que sua filha médica, Estefania
Bojone, casada com médico, morava no único imóvel
de minha propriedade que alugo. Na resposta,
registrei que tinha pena de saber disso porque antes,
muito antes de possuir tão preciosa informação, havia
dirigido carta à imobiliária, encarregada do imóvel, de dez de setembro, quando terminava o contrato.
Um dia destes estava com Raquel visitando a avô
quando recebi email da filha dela, minha inquilina,
anunciando que já estava, agora, em junho muito
antes do prazo, me entregando o apartamento.Isto
num comunicado elegante,pela discrição. Ai vi o
peso da herança de meus amigos Dalva e Agenor
Rodrigues cujas lições os descendentes captaram
e apreenderam. É bom que o mundo possua gente
assim.Como possuiu no passado.
Bebida
Dona Dolores, de primeiro, ficava danada da
vida quando falava eu, em minhas crônicas, de
mulheres e pileques do passado. Tinha e tem razão.
Sou mau exemplo para a juventude porque
ainda não me acudiram os castigos divinos que
incidem sobre os que cultuam Baco. Bebi a vida
inteira, sábado, domingo, dias santos e feriados
em quantidades industriais. Jamais deixei de escrever
minha coluna ou pedi à mulher que dissesse
que estava tão rouco que não podia nem explicar
porque não ia trabalhar. Nunca perdi o emprego,
por causa da bebida. Talvez haja sido demitido de
O Estado de S.Paulo, com 27 colegas, por incompetência,
depois de quinze anos de serviços à casa.
Os Mesquita precisaram deste tempo todo para
descobrir que mau jornalista eu era. Aos olhos da plutocracia (arruinada) de S.Paulo.
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(*) Lustosa da Costa (Sobral), jornalista e escritor.